Consciência política, estereótipo cultural
Os estereótipos são recorrentes. Os egípcios, assim como os demais países árabes, são vistos como um povo atrasado, fundamentalista e alienado.
Apesar dos esforços dos orientalistas de boa-vontade, que rebatem o preconceito com fatos históricos –o califado de Córdoba, a dinastia fatímida, os cientistas islâmicos, os textos gregos conhecidos apenas por meio da tradução árabe–, o mundo árabe é, na fantasia ocidental, uma região tomada pelas trevas. Mulheres cobertas por panos, homens de barba, e todos rezando a um Deus que pede pela guerra santa do “jihad”.
Talvez daí o espanto em torno de um vídeo que tem circulado pela internet. Na gravação, um garoto de 12 anos surpreende a entrevistadora com suas respostas afiadas sobre diversas questões políticas.
Ali Ahmed, 12, diz que está nas ruas para impedir que um só partido –a Irmandade Muçulmana– se apodere da Constitução do Egito (“dustur”, em árabe, para quem quiser aproveitar o vídeo para treinar o ouvido).
“Nós não nos livramos de um regime militar para substitui-lo por uma teocracia fascista”, ele diz. “Fashia dinia?”, pergunta a entrevistadora. Teocracia fascista? “Eu nem sei o que é isso.”
“É quando você usa a religião para impôr regras extremistas em nome da fé”, ele explica. E se exalta –se as mulheres são metade da população, como só há sete membros femininos na Assembleia Constituinte? Então cita trechos da nova Carta do país, indignado com o tratamento às mulheres. “Não posso bater na minha mulher, quase matá-la, e dizer que isso é ‘disciplina’.”
Conversei, recentemente, com um garoto jerosolimita de 15 anos com um perfil semelhante. O rapaz me fala sobre o conflito árabe-israelense como quem estudou ciências políticas. Em Hebron, há alguns meses, conheci um adolescente igualmente engajado.
São jovens promissores, e podem um dia reconstruir as sociedades árabes de maneira que sejam, mais uma vez, líderes no cenário global. Mas, para isso, falta um passo crucial: que tenham as oportunidades necessárias. Afinal, quais podem ser os próximos anos para o pequeno Ali Ahmed, atrasado pela economia fracassada do Egito, pela corrupção endêmica, pela burocracia onipresente?
Diogo,ha tambem um video no Youtube
feito por um Pai de um menino de 5 anos
em Gaza onde ele pergunta varias capitais
do Mundo,e o menino que parece uma surpresa de inteligencia,ao ser perguntado
qual a Capital de Israel,ele responde insatantaneamente ,este Pais NAO existe.
Isto responde o seu texto de hoje.
Israel certamente existe, o garoto e todos os outros palestinos em Gaza sao a prova disso. Acho que isto responde seu comentario.
Kairuz,
Seria surpreendente se eles nao soubessem. Mas a questao e’ o porque eles nao lembram da existencia!
Diogo,
voce e’ um bom jornalista, mas como todos os orientalistas pecam por fechar os ohlos ao obvio.
Esta’ bem estabelecido que a solucao de um problema so’ ocorre quando este e’ encarado de frente, nao negado.
Negar, ou achar algumas excecoes, como neste video, nao contribuem em nada para a solucao do problema.
Os orientalistas sao como a mae do filho drogado, que ve os buracos nos bracos, embaixo das unhas, ma sum dia o menino a beija e ela acha que ele vai melhorar.
Um dia o filho morre e a mae acha que fez tudo que poderia ter feito; menos encarar o fato de que o filho era drogado.
“Afinal, quais podem ser os próximos anos para o pequeno Ali Ahmed, atrasado pela economia fracassada do Egito, pela corrupção endêmica, pela burocracia onipresente?”
Caro Diogo, nesta última frase você mesmo parece reduzir o Egito à esteriótipos que você mesmo critica. Ali existem excelentes faculdades de ciências humanas e sociais, como a University of Cairo e American University, caso o dito pequeno prodígio queira continuar seus estudos.
Pedro, recomendo a leitura de “Chicago”, de Alaa al-Aswani, sobre alunos da Universidade do Cairo que imigram para os EUA em busca de oportunidades.
Diogo,
Eu tambem li Chicago, mas qual a relacao?
O menino egipcio nao vai imigrr aos EUA.
A idiea e’ que ele fique no egito e contribua para um egito diferente correto?
Marcio, me refiro aos personagens que decidiram emigrar aos EUA por não haver oportunidades no Egito. Aqui não se trata de preconceito, ao dizermos que o país está tomado por corrupção endêmica. Preconceito seria dizermos que o povo egípcio é naturalmente inclinado à corrupção.
