Papa cita místico muçulmano em encíclica ambiental
A natureza tem um sentido místico. A afirmação, feita pelo papa Francisco em sua recente encíclica sobre questões ambientais, é um conceito que ele credita não a sábios cristãos –mas ao poeta muçulmano Ali al-Khawas, que viveu no século 9.
A citação feita por Francisco em seu texto, mencionando al-Khawas em um trecho sobre a “descoberta de Deus em todas as coisas”, foi recebida com alguma surpresa após o escrutínio de todo o conteúdo de sua encíclica. A revista “Time”, por exemplo, publicou uma reportagem sobre o tal místico islâmico citado pelo bispo de Roma.
Assim, de acordo com análise do jornal “Washington Post”, o papa demonstrou uma política inclusiva, citando outra religião em seu texto, além de uma perspectiva humilde diante de outras interpretações a respeito de Deus. Segundo Francisco:
O Universo se desdobra em Deus, que o preenche completamente. Assim, há um significado místico a ser encontrado em uma folha, na trilha de uma montanha, em uma gota de orvalho, no rosto de uma pessoa pobre.
A ideia é creditada a al-Khawas em uma nota de rodapé, onde está registrado que o poeta enfatizou “a necessidade de não haver muita distância entre as criaturas do mundo e a experiência interior de Deus”.
Há uma citação direta ao poeta também, de acordo com a “Time”:
A iniciativa irá capturar o que está sendo dito quando o vento sopra, as árvores balançam, a água flui, as moscas zumbem, as portas rangem, as aves cantam, ou no som de cordas ou flautas, nos suspiros dos enfermos, nos grunhidos dos aflitos.
Al-Khawas é um poeta sufista. O sufismo é uma vertente mística do islã que inclui diversos outros sábios, como Rabia al-Adawiya e Mansur al-Hallaj. A busca por Al-Khawas na Wikipedia traz apenas um curto verbete que, basicamente, registra a menção papal.
A quem se interessou pela ideia citada pelo papa, ou sobre o sufismo em geral, a recomendação deste Orientalíssimo blog é a leitura do livro “A Conferência dos Pássaros”, de Attar de Nishapur. É um delicado texto sobre a procura de uma ave lendária persa, o chamado Simorgh, e sobre os defeitos do caráter humano. O texto completo pode ser lido neste link, em inglês.