Habemus coalizão
Que papa? Em Israel, o conclave era outro: a população aguardava ansiosa há dias o anúncio da formação do 33º gabinete do país. O acordo foi assinado hoje à tarde, como noticia o jornal “Haaretz” aqui.
O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu tinha sido o vencedor nas eleições parlamentares de janeiro deste ano. A aliança de direita firmada entre seu partido, o Likud, e o parceiro Yisrael Beytenu havia conquistado a maior parte das cadeiras do Knesset (o Parlamento israelense –em outro post conto a história desse nome).
Mas é necessário por estas terras formar um governo com a maioria parlamentar, o que levou a seis semanas de negociações entre os partidos, com concessões –e disputas– por todos os lados. Ontem, havia boatos de que a mulher de Netanyahu vetara o nome de Naftali Bennett (do partido Bayit Yehudi) para vice-premiê, gerando azedume nas negociações.
Por fim, foi decidida hoje a divisão das pastas ministeriais, sobre as quais não entro em detalhes aqui. Entre tantos perdedores, está o grupo conhecido como “haredi”, que fica legado à oposição, apesar de compor uma larga fatia da população (700 mil, entre os 6 milhões de judeus, segundo algumas estimativas).
É difícil dar uma boa imagem de qual é a situação desse grupo, no país. Chamados de “ultra-ortodoxos”, em um termo controverso pela carga pejorativa, eles são vistos como o peso-morto do Estado. Os haredim (plural de haredi) têm em algumas situações isenção no serviço militar, afirmando servir ao país com um bem maior: o estudo da Torá, a Bíblia judaica.
Vestidos de preto, com chapéu, e protagonistas de polêmicas públicas –como proibir mulheres de ler a Torá em voz alta no Muro das Lamentações–, os haredim são alvo do desprezo nem sempre velado dos setores seculares.
A posição deles na sociedade é um assunto sério, por aqui, e vai haver quem concorde e quem discorde dos benefícios e do financiamento repassado pelo Estado às “yeshivot” (as escolas de ensino religioso, plural de “yeshivá”).
Fato é, porém, que os haredim tiveram um papel de base no judaísmo a partir da crença, ainda que contestável, de que rezar pelo Estado é mais benéfico do que se engajar em conflitos armados. Historicamente, os haredim se dedicaram ao estudo pelo “temor a Deus” que está na própria terminologia do nome –o verbo “harada” significa “temer”, “estar ansioso”.
Não cabe aqui discutir a realidade desses argumentos. Mas o país, e este blog, estaremos atentos ao desenrolar deste novo governo, que já é formado tendo como uma de suas diretrizes revisar as isenções de serviço militar para os haredim e o financiamento das yeshivot.
Diogo, Na verdade a Torá é composta apenas pelos cinco primeiros livros da bíblia. A Bíblia judaica é o Tanach e corresponde ao Antigo Testamento Cristão!
E dependendo da origem dos haredim, eles estudam Talmud, e não Torá, a vida toda.