Jerusalém se despede de um notável rabino

Diogo Bercito

Enquanto escrevo estas linhas, a cidade de Jerusalém está parada. Essa fortaleza, que viu passarem os exércitos imperiais desde a Antiguidade, amarrou seu fluxo durante o dia para o cortejo fúnebre de um dos rabinos notáveis da era moderna em Israel —Ovadia Yosef, morto hoje aos 93 anos.

Nascido em Bagdá, Yosef passou pelas décadas subindo os degraus do judaísmo. Sem demora, graças a uma memória prodigiosa e a seus conhecimentos profundos a respeito da religião, ele tornou-se referência para as decisões do rabinato. Ele foi rabino-chefe da população sefardita (judeus ibéricos, norte-africanos e médio-orientais) entre 1973 e 1983, cargo hoje ocupado por seu filho.

Não sou judeu, e tenho uma visão crítica a respeito das políticas religiosas na cidade. A família Yosef está relacionada, por exemplo, à expulsão de famílias palestinas no bairro árabe de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental (território considerado pela ONU como ocupado). Mas a morte do rabino Yosef é um momento solene nesta cidade habituada a seu rosto em cartazes –um senhor de óculos escuros com a lente avermelhada, de aparência austera.

A figura do rabino é fascinante, na cultura judaica. Há, especialmente entre ortodoxos e ultraortodoxos, um apreço apaixonado pelo estudo da religião, realizado por jovens insistentes nas instituições religiosas chamadas “yeshivá“. O texto sagrado é relido e reinterpretado há centenas de anos, em um rico –ainda que polêmico– debate intelectual.

O rabino Yosef, que ocupou a chefia sefardita durante a Guerra do Yom Kippur (1973), é autor de decisões polêmicas, como a que permitiu que mulheres se casassem sem divórcio caso seus maridos estivessem desaparecidos no esforço militar. Ele também é responsável pela decisão de permitir que judeus etíopes, conhecidos como Beta Israel, imigrassem ao país via Lei do Retorno.

Os bairros religiosos de Jerusalém dão, agora à noite, adeus a essa figura nacional. Ouço, da minha janela, um insistente helicóptero que deve estar fazendo a ronda de segurança. A música, na cidade, são as buzinas dos caros aprisionados no trânsito. A quem estiver curioso, publico neste relato as fotografias do meu colega Joel Silva, que esteve ao redor do cortejo fúnebre durante a tarde.

 

Comentários

  1. Certamente uma pessoa muito boa e sábia, uma Alma especial que volta a seu local merecido em um nível muito mais elevado.

  2. Ovadia Yosef, morto hoje aos 93 anos, deixa uma lacuna para a nação israelense e também saudades pela sua luta chamada PAZ, sua sabedoria será sempre reverenciada; Sabemos que os maiores líderes são os que influenciam a totalidade da nação para o amor fraterno … ” Quão bom e suave é que os irmãos vivam em união…” (texto do livro B. S. novo testamento – revisão J. F. Almeida)
    Abraços fraternos a todos da nação de israel… (Helmar – Monte Alegre do Sul – SP)

  3. Interessante observar que, mesmo em Israel, há uma divisão baseada nas diferenças étnicas. Meu avô, que era chinês, sempre dizia que “enquanto houver 2 homens em cima da terra, existirão divergências, e com elas a demanda”.

  4. Notável rabino? O texto não diz o que ele fez assim de tão excepcional. Creio que de notável só o fanatismo. Os rabinos mais ou menos estão todos fora de Israel, lá o que mais tem são fanáticos e boçais. Viva o Brasil, aqui temos apenas ladrões de gravata — o que convenhamos é muito melhor que expoliar e oprimir a população nativa!

  5. Apesar de eu discordar de quase tudo que ele fez ou disse, reconheço que ele merece respeito por seu conhecimento acerca da Torá. Z’L.

    1. Vou com o colega beto_w. Apesar de discordar de praticamente tudo o que disse o Rabi Ovadia Yosef, de abençoada memória, penso que merece respeito e consideração pelo que representou e ainda representa a grande parcela do povo judeu.

