Um mundo sem o islamismo

Diogo Bercito
“A Tomada de Constantinopla” em 1204, em ilustração de Palma Le Jeune (1544–1620)

O trabalho me levou, na semana passada, até Londres e o interior britânico. Algumas horas livres no meu dia me levaram, por sua vez, à livraria Al Saqi, na região de Paddington –uma charmosa loja especializada em obras a respeito do mundo árabe e do islamismo. Ali, tive a difícil missão de escolher alguns livros para trazer para Jerusalém. Um deles motiva este relato.

Estou terminando de ler “A World Without Islam”, escrito pelo ex-vice-chairman do Conselho de Inteligência Nacional da CIA, nos EUA. “Um mundo sem o islã“. Uma amiga palestina me disse, hoje, que acha a premissa da obra racista. Imaginar um contexto histórico sem o islamismo, ela diz, é uma proposta de viés negativo que parte da ideia de que os seguidores do Alcorão podem ser destacados da realidade e analisados como um fenômeno paralelo, descolado do contexto histórico.

Eu discordo. “A World Without Islam”, de Graham Fuller, me parece ser fruto de uma proposta outra –a de, enquanto reconhece que o islamismo é uma realidade histórica, se propor a entender essa religião a partir da projeção de um mundo do qual ela não faz parte. “E se o islã nunca tivesse existido?”, o autor se pergunta. É uma dúvida retórica e talvez ingênua, como aquelas questões que por vezes nos vêm à mente. Mas é também uma reflexão fértil.

Fuller, também autor de “The Future of Political Islam” (o futuro do islã político), mantém ao longo de todo o livro a ideia de que é preguiçoso analisarmos o Oriente Médio creditando ao islã a oposição entre Ocidente e Oriente. “Apesar de o argumento parecer contraintuitivo”, ele escreve, “é possível estabelecer um forte argumento de que há tensões geopolíticas profundamente enraizadas entre o Oriente Médio e o Ocidente que vão longe na história, precedendo o islã”.

É uma teoria curiosa. Me parece, também, razoavelmente inédita, ao menos na insistência de que a tal crise Oriente-Ocidente tem origem em outros fenômenos político-sociais e que não está baseada em uma oposição religiosa. Afinal, segundo Fuller, a hostilidade médio-oriental em relação ao Ocidente é uma herança cristã, a partir dos conflitos entre as igrejas baseadas em Roma (“latina”) e em Constantinopla (“grega”). Menos pela fé do que pela noção política do controle da fé.

O islã, como nova força geopolítica, herdou não apenas o anti-ocidentalismo das cidades no Império Oriental em rebelião […] mas também algumas das visões latentes anti-Roma que cresciam dentro do Império Bizantino. Enquanto Bizâncio baseava sua identidade profunda na crença de que perpetuava a tradição verdadeira do Império Romano, gradualmente passou a ver a Igreja Ocidental [ou seja, católica] como rival geopolítico.

A partir dessa premissa, Fuller reanalisa a história regional. A expansão islâmica no século 7, por exemplo, é mostrada pela abordagem tradicional de que o islã se beneficiou dos atritos entre os Impérios Bizantino e Persa –mas aqui entra também, segundo a obra, a vocação do cristianismo regional ao monofisismo, isso é, a ideia de que Jesus Cristo tem apenas uma natureza (em meio a discussões teológicas a respeito de sua posição como homem, deus ou ambos). “A profissão islâmica da única e estrita natureza humana de Jesus dificilmente seria uma surpresa para as populações cristãs [do Oriente Médio].”

Fuller analisa, também, as Cruzadas como um exemplo de que o atrito entre Ocidente e Oriente não depende do islamismo. Afinal, se o papado justificou os Exércitos europeus rumo à Terra Santa a partir de um imperativo religioso, a história também nos mostra que as missões ocorreram sob pressão econômica e demográfica. Mais importante ainda para a teoria de “A World Without Islam” são as cruzadas que culminaram em ataques às regiões de cristianismo “grego”, inclusive um saque a Constantinopla.

A crescente suspeita entre “latinos” e “gregos” durante as primeiras três Cruzadas atingiram um crescendo. A Quarta Cruzada levou a uma série de eventos que ainda vivem em infâmia nas mentes gregas até hoje. Em total desrespeito à missão de recapturar Jerusalém para a cristandade, em 1204 os cruzados desviaram suas atenções de Jerusalém e em vez disso procederam para atacar, saquear, pilhar, ocupar e liderar Constantinopla em nome da igreja romana por muitos anos. Esse de fato foi um “cataclisma” civilizatório, o ponto final de ruptura entre as duas grandes igrejas da cultura cristã, do Ocidente e do Oriente, com repercussão incalculável.

