Passando os meus dias na faixa de Gaza

Diogo Bercito
Tração animal, ainda comum nas ruas de Gaza. Crédito Joel Silva/Folhapress

Apesar de Gaza estar a duas horas de viagem de minha casa, em Jerusalém, vir a esta cidade no que foi um dia a Palestina do mandato britânico tem um quê de viagem internacional. É preciso negociar, antes, um visto de permissão da facção militante Hamas, que domina a faixa. Depois, fazer as malas e programar-se para as eventualidades, já que as fronteiras nem sempre estão abertas. Então vem a passagem entre Israel e Gaza –um terminal como o dos aeroportos, em termos de segurança, apesar de estar distopicamente vazio. Por último, dois quilômetros a pé entre o posto israelense e o palestino. Estou de volta.

As questões políticas que motivaram esta visita vão ser publicadas na edição impressa da Folha, nos próximos dias. Pensei então em aproveitar este espaço para expôr algumas das fotografias que meu colega Joel Silva, que está me acompanhando nesta empreitada, fez nos últimos dias. Também para dividir com vocês a experiência que, tenho certeza, diversos dos leitores gostariam de conhecer mais a fundo. Em especial em termos históricos.

Possivelmente o observador contemporâneo pensa em Gaza como o fruto de diversos eventos recentes, como a criação do Estado de Israel, em 1948, e as guerras de 1967, 1973, 2008 e 2012. Este árido estreito de terra é, de certa maneira, o resultado da ocupação, do bloqueio e da inação internacional. Mas gosto de pensar também no outro lugar que já foi Gaza, enquanto ando pelas ruas desta cidade –um dos olhos da Antiguidade, observando a ascensão e a queda das dinastias expansionistas, enquanto sua praia é lavada pelas águas do Mediterrâneo.

Gaza foi, em seus milênios de história, um importante porto regional, de onde partiam, por exemplo, navios carregados de incenso para abastecer as libações regionais. A cidade foi controlada por egípcios, filisteus, israelitas e assírios, nos tempos longínquos. Alexandre, o Grande, sitiou suas muralhas. Um centro do ensino helenista, Gaza foi a primeira cidade palestina a ser tomada pelos Exércitos islâmicos dos califas rashidun, após a morte do profeta Maomé. A história, aqui, manteve seu “h” maiúsculo. De maneira que é frustrante e de certa feita melancólico imaginar que esses caminhos imperiais são, hoje, um dos símbolos da privação e do terrorismo.

Manifestação de crianças, em Gaza. “Não podemos estudar”; “Gaza sem eletricidade, até quando?”. Crédito Joel Silva/Folhapress
Carroça compartilhada, nas ruas de Gaza. Crédito Joel Silva/Folhapress
Bananas israelenses vendidas em um mercado de Gaza. Crédito Joel Silva/Folhapress
À noite, em Gaza. Em meio a blecautes, a luz é um luxo. Crédito Joel Silva/Folhapress
Vendedores de chá, ao sul da cidade de Gaza. Crédito Joel Silva/Folhapress

Comentários

  1. Lá luz é um luxo. Pois é, enquanto isso por aqui, um monte de gente desperdiça luz violentamente e ainda reclama da vida.

    Claro, há muitos lugares neste imenso país que ainda não tem energia, mas que há muita gente perdulária isso há.

    1. Assim como o Vittorio Arrigoni,que misturou pacifismo estilo esquerdoide com antissionismo e terminou como idiota útil morto.

  2. Infelizmente eles estão dominados pelo Hamas, um grupo terrorista.
    Tenho pena dos moradores de Gaza…
    Quando conseguem entrar com Cimento, o que constroem?
    Escolas? Hospitais? Não…
    Um túnel Kilométrico para tentar fazer golpes terroristas em Israel… como lidar com estes terroristas do Hamas que se apoderaram da Faixa de Gaza?

  3. O que essa banana israelense está fazendo em Gaza? Quando Israel nasceu, as bananas árabes eram de dinamite.

  4. Espero que as conversas com os dirigentes do hamas nos tragam notícias alvissareiras.
    Como : mudarem dos estatutos a destruição de Israel, abandonarem o terrorismo e tentarem trabalhar pela paz na região.
    E a melhor das boas novas, que passarão a usar as toneladas de cimento doadas para fazerem casas, hospitais e escolas, ao invés de usa-las na construção de túneis para atingirem solo israelense com o terror costumeiro.

  5. Diogo,
    Tenho uma sugestao:
    Na proxima vez, pede para o Joel tirar umas fotos de algum lugar ou pessoas bonito(as) em gaza.
    Estas fotos sao interessantes mas acredito que gaza e’ muito mais do que foi mostrado por aqui.
    Nos queremos aprender!

  6. Deve ser mesmo dura a vida em Gaza, sitiada pelo Estado terrorista de Israel e esquecida pela comunidade internacional.

  7. Diego, cheeeeega de Gaza! Vem para o apagão do nosso nordeste. Não foi com velas nem padarias do Hamas que fizeram a centena de foguetes que jogaram em Israel. Chora um pouco tambem por Bangladesh, Tibet, etc.
    Moacyr

  8. Crianças com cartazes prontos, bem utilizadas pra propaganda. Carroças, um lugar bucólico. “resultado da ocupação, do bloqueio e da inação internacional.” Nem de longe resultado de líderes terroristas e genocidas como al-Husseini, Arafat, o Hamas etc., e seus sonhos de conquista e destruição. Como conciliar carroças e blecautes por falta de recursos com estas imagens, dos próprios palestinos? Notem a fila interminável de SUVs novinhos, que somente ricos possuem em nosso país. Notem o armamento, caríssimo (patrocinado pelo Irã e por petrodólares). Notem as “pobres” crianças adorando esses matadores de judeus (e palestinos), o culto da morte de civis nos cartazes com um ônibus israeli explodido. Que coisa linda é Gaza. http://saraya.ps/index.php?act=Show&id=32332

Comments are closed.