Alias,
Podemos falar sobre chicago uma outra hora.
Oportunidades nos EUA existe para qualquer formacao desde que voce tenha as qualidades necessarias ninguem vai parar a sua carreira baseado na universidade na qual voce se formou.
Caro Diogo, recomendo que voce mesmo, em suas viagens ao Egito, procure conhecer estudantes do dominio de ciencias politicas, sociais e economicas dessas duas universidades que citei. Verah que o nivel deles eh muito bom. Quanto a dizer que o problema do Egito eh “corrupcao endemica”, alem de vazio -nao sei exatamente o que significa- parece algo de tal forma enraizado que pressupoe algo intrinseco à sua existencia, natural e, portanto , irreversivel.
Pedro, perdão, mas a questão aqui não é o nível dos alunos. Dizer que faltam oportunidades no Egito é, na verdade, reconhecer que apesar do potencial de um estudante da Universidade do Cairo ele estatisticamente irá se juntar à massa de desempregados.
Ate o garoto sair da faculdade, eh preciso considerar ao menos dez anos para frente, e nao o contexto atual. Na sua frase, voce condena o futuro atraves da analise do presente.
Por fim, falta de oportunidade de emprego qualificado eh um problema da maior parte dos paises do mundo, incluindo muitos desenvolvidos, nao sendo necessariamente uma particularidade egipcia decorrente da “corrupcao endemica”. O que particulariza o Egito eh, alem do fracasso das medidas de liberalizacao economica que se postergaram ao longo dos anos mubarak, a permanencia ao longo dos dois ultimos anos de uma rise politica que impede a adocao de necessarias medidas de reformas economicas pela mera inexistencia de um poder politica legitimo capaz de realiza-las.
Ora, Diogo, “o califado de Córdoba, a dinastia fatímida, os cientistas islâmicos, os textos gregos conhecidos apenas por meio da tradução árabe” são coisas de quantos SÉCULOS atrás?
O califado de Córdoba por acaso é modelo que se possa admirar? Os cristãos e judeus não eram cidadãos de segunda classe, exatamente como os atuais islamitas gostam?
Mulheres cobertas por panos e homens de barba rezando e explodindo bombas pela jihad não podem ser vistos TODOS OS DIAS nos países árabes E na Europa Ocidental (no Reino Unido os muçulmanos até cospem nos soldados voltando da guerra)?
Acho que você é que está seduzido pela fantasia orientalista de que os árabes são incompreendidos e os culpados de todos os problemas deles são as forças ocidentais.
Roe, peço perdão pela honestidade, mas discordo de você. Além de ter visitado toda a região, morei no Marrocos e agora vivo em Israel. Não, não se vê todos os dias nada disso. Para além da “fantasia orientalista”, apesar de não ter certeza a que você se refere com essa expressão, eu acredito que os árabes sejam sim imensamente incompreendidos. Quanto aos “culpados”, é uma questão histórica. Bernard Lewis (“What went wrong?”) diria que são os próprios árabes –mas ele é uma das mentes intelectuais por trás da invasão do Iraque, que resultou em um grande fracasso político e humanitário, então não tenho certeza de que podemos segui-lo nessa direção.
Diogo, aprecio muito a honestidade!
Agora, Síria e Iraque sofrem com os ataques jihadistas todo santo dia.
A Líbia tem um problema grave com milícias islamitas.
Os direitos das mulheres estão sob pressão dos islamitas na Tunísia pós-revolução.
A Irmandade Muçulmana tentou impor sua agenda sobre os egípcios e persegue os coptas.
O Iêmen é outro país assolado por terroristas islâmicos.
O Líbano também é refém dos terroristas do Hezbolah.
E o Hamas, então?
Os causadores disso tudo não são homens de barba que promovem a jihad e que oprimem mulheres? E isso não acontece diariamente?
–
Será mesmo que a culpa não é dos árabes?
Europa, Japão, China e Coréia do Sul sofreram uma devastação material, intelectual e humana muito pior do que qualquer coisa experimentada pelo mundo árabe. E estão de pé.
Os países da América Latina, Ásia e África que estão progredindo são reconhecidos por fazê-lo por mérito próprio. Os que regridem também são reconhecidos por fazê-lo por demérito próprio.
Mas os árabes serão sempre vítimas de eventos ocorridos há gerações? A maioridade deles não vai chegar?
Eu concordo com o Diogo que existe uma parte dos árabes que são incompreendidos. Nas isso , a incompreensão,
e’ apenas uma componente de conveniência. Japoneses, coreanos do Sul e israelenses também são incompreendidos nas cinstruimram nações!
O próprio EUA e’ incompreendido por muitos jornalista e outras pessoas. Eu moro nos EUA faz 22 anos e vejo comentários sofríveis sobre os EUA que passam muito distante da realidade.