Vocês têm estado quietos, nas últimas semanas. Aproveito, então, para pedir a opinião dos leitores. Sei que diversos de vocês estudam a história da região, portanto podem me ajudar a entender –concordam que a tensão Ocidente-Oriente precede o islamismo e tem raiz, na verdade, no conflito entre as igrejas de Roma e de Constantinopla, além de no contexto econômico e social?

Comentários

  1. Minha resposta e’ que eu nao sei se o conflito tem origens antes do islamismo.
    Mas eu sei, com certeza, de que o islamismo pratico por muitos , principlamente no oriente medio atualmente, so’ estimula o conflito.

    Eu trabalho com alguns islamicos, moro em um pais no qual temos islamicos progressistas e conservadores.
    Minha observacao e’ de que os islamismo pratico atualmente no oriente medio continua parado no tempo de 1000 anos atras. Esse e’ o problema.

    Meus colegas de trablho que sao islamicos nao parecem ter este problema.
    E’ como se a igreja catolica tentasse praticar a inquisicao nos dias de hoje.

  2. Caro Diogo,

    acho seus textos muito bons. E me interessa saber mais sobre esta questão entre cristãos e muçulmanos pois considero fundamental ter paz entre as duas religiões. E para ter paz creio que é importante saber quando, quem, onde começaram as guerras. Voce teum uma ideia de quando as guerras começaram?

  3. Veio, num consegui terminar de ler, mas ao fazer a seguinte reflexão, e o mundo sem o juda ismo?
    No mínimo não teriamos as demais religiões monoteistas, a segunda guerra mundial, e dezenas de guerras no oriente médio, parece que quando o D’us criou o juda ismo, ele criou o inferno aqui na terra nauh?

    1. André ,
      parabéns para a sua brilhante reflexão.
      Apesar de não ter conseguido ler, nem interpretar o texto foi brilhante.
      Deve ser algum talento inato para contextualizar algo sem saber lhufas à respeito !

  4. Para começar, alguns dados históricos fundamentais. O profeta Maomé morreu no séc. 7 (em 632), enquanto o ”grande cisma” entre católicos e cristãos ortodoxos é de 1054, ou seja, ocorreu 4 séculos depois.

    Este foi o rompimento “oficial”, quando o papa Leão IX excomungou o patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário, e foi por sua vez devidamente excomungado por ele.

    Fatores complexos o motivaram, simultaneamente teológicos, políticos e culturais.

    No que se refere à ambiência geral, o setor ortodoxo é mais “oriental”, mais “primordial”, mais próximo das origens do Cristianismo, enquanto o Catolicismo é mais “imperial” e europeu; este aspecto pode ser facilmente constatado esteticamente pela arquitetura e a arte religiosa das duas igrejas e também pelas vestes de sacerdotes e religiosos; os padres russos, por ex., têm um porte invariavelmente hierático, usam cumpridas batinas pretas, chapéus especiais e longas barbas.

    Um ponto importante aqui é que uma parcela considerável da Igreja ocidental se deixou influenciar excessivamente pela abordagem racionalista e individualista da Renascença (séculos XV e XVI) e da “filosofia das luzes” (séc. XVIII), algo que não se verificou no Cristianismo oriental.

    Já a causa teológica fundamental da separação entre católicos ocidentais e ortodoxos orientais foi o ”filioque”: enquanto russos, gregos e demais cristãos orientais permaneceram fiéis ao estipulado no Concílio de Nicéia (589), que afirma a procedência do Espírito Santo somente da Primeira Pessoa da Trindade, os católicos introduziram, a partir do século VI, a cláusula inovadora de que o Espírito procede do Pai e do Filho (”filioque” em latim).

    Os ortodoxos não aceitam também a superioridade do Papa de Roma sobre os demais cinco Patriarcas da Igreja Ortodoxa (além de Moscou, Constantinopla, Jerusalém, Antioquia e Alexandria).

    Para eles, o papa é primus inter pares (“primeiro entre iguais”), mas não concordam que tenha a palavra final em questões teológicas, morais ou disciplinares; o papa não poderia, por exemplo, ter imposto o filioque ou o celibato sacerdotal a toda a igreja.

