Um rap contra um regime
Não é recente. O que não quer dizer que nós não possamos ficar surpresos ao, mesmo com atraso, descobrir o trabalho do rapper sírio-americano Omar Offendum em sua canção “#Syria”.
Assisti nesta semana ao clipe, que reproduzo acima. A letra traduzo abaixo, livremente.
Antes, duas observações. A primeira é para que prestem atenção nos trechos que dizem “al-shaab yurid isqat al-nidam”, ou “o povo quer derrubar o regime”. É o slogan da Primavera Árabe, da Tunísia à Síria, e se tornou repertório básico para quem estuda a região.
A outra observação é sobre o final da música, que reproduz trecho de canção de Ibrahim Qashoush, morto pelo regime sírio após cantar “Ya Bashar, yallah, irhal”, ou “Ó Bashar, anda, vai embora”. Leia aqui sobre a morte de Qashoush.
*
#SYRIA, por Omar Offendum
A proposta desses versos é unificar as massas
De Homs a Hassakeh, de Banyas a Damasco
De estradas urbanas ao interior
Das montanhas às costas
Muçulmano, cristão, mulher, homem e criança
Vamos manter a esperança viva
Mantenha-se solidário a todos seus colegas cidadãos
Protestando pacificamente para terminar toda a militância
Tortura e prisão
Assassinato de inocentes
Provando que o regime deste leão mentiroso é ilegítimo
Tal pai, tal filho
Trombadinha ou presidente?
Censurando seu povo
Tentando impedir a fraude
Punhos de ferro, mãos pesadas
Descendo nos residente
Dejà-vu…
1982, 2011 [datas de massacres]
Somos todos Deir Ezzor, somos todos Deraa
Somos todos Jisr al-Shughur, Aleppo e os castelos
Somos todos Hamza, somos todos Hama
Somos todos sírios, mãos ao céu cantando
Al-shaab yurid isqat al-nidam
Tenho um sonho de que esse regime vai cair
E que o vem em seguida
Será melhor para todos nós
Alauitas, drusos, armênios, curdos
Igualdade no Parlamento
Todos têm um assento
Enxergando um futuro que é mais brilhante para os jovens
Que têm lutado pelo direito de iluminar a verdade
Sendo baleados pelas tropas
Por enquanto, a trégua parece esquiva
Mas mártires estão apertando o cerco
Na corrupção, propina, nepotismo, disputas tribais
Não atire com seu mecanismo
Em breve virá o reconhecimento que se agiganta
Menosprezar os manifestantes
Foi uma receita para que Assad assinasse seu próprio destino
Tem sido um tempo longo
E não há volta, agora
As vozes são as armas
Nessas repressões militares
Milhões nas ruas
Desafiando o som dos seus revólveres
Olha quem te sacodiu
Dr. não sabe como agir agora
Al-shaab yurid isqat al-nidam
[Trecho de Qashoush]
Ó Bashar, ó mentiroso
Ao inferno com seu discurso
A liberdade está à sua porta
Yallah, vá embora
Ó Maher, ó covarde
Você é um agente do Satã
Os sírios não vão ser humilhados
Yallah, vá embora
Ó Bashar, você é um idiota, assim como os que lhe seguem
Yallah, vá embora
Ó Bashar para de se esconder, você é um homem procurado em Hama
Seus erros não serão perdoados
Yallah, vá embora
Interessante notar que, para muita gente da esquerda progressista, os movimentos da Primavera Árabe no Iêmen, no Egito e em outros lugares aliados aos EUA foram legítimos, mas o movimento popular da Síria, por se tratar de país não alinhado aos EUA, é tachado de armação incitada por forças ocultas. É bem possível que haja tal influência de forças ocultas, e há vários interesses estrangeiros na região dos dois lados do conflito, mas não se fabrica uma revolução popular onde o povo está satisfeito com seu líder. Assad é tão ditador quanto Mubarak, e uma parcela considerável do povo quer derrubar seu regime. O problema é o que virá depois.
