Páscoa de madeira

Diogo Bercito
Celebração de Pessach na Ucrânia, em pintura do século 19

Treze judeus vão se reunir nesta segunda-feira, durante a véspera do Pessach (a Páscoa judaica), em Funchal, a capital do arquipélago português de Madeira. Eles vão realizar, ali, o que está sendo considerado o primeiro Seder –a comemoração de início de Pessach– dos últimos séculos.

A história dos judeus na península Ibérica foi marcada, após o fim da Idade Média, por um período de violenta perseguição. Em 1492, foi emitido o infame Decreto de Alhambra, ou o Edito de Expulsão. Assim, decidiam Isabel de Castela e Ferdinando de Aragão, os judeus estavam expulsos do reino recém-unificado entre ambos os monarcas (na atual Espanha).

Massas de judeus foram convertidas à força ao cristianismo, e passaram a ser chamados pelo nome pejorativo de “marranos”. A etimologia desta palavra vocês vão reconhecer em dois segundos, quando se lembrarem da novela “O Clone” e das coisas que eram “haram”. Pois “marrano” é a adaptação do árabe “muharram”, ou “proibidos”.

O Seder de Madeira está sendo organizado pelo Shavei Israel, uma organização que busca trazer judeus de volta ao judaismo. O mesmo está sendo feito em uma cidade no norte da Espanha, onde a perseguição inquisitória também expulsou os judeus.

Na Espanha, o ritual será realizado em Ribadavia, organizado pelo departamento de turismo da municipalidade, em parceria com o Centro para Estudos Medievais, que pesquisa a história do judaísmo na península Ibérica antes de 1492. 

Não há hoje residentes judeus em Madeira, segundo nota o jornal israelense “Jerusalem Post” aqui. As famílias que participarão do Seder vão vir de Belmonte, no norte do Portugal –conhecida como um centro judaico antes da Inquisição, lançada em 1497 na Espanha e, mais tarde, em Portugal.

Em Ribadavia, de acordo com a pesquisadora Judith Cohen, em levantamento de 1997, ainda há duas famílias judaicas. Porém não são “sefaraditas”, ou seja, não são judeus que estavam a princípio na península Ibérica.

O Seder é um ritual importantíssimo por aqui, e consiste, em linhas gerais, em se lembrar da história do Êxodo, quando os judeus foram libertados da escravidão no Egito. Histórias são contadas, e a tradição pede que todos bebam quatro cálices de vinho.

O ritual é previsto no livro do Êxodo, em que está escrito, e perdoem a tradução livre, porque não tenho uma Bíblia em mãos: “Você deverá contar a seu filho naquele dia, dizendo ‘É devido ao que o Senhor fez para mim quando eu saí do Egito” (Êxodo 13:8).

Comentários

  1. Diogo, A história dos Marranos no Brasil também é muito interessante!
    Veja um artigo do Prof. Angelo Assis sobre o judaísmo feminino no Brasil colonial
    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882002000100004
    A herança judaica de algumas famílias no Brasil também gerou desconfiança e são um foco de lendas…Um exemplo é o Lobisomen do Jequitinhonha (Ou Bicho da Carneira).
    http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/o-lobisomem-do-jequitinhonha

  2. Ida, nem tanto. Faltou o texto passar por uma revisão. A Ilha da Madeira é, de fato, portuguesa, mas a expulsão dos judeus de Portugal não foi em 1492 (isso foi na Espanha, como o texto até informa corretamente, mas de modo um pouco confuso, afinal pode haver leitores que não saibam que Castela e Aragão foram reinos que deram origem à Espanha). Os judeus foram expulsos de Portugal em 1497 (essa informação não aparece). Já a Inquisição portuguesa foi estabelecida em 1536 (e não em 1497, como afirmado). “Castilha” não existe na língua portuguesa nem na espanhola: ou se escreve Castela (em português) ou “Castilla” (em espanhol).

    1. Caro Renato, mil obrigados pelo comentário. O texto se refere à Inquisição como um projeto ibérico, lançado primeiro na Espanha e depois em Portugal. Não acredito, neste caso, que seja um erro factual. Da mesma maneira me referi ao edito como ponto de partida para as perseguições, e não como data da expulsão em Portugal, especificamente. Mas agradeço as informações, vou revisar o texto mais uma vez.

  3. A palavra Judeu não é apropriada aos verdadeiros Hebreus Israelitas. Existem 12 tribos e quem pertence a Y’hudah são chamados Yahudim. Os Hebreus Verdadeiros são os chamados negros-índios. Os filhos de YHWH (JEOVAH)”.

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