    Ao contrário dos sacerdotes católicos, os ortodoxos podem se casar e ter filhos; o celibato é restrito aos bispos e monges (na igreja ocidental, o celibato tornou-se obrigatório apenas a partir da Idade Média).

    Outras diferenças importantes referem-se, como bem apontou o escritor britânico William Stoddart em ”Remembering in a World of Forgetting” (EUA, 2008), ao fato de que os ortodoxos tampouco aceitam dogmas católicos como o da infalibilidade papal ou o da existência do purgatório. Quanto à filosofia escolástica (a de Santo Tomás de Aquino), ela é vista como ancilla theologia (“serva da teologia”) pelos católicos, mas rejeitada como excessivamente “racionalista” pelos ortodoxos.

    Há que se levar em conta também nesta questão que o Islã não pode ser classificado como puramente oriental; ele é ”médio-oriental”. ”Oriental” realmente são o Budismo, o Confucionismo, o Taoísmo. Isto pode ser visto na geografia, onde o Islã ocupa a faixa médio-oriental do globo. Ademais, o Islã é um monoteísmo abraâmico, i.e., é da mesma família do Cristianismo e do Judaísmo.

    Em suma, questão complexa que não será resolvida num post! Mas, quem quiser se aprofundar, pode ver meus livros “Homens de um Livro só” (sobre o fundamentalismo, nas religiões e também no pensamento secular); “A Inteligência da Fé: cristianismo, Islã, judaísmo”; ”Mística islâmica”; e ”Christianity & the Perennial Philosophy”.

  5. pode até ser mas o islamismo acrescenta um ingrediente selvagem. o islamismo parece ser uma religião nascida do ressentimento dos árabes tribais pagãos em relação aos cristãos e judeus de meca, mais prósperos. nesse ponto islã e socialismo se beijam pois ambos são o coro dos ressentidos. nada melhor prá uma mulher feia do que a obrigatoriedade de se cobrir dos pés à cabeça, não é mesmo?

    1. selvagens? oque me diz de uma religião como judaismo que tem como ritual e tradição sugar o sangue do penis de uma criança?
      quer coisa mais doentia que isso.

      1. Sugar o sangue do penis? De onde você tirou isso? Informe-se melhor antes de sair disparando barbaridades.

        1. Circuncisado, a tradição judaica em relação à circuncisão manda que o Moel (aquele que faz a circuncisão), após cortar o prepúcio, sugue ao menos uma gota de sangue. Até a Renascença, se acreditava que fazendo isso se estaria impedindo a entrada de doenças através do corte, pois se o sangue estava saindo, não tinha como entrar nada. Essa tradição é cada vez menos seguida, já que é anti-higiênica, aumenta o risco de infecção e é uma aberração aos olhos da medicina.

      2. Karin, a grande maioria das circuncisões na comunidade judaica laica hoje em dia é feita por cirurgiões. Para quem olha de fora, ainda é meio estranho juntar um bando de convidados em um salão de festas com comes e bebes para testemunhar uma extração do prepúcio, mas faz parte do que nos define como judeus. E pelo menos é feita com a necessária assepsia, e com o uso de anestésico tópico. Antigamente se usava uma chupeta embebida em vinho. É por isso que eu não lembro se minha circuncisão doeu – eu estava bêbado 😉

      3. Acho que a ablação feminina, para os q não sabem, a extração do clitóris para a mulher não sentir prazer, feita com uma gilette enferrujada ou um caco de vidro, é um pouco pior, não acha ? Além do q, a circuncisão salva vidas, a ablação feminina as tira.

  6. por outro lado, quando pensamos em cultura árabe lembramos logo de kibes, dança do ventre e mil e uma noites, que são pré-íslâmicos. não seria nada mal um mundo sem islã.

  7. No meu penssamento , tanto o Islamismo,como o Cristianismo, atrasaram a humanidade em mais de 1,000 anos, nos aspectos ,social-econõmico, cultural. O primeiro nasceu como parãmetro do segundo, com a queda do IMPÉRIO rOMANO, por consquência com o adventodo Cristinismo, tudo retrocedeu

    1. pelo contrario o judaísmo e o cristianismo contribuiu imensuravelmente para a humanidade em todos aspectos como econômico, cultural, e social. Podemos ver as raízes do Constitucionalismo primitivo entre os judaísmo que não aceitavam a ideia de um líder politico em sua monarquia como sendo um deus o que era amplamente comum no contexto histórico, pelo contrario tinham uma lei que estava acima do líder politico do Estado que era a torá, o que veio paulatinamente se desenvolvimento até no que conhecemos hoje como Constitucionalismo Moderno, na ciência sem duvida a ideia de um universo inteligível(U.L.Bulos), a ideia de direitos humanos, como direitos universais pertencentes a todos independentes de gênero, cultura, condição social surgi com o cristianismo, grandes intelectuais cristãos em todos os tempos tanto na filosofia com na ciência contribuíram e em contribuído de maneira imensurável ao desenvolvimento cientifico e humano.