  6. Prezado Diogo,
    infelizmente você considerou a minha resposta (cortada) ao Sr. Mateus Sampaio mais agressiva do que a missiva do mesmo.
    Como não achastes, por não tê-lo censurado, que o teor das suas considerações são válidas e desprovidas de censura, o pressuposto é que talvez considere-as como legítimas e verdadeiras.

    1. Luiz, você pode me dizer por favor a que comentários você se refere? Perdão se cometi algum engano na moderação dos comentários.

      1. Prezado Diogo, refiro-me à :

        “Notável rabino? O texto não diz o que ele fez assim de tão excepcional. Creio que de notável só o fanatismo”.
        “Os rabinos mais ou menos estão todos fora de Israel, lá o que mais tem são fanáticos e boçais. Viva o Brasil, aqui temos apenas ladrões de gravata”.

        Acredito que o desrespeito com palavras e ideias fora do contexto para um enterro de um importante e respeitado Rabino de 93 anos falam por si só.
        Podemos discordar de muitas coisas feitas e ditas por ele, mas, isto não diminui sua importância histórica como religioso e pessoa humana.
        Um abraço, Luiz.

  7. Notável rabino? Vc simplesmente perdeu a razão? Imagino que, para dizer isso, vc deve desconhecer absolutamente a pessoa em questão. Ele está entre o que há de mais abominável no fanatismo religioso e o fato de ter reunido quase 1 milhão de pessoas em seu funeral é realmente preocupante. Se vc pesquisasse um pouco, acharia os seguintes comentários deste senhor:
    – “The sole purpose of non-Jews is to serve Jews”. We will sit like an effendi and eat. That is why Gentiles were created.”
    – “secular teachers are donkeys.”
    – “There are stupid women who come to the Western Wall … they want equality … we must condemn them and be wary [of them].”
    – sobre os palestinos: “It is forbidden to be merciful to them. You must send missiles to them and annihilate them. They are evil and damnable.”
    Há muitos outros, basta procurar

    1. Caro Ricardo, acredito que, após a morte, devemos avaliar uma pessoa pelo conjunto de sua contribuição. Além disso, o rabino Ovadia Yosef era conhecido pelos conhecimentos religiosos, pelo qual tornou-se um dos notáveis entre os líderes judeus. Aqui, não se trata de opinião pessoal. Abraço e obrigado.

      1. Realmente desconheço sua opinião pessoal sobre o sr Yousef, mas não passa desapercebido o tom elogioso da reportagem ao se referir a uma figura simplesmente nefasta. O conjunto de sua contribuição em Israel, ao contrário do que leva a crer seu relato, é de intolerância, fanatismo e interferência da religião sobre o estado. Não é possível simplesmente ignorar que ele dizia que os gentios nasceram apenas para servir os judeus e que os palestinos são “ratos” e “insetos” que deveriam “ser aniquilados”. Só posso imaginar a reação das pessoas caso semelhantes palavras saíssem da boca do gran-mufti de Jerusalém, por exemplo.

        1. Ricardo, meu caro xará
          Veja o que disse o rabino:
          “The sole purpose of non-Jews is to serve Jews”. We will sit like an effendi and eat. That is why Gentiles were created.”

          Não te ocorreu por acaso que o nobre blogueiro possa CONCORDAR com o que disse o rabino e, por isso, tenha se recusado a condena-lo publicamente?

          E não só ele, todos os demais jornalistas que cobriram a sua morte não citaram essas frases.

          Um rabino tão destacado deve ter granjeado muitos fãs mundo afora e suas palavras (especialmente estas) devem inspirar milhões de pessoas, principalmente entre jornalistas.
          Pense um bocado.

          😀

          😉

  8. “A família Yosef está relacionada, por exemplo, à expulsão de famílias palestinas no bairro árabe de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental…” onde está a notabilidade desse senhor, que pregou o ódio e a ira entre os filhos de Abrahão?

  9. Nao sei se e sabido o fato de o vo paterno do rabino, cujo o rabino ter seu nome, foi vitima de assassinato por um arabe em Bagda. E o propio rabino foi alvo em algumas tentativas de assassinato por palestinos.
    Tendo certeza que ambos dados influenciaram a opiniao do rabino sobre os arabes.

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