Eu teria a mesma percepção que vc se não fosse por um interesse pessoal que me fez e faz acompanhar de uma maneira mais crítica e profunda quanto aos acontecimentos antes e durante o conflito.Sendo assim farei alguns contrapontos adicionais:
Quem conhece Bashar e acompanha a sua trajetória política sabe que Bashar é um líder progressista e democrático que deu um impulso extraordinário na economia,no social tratando igualmente cada sírio como cidadão com direitos iguais sem discriminação tendo a liberdade de trabalharem e enriquecerem,abriu o mercado do país pro mundo,buscou aproximação com USA(esta é uma outra longa história),a Síria era um país seguro pra estrangeiros e moradores e acima de tudo tem um povo esclarecido.Portanto,apesar dele fazer parte do sistema, erra quem o definir como ditador. Na Síria, o verdadeiro ditador é o próprio sistema. O poder mais profundamente enraizado na Síria lá entrincheirado há 50 anos– é o establishment militar e de inteligência e, em menor grau, a estrutura de governo do Partido Baath. Essas são as forças,acreditem, contra as quais o Bashar vinha conseguindo quebrar resistências à mudança.Mas faltavam as mudanças políticas e as manifestações legítimas e pacíficas que ocorreram foram a oportunidade pra Bashar dar o seu recado final de que o sistema tinha de mudar propondo uma nova Constiuição(a primeira datava de 1971)moderna e democrática.Desde então,este processo de transformação política(esta sim a verdadeira revolução desejada pelo povo sírio) vem tendo há dois anos cada vêz mais apoio de toda a sociedade síria opositora(não armada) ou não que vem ocorrendo à parte de todo conflito armado com estas tais “forças ocultas” (que não são tão ocultas assim,muito pelo contrário) que tem feito de tudo pra sabotar este processo com ajuda de uma mídia tendenciosa que tem tido uma contribuição importante nisso.Felizmente,tem ficado cada vêz mais difícil a manipulação das informações por muito tempo como foi o caso quanto a verdadeira história do sionismo.
Um aparte num desses acontecimentos na Síria é que durante as manifestações pacíficas por não terem sido reprimidas pelo governo fizeram com que grupos armados operando no subsolo das manifestações públicas patrocinadas por forças inimigas estrangeiras sem nenhum interesse em qualquer tipo de reforma começassem a atirar a esmo contra militares e população pra culpar o governo depois.
Quanto a “parcela considerável do povo querer derrubar seu regime”, eu diria que desejarem mudanças não somente uma parcela como todo o povo quer inclusive ele, já quanto a derrubá-lo penso seria melhor deixarmos que se consolide um processo democrático já em andamento e que as urnas decidam,não acha?
Como já disse em um post anterior sem essa percepção e de muitos outros acontecimentos fica difícil e até mesmo impossível o entendimento do que realmente está acontecendo por lá.Ab.
Li seu blog meio distraido e só agora me dei conta que o correspondente no OM da Folha, tal qual o da Globo, está sediado em Jerusalem. Será que os paises árabes não oferecem segurança para um jornalista brasileiro ou qual é a razão?
A BBC divulgou este vídeo, onde o rebelde sírio Abu Sakkar, líder de uma das maiores facções rebeldes que tentam derrubar o presidente Assad, abre o peito de um prisioneiro, extrai seu coração, e o come. Em frente às cameras.
Isso em nome do deus dele, naturalmente. E em nome do terror.
Esse é o tipo de “gente” combatida pelo presidente Assad, tão esculhambado pela mídia internacional por ser… “violento”…
Eu pergunto: como combater esse tipo de “gente”, então?
https://www.youtube.com/watch?v=NTrXYX0XhE4
http://m.bbc.co.uk/news/world-middle-east-22519770
REVOLUÇÂO
a revoluçâo e uma coisa amarga , mesclada de imundicies e de sangue ,e nâo amavel ou perfeita como os poetas parecem pensar . Sobretudo ,è terra-a -terra e implica muita tarefa e cacete ,nâo tâo romanticas como os poetas parecem pensar.