  8. Questão interessante, Diogo, com argumentos bem fundamentados de Fuller. Vou adicionar esse livro à minha longa lista de leitura.

    Enquanto não leio o livro, posso comentar a respeito dos trechos que você trouxe. Concordo com Fuller em relação às tensões entre Oriente e Ocidente pré-datarem o surgimento do Islã, mas não estou tão certo quanto à transferência desssas tensões da cultura bizantina para a cultura muçulmana.

    Acho que esse pode ter sido um dos fatores embrionários mas, a meu ver, os atritos são mais frutos de disputas pela dominação cultural e geopolítica entre o Islã e a Igreja Católica e, mais tarde, disputas de colonização e expansionismo entre os povos europeus e os povos do OM.

    Creio que a rivalidade entre Roma e Bizâncio tenha sido relativamente independente da rivalidade com o Islã, assim como a rivalidade entre Bizâncio e Pérsia. Quando duas grandes forças geopolíticas travam uma disputa, ambas ficam enfraquecidas pelo conflito, e outras forças aproveitam para “comer pelas beiradas” e expandir seu domínio. Ao cabo de alguns séculos, algumas das antigas potências definham, e aquelas que souberam melhor se aproveitar serão as novas potências do cenário geopolítico. Acho que essa dinâmica faz mais sentido para mim do que uma rixa que começou lá no Império Romano e foi crescendo e se transferindo de uma cultura a outra até culminar no cenário atual.

    Mas enfim, posso estar falando besteira, já que não conheço o conteúdo todo do livro.

    1. Beto, a ideia do livro é que a disputa Oriente-Ocidente é geopolítica, como você diz. O exemplo de Roma-Bizâncio é para ilustrar como mesmo dentro do cristianismo a disputa permanece. Faz sentido?

      1. Se entendi bem, a proposta de Fuller é que mesmo se o Islã não existisse ainda assim haveria ao longo dos séculos uma crescente rivalidade entre Ocidente e Oriente Médio. Se for isso, faz um certo sentido.

  9. Mas pensando melhor, acho que esse livro , pelo que voce relatou, e’ apenas “curioso” como voce mesmo definiu.
    Mas tem que ler..

  10. A ideia da transferência de rixas bizantinas com a igreja ocidental ao islamismo faz sentido, uma vez que muitos cristãos orientais que habitavam as terras conquistadas pelos muçulmanos se converteram ao Islã.

  11. Acho que as Filipinas são um excelente demonstrativo. Ela – assim como sua ex-metrópole no passado recente – sofre com eventuais ataques terroristas de grupos separatistas. Ao contrário dos bascos, contudo, tais rebeldes não possuem a mesma religião, daí eles serem “radicais islâmicos”. O fator religião neste contexto trata-se, creio, tão somente de um rótulo, um identificador do diferente, daquilo que é supostamente “perigoso”, do possível homem-bomba. Se não for a religião, é a cor-da-pele, a casta, o tipo sangüíneo (sim, os japoneses conseguiram atingir este nível de “sutileza” em específico) ou qualquer outra coisa que possa segregar o grupo alvo do medo e/ou do preconceito. Na Bíblia mesmo temos o relato do xibolete, não? Em um mundo sem o Islã, certamente haveria algum outro “motivo” em seu lugar. Nesse sentido, nem importa se as tensões Ocidente × Oriente-Médio são anteriores ao Islã ou não. O Islã ser usado como “justificativa” da histeria seria inevitável em qualquer desses dois cenários, avalio.

  12. Conjeturar é válido. O certo é que o Islã começou a se espraiar 600 anos d.C. inspirado no próprio cristianismo incluindo as Cruzadas (Jihad). Entendo que se o Islã não existisse o cristianismo seria dominante – um só Alá, mas repleto de igrejas independentes de uma doutrina central (papal), aliás como é o Islã que se fundamenta ao sabor do líder religioso de cada região. O resto são interesses econômicos contrariados que sempre existirão, com ou sem religiões.