Portanto , incompreensão, e’ mais uma desculpa, muito fraca por sinal, para nao se tomar decisões que podem mudar de fato a situação.
Diogo
A
União européia declarou o hezbolah um grupo terrorista ( braço armado) , você acha que o hezbollah e’ um grupo terrorista?
Caro Marcio,
Do ponto de vista pessoal, depende o que cada um entende por terrorismo, jah que nao existe definicao consensual. Se de uma forma generica, entendermos que terrorismo eh o uso da violencia para criar uma atmosfera maior de medo e terror sobre uma sociedade, Israel eh o maior Estado terrorista do Oriente Medio.
Quiçá do Universo !!!
Ao menos você tem uma opinião!
Já o Diogo nao tem nenhuma!
Bastante decepcionante um jornalista tão promissor nao ter uma opinião em um tópico tão importante!
Prezado Diogo, falando em preconceitos qual a sua opinião acerca das minisséries antissemitas que, invariavelmente, se intensificam ano a ano, no mês do Ramadan. Sendo transmitidas e retransmitidas para dezenas de países islâmicos, onde milhões, em horário nobre, na hora do jantar se sentam para assistirem a pior das xenofobias, estereótipos, ao simplesmente puro ódio aos judeus. Esse incitamento virulento contra aos judeus,e não falamos somente dos judeus que vivem em Israel, suplanta em número, gênero e grau qualquer propaganda antissemita feita na Alemanha hitlerista. Na sua opinião, seria mais fácil um jovem “orientalista” basear suas orientações futuras nas exceções que você nos mostrou, ou o mais provável, que continue marchando junto com os retrógrados que, ainda, são maioria absoluta no mundo árabe dos dias de hoje ?
Luiz, não entendi sua pergunta. De qualquer maneira, vale sempre ressaltar que o título do blog “Orientalíssimo” é um jogo de palavras com o clássico “Orientalismo” de Edward Said, brincando com o nome de outro suplemento do jornal (“Ilustríssima”). Não significa de maneira alguma que eu me considere um “orientalista”, principalmente pela falta de formação nesse campo.
Prezado Diogo, não fiz perguntas. Pedi suas opiniões acerca dos recorrentes e intermináveis ataques antissemitas por parte do mundo árabe.
Quem age desta forma, vilipendiando e levando ao ódio contra à um outro povo, com que moral tem de reclamar de estereótipos e preconceitos em relação aos seus ?
Segundo, a vivência diária com xenofobias, preconceitos e campanhas antissemitas e anti ocidentais fará com que a maioria dos jovens árabes passem a ter quais tipos de inclinações e diretrizes em relação à tolerância e a aceitação de um outro desigual ?
E que modernidade e progresso poderíamos esperar da maioria dos que nascem, crescem, interagem e evoluem em tais sociedades ?
As exceções nunca farão as regras por melhores que possam ser !
Luiz, sou evidentemente contra os comentários antissemitas, venham eles de onde vierem. Assim como sou contra a islamofobia, a homofobia etc. Você tem razão, a cultura de ódio a judeus em países árabes é perigosa à juventude nessa região. Mas tomo a liberdade de notar que observo também o preconceito contra árabes por parte de israelenses, o que é claro é igualmente condenável.
Prezado Diogo, o preconceito contra árabes por parte de uma parcela pequena de israelenses é incomparavelmente menor do que em relação ao antissemitismo institucionalizado em países árabes.
Por exemplo, o que engrandece ou enaltece o Ramadan, quando seriados vão ar para denegrir aos judeus em particular. Seria algo religioso intrínseco, esse tipo de postura, por serem os judeus “infiéis” ?
Prezado Diogo, uma bela interpretação do que eu comentei nas palavras de um egípcio :
http://blogs.timesofisrael.com/the-holy-anti-semitic-month-of-ramadan/
De uma coisa tenho certeza: o atraso e a falta de perspectiva de um futuro melhor e mais humano nos países árabes estão diretamente ligados a religião. Isto é fato!
Diogo,Nos Israelenses e Judeus temos todos
os motivos do Mundo para discriminarmos os Arabes.mas a VERDADE,e voce ve aqui em Israel,cuja realidade e de que nos os tratamos muito bem,e eles sao parte da
nossa populacao com os mesmos direitos
que nos Israelenses temos,em todas as Areas.O Contrario ja nao e assim,e voce sabe muito bem disto.O dia que os Arabes
puderem nos destruir nao hesitarao 1 segundo em faze-lo.Mas isto NUNCA acontecera,pois antes eles se destroem a si mesmos,que e exatamente o que esta
acontecendo neste momento.
Parabéns pelo Blog.
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