  13. Sem duvida a ideia simplista de atribuir a conflitos do oriente e este e o ocidente exclusivamente a aspectos de ordem religiosa é um tanto quanto pueril.

  14. Faria uma outra pergunta: o que o Islã não teve, que o mundo Ocidental teve. E respondo: humanismo, iluminismo, revoluções liberais, revolução cultural, revolução sexual e separação entre o estado e a igreja. Daí, é só imaginar como é um mundo sem essas mudanças…

    1. O islã inicial era muito mais livre do que sequer sonhavam os cristãos…muitos dos nossos conceitos de humanismo são originários de filósofos muçulmanos medievais. E no ocidente, não são muitos países que têm separação de estado e igreja (pesquisa sobre países da europa e talvez vc tenha uma surpresa). E no islamismo existe uma separação bem parecida com a ocidental. O problema é que no mundo atual, alguns grupos querem implantar teocracias, mas isso não é islã. E Convenhamos, falamos muito dessas nossas “revoluções”, mas faz pouco tempo que ocorreram e menos tempo ainda em que se tornaram realmente mais eficazes…Tá bem longe de ter sempre assim…

  15. Concordo, em parte, com o conceito do livro e assim com sua posição. A tensão tem tudo a ver com as querê-las entre católicos romanos e orientais que permitiram o fortalecimento do Islã. No entanto não há como negar a política de expansão e dominação sionista, apoiada pelos EUA.

  16. Interessante o livro Jesus Wars, traduzido recentemente como Guerras santas: como 4 patriarcas, 3 rainhas e 2 imperadores decidiram em que os cristãos acreditariam pelos próximos 1.500 anos.

  17. O fato é que estas três religiões monoteístas nasceram imiscíveis entre sí muitas guerras entre o islamitas cristãos embora tenham alguns elementos comuns.Com o fim da guerra fria bipolar a influência delas nas regiões de origem ficou bem evidenciada.Nas análises das relações internacionais esta divisão sempre dever considerada.O pais ancora dos ortodoxos é a Russia,dos cristãos é os USA e Alemanha/França/Itália e a coisa desanda por que o islã ainda não tem e nem dá mostras que terá um pais ancora.

  18. Engraçado que muitos criticam o islamismo, mas se esquecem que a maioria absoluta da população islâmica, de aproximadamente 1 bilhão e meio de pessoas é pacífica.
    Quando algo acontece, não se julga a sanidade mental do indivíduo, e todo mundo fala de “terrorista islâmico”, como se não houvessem inúmeros psicopatas católicos, judeus ou outros justificando suas barbáries lunáticas em nome da religião.

  19. Acredito que sempre existiu uma tensão entre o mundo mediterrâneo e o Oriente Médio.
    Muito antes do cristianismo e do Islã havia a rivalidade entre gregos e persas. Com a helenização do Oriente Médio houve uma espécie de deslocamento do eixo desse “ocidente” para Roma, com a rivalidade passando a ser entre romanos e persas, em diversas guerras inconclusivas pelo controle do Oriente Médio. Com o desmembramento do Império Romano, a parte oriental assumiu de vez seu caráter grego (pós helênico e portanto mais “orientalizado”) enquanto antagonizava os reinos germânicos que substituíram o Império.

  20. Acho este assunto um grande papo furado! E eis a explicacao:
    A religiao beneficia somente para quem as pratica. Para eles que ela da um tal sucesso de vida calmo e feliz.
    A religiao nao diz a concertar os outros, somente ele mesmo.
    o isla como judaismo e etc. ja valeram, gracas a vida boa de um unico fiel so.

  21. Não li a obra de Fuller, entretanto, me parece que a sua premissa é obviamente simplista. É evidente que a tensão entre o “Ocidente” e o “Oriente” precede à religião islâmica. Aliás, precede o cristianismo e não se resume aos embates entre os ocidentais e os árabes. Relembre-se que o último grande inimigo do Império Romano, desde o final da República, foi o Império Parto, oriental e então localizado no que já foi a Pérsia, hoje Irã. Tal rivalidade causou guerras intermitentes por quase 300 anos (70 a.c até 217 d.c). Neste período, ou não existia o Cristianismo, por absoluta impossibilidade física, ou esta religião não fora adotada por Roma (o que acorreu após o ano 300 c.c). É evidente que neste intervalo sequer se cogitava de islamismo. Com efeito, a rivalidade “Ocidente-Oriente” precede ao cristianismo (em qualquer das suas vertentes) e ao islamismo. Logo, a religião não é causa primeira deste embate. Não obstante, me parece que a religião, tanto a cristã (e os seus conflitos internos) e a islamita, acirraram a disputa a ponto de envenena-la. O foco do conflito, antes de natureza política e econômica, portanto, resolúvel por definição, passou a ser religioso, ambas com as suas próprias alucinações monoteístas inconciliáveis. Portanto, concluo apressadamente, que a idéia do livro do Sr. Fuller faz sentido desde que ampliada para a seguinte questão: – “Como seria o mundo sem religião?”.

  22. Diogo, acredito que o conflito é muito mais econômico e social, que mesmo religioso.
    A luta pela terra é uma constante, mas não envolve critérios religiosos.

  23. O enfrentamento entre oriente e ocidente já se manifestou nas inúmeras guerras de Gregos contra Persas desde onséculo 5to a. C.
    Em algum momento Gregos passaram a ser orientais porá Romanos ser os novos ocidentais. O islamismo se situava ainda mais a oriente do que Constantinopla em termos culturais? Em alguns períodos da idade média o islamismo produziu culturas muito mais abertas que o cristianismo!

  24. Fuller, ao mostrar a primeira tomada de constantinopla, omite coisas importantes.
    É preciso lembrar que a quarta cruzada estava excomungada pelo papa desde a tomada da cidade cristã de Zara. Não só isso, essa quarta cruzada estava refém da frota do doge de veneza, Dandolo. inimigo viceral dos gregos. Os acontecimentos que levaram ao saque de constantinopla, estão mais ligados à uma rixa entre vizinhos, do que a um embate entre religiões ou civilizações, ou mesmo a esse tal de oriente x ocidente.
    E tem mais, utilizando a mesma teoria do Fuller, eu poderia dizer que tem também uma tensão geopolítica norte-sul, e citaria os gauleses atacando os romanos na italia, e posteriormente Cesar tomando a galia. E mostraria que essa tensão atravessou séculos, com a guerra dos 100 anos, onde a frança agora era o sul e inglaterra o norte. Ou a reconquista ibérica, onde o norte cristão empurra o sul mulçumano para a africa. Tem milhares de exemplos de guerra norte-sul, que variam de território e contextos.
    Na verdade tensões geopoliticas tem mais a ver com dinheiro, terras, política, e um pouco de religião também.

  25. Apesar das minhas observações, que são pequenas, o livro parece sim ser uma boa leitura, para tentar ter nova visão.

  26. Olha, como falaram acima, a tese de herança de conflitos é bem problemática, porque sem houveram conflitos na região (era local de passagem de mercadorias valiosas vindas do oriente para o ocidente, portanto bem cobiçado). Pelo que já li, o Islã, inicialmente nunca teve problemas com o mundo cristão propriamente dito, mesmo quando o conquistou. A conquista da Espanha foi bem branda, com poucas batalhas, o reino visigodo esfarelava e os árabes foram vistos mais como salvadores do que invasores. É o mundo cristão que começa a “rivalidade”, a violência (essa ideia do “muçulmano selvagem”), a propaganda negativa (invenção de histórias, e isso tbm ocorriam os judeus, que eram acusados de matar crianças e misturar o sangue no pão da páscoa)…As cruzadas e sua violência que vão fechando o mundo islâmico, dinastias mais violentas vão tomando conta e, por fim, a dominação turca e colonial que tbm exclui (árabes não podiam frequentar mesmo lugares que franceses nas colônias). O mundo islâmico era um mundo de conhecimento, tradução de tudo o que era obra (tbm são herdeiros dos pensamento grego, além do persa), criaram as primeiras universidades antes do ano mil… em relação à tolerância religiosa tbm estava muito à frente. o cristianismo romano não conseguia (e talvez até hoje) não consegue ver o outro, permitir o outro, tanto que muçulmanos e judeus sempre foram perseguidos ou mal vistos (o caso judeu só mudou realmente depois do Holocausto); quando os reis católicos conquistam Granada, queimam quase um milhão de livros! E é a Espanha que vai criar critérios de sangue para cristãos novos (judeus e muçulmanos). Sugiro para leitura, a biografia do Maomé, da Karen Armstrong. Nela, a autora faz contrapontos importantes que desconstroem muito dos argumentos “ocidentais” em relação ao islã (que tbm tem seus movimentos violentos, evidente).

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