Orientalíssimo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br por Diogo Bercito Tue, 30 Nov 2021 20:49:20 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 No fim do ano, instituições oferecem cursos sobre o Oriente Médio https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/11/23/no-fim-do-ano-instituicoes-oferecem-cursos-sobre-o-oriente-medio/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/11/23/no-fim-do-ano-instituicoes-oferecem-cursos-sobre-o-oriente-medio/#respond Tue, 23 Nov 2021 19:20:37 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/Israel-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=6359 Nesta semana, o IBI (Instituto Brasil-Israel) oferece uma aula online gratuita sobre as relações entre israelenses e palestinos – um constante tema do noticiário, central ao Oriente Médio contemporâneo. O curso, dado por Tanguy Baghdadi, ocorre na quinta-feira (25) às 19h do horário de Brasília. Baghdadi é professor de relações internacionais do Ibmec, podcaster do Petit Journal e comentarista da Globonews. É preciso se inscrever previamente.

Quem está em busca de mais cursos para este fim de ano pode consultar, também, o calendário do Gepom (Grupo de Estudos e Pesquisa Sobre o Oriente Médio), que sempre tem boas opções. Entre os destaques está o curso de Monique Sochaczewski sobre os judeus do Império Otomano na sexta-feira (27) às 10h. Sochaczewski é cofundadora e pesquisadora sênior do Gepom. Outro destaque é curso de Muna Omran sobre os direitos LGBT em 9 de dezembro às 18h30. Omran é também cofundadora e pesquisadora sênior do Gepom.

Vale a pena ficar de olho, ainda, no Seminário Internacional do Núcleo de Estudos do Oriente Médio da UFF (Universidade Federal Fluminense). A mesa de abertura aconteceu na segunda-feira (22), mas o vídeo segue disponível no YouTube. Participaram Paulo Gabriel Hulu da Rocha Pinto, Paul Amar, Gisele Chagas e John Tofik Karam. Há uma série de outras mesas programadas para estas próximas semanas.

Uma última sugestão é o curso “Pensando a Palestina: direitos humanos e solidariedade internacional”, da rede FFIPP. As aulas começam no dia 4, às 10h. Entre os professores estão o sociólogo palestino Baha Hilo, a bióloga palestina Muna Odeh e o professor da PUC-SP Bruno Huberman. É necessário fazer a inscrição prévia.

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Jornalistas lançam carta criticando cobertura de Israel e Palestina https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/06/10/jornalistas-lancam-carta-criticando-cobertura-de-israel-e-palestina/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/06/10/jornalistas-lancam-carta-criticando-cobertura-de-israel-e-palestina/#respond Thu, 10 Jun 2021 14:56:57 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/Gaza-320x213.jpeg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=6190 Dezenas de jornalistas –atuando em veículos como Washington Post, New Yorker e New York Times– publicaram nesta quarta-feira (9) uma carta aberta criticando a cobertura da imprensa americana em Israel e na Palestina. “Temos uma obrigação –que é sagrada– de contar a história da maneira correta. Toda vez em que falhamos em relatar a verdade, falhamos com nosso público, com nossa missão e com o povo palestino”, diz a carta, que foi assinada por dezenas de profissionais.

Uma das críticas mais duras no manifesto é a de que a imprensa não contextualiza de maneira satisfatória as notícias que conta naquela região do mundo. Não deixa claro, diz o texto, o fato de que Israel ocupa militarmente a Cisjordânia desde 1967. Organizações de direitos humanos acusam o país de crimes contra a humanidade, apartheid e supremacia étnica, conceitos que raramente aparecem na mídia.

A carta também critica, nesse sentido, os termos que jornalistas usam na cobertura de eventos em Israel e na Palestina, como no ciclo de violência recente em Jerusalém e na faixa de Gaza. A imprensa repetiu a narrativa israelense de que a crise no bairro palestino de Sheikh Jarrah era uma disputa imobiliária, diz o texto –quando na realidade era uma expulsão forçada de moradores, violando leis internacionais. Outra palavra condenada pelos signatários é “conflito”, porque não evidencia a disparidade de forças entre os atores. Não foi um conflito, dizem, quando as forças israelenses atacaram manifestantes na mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém. Foi um ataque.

A publicação da carta faz parte de um contexto mais amplo de revisão das atitudes públicas em relação a Israel e à Palestina. Palestinos têm recorrido às redes sociais para criticar a maneira com que a imprensa conta suas histórias. Políticos de renome e celebridades em todo o mundo têm se posicionado, em uma mudança brusca de atitude.

No tuíte abaixo, uma repórter da Associated Press reforça a excepcionalidade do texto desta semana. “Eu nunca vi uma carta como essa antes”, diz. Em especial, porque os signatários estão cientes do custo pessoal e profissional de colocar seus nomes no manifesto.

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Entenda por que Sheikh Jarrah está no centro da crise em Jerusalém https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/05/10/bairro-palestino-sheikh-jarrah-esta-no-centro-da-crise-em-jerusalem/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/05/10/bairro-palestino-sheikh-jarrah-esta-no-centro-da-crise-em-jerusalem/#respond Mon, 10 May 2021 21:23:06 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/Jerusalem-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=6144 O pavio da violência está reaceso em Jerusalém e, ao que parece, pode levar algum tempo para se apagar. Em seu coração, está um pequeno bairro palestino chamado Sheikh Jarrah –quase esquecido nestes últimos dias, entre as notícias de embates e bombardeios aéreos.

A história não é nova. Há anos, na verdade, essa vizinhança em Jerusalém Oriental opõe palestinos e israelenses. Em 2014, quando eu era correspondente da Folha no Oriente Médio, eu escrevi uma reportagem sobre as tensões entre os moradores daquele bairro.

As casas de Sheikh Jarrah foram construídas em 1956 pelo governo Jordaniano –que naquela época controlava a parte leste de Jerusalém– para abrigar famílias de refugiados palestinos. Eles tinham sido forçados a deixar as suas casas após a criação do Estado de Israel, em 1948. Depois da subsequente tomada de Jerusalém Oriental por Israel, em 1967, colonos israelenses começaram a se mudar para o bairro.

Em parte, os colonos se baseavam na história da comunidade judaica que morava ali na Antiguidade, perto da tumba de Simeão, um sumo sacerdote de em torno de 300 a.C. Eles se baseavam também na suposta compra de terrenos no século 19, contestada por palestinos. A lei israelense permite que israelenses retomem as propriedades que eles deixaram em 1948. Palestinos, porém, não podem fazer o mesmo.

Após uma série de disputas legais, Israel começou a despejar famílias palestinas de Sheikh Jarrah, no que palestinos chamam de limpeza étnica. A última vez foi em 2009, com a expulsão das famílias Hanoun e Ghawi. Mas a tensão seguiu. Em 2014, quando escrevi minha reportagem, a família Kurd tinha que dividir sua casa com colonos judeus que tinham se instalado ali, sob a vista das autoridades.

A retomada recente de ações de despejo voltou a inflamar os ânimos. Há ações em curso para expulsar diversas famílias. Houve protestos de palestinos contra essas medidas, seguidos de embates com as autoridades israelenses. Sheikh Jarrah se tornou, assim, um símbolo de uma questão maior –em especial, o uso de leis que se aplicam apenas a parte da população e a frequente expulsão de palestinos de suas casas.

Foi nesse contexto que os últimos eventos se desenrolaram. Entre eles, a violência na mesquita de al-Aqsa, a terceira mais sagrada para o islã. Forças de segurança israelenses dispararam balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo dentro da mesquita, que estava lotada de fiéis neste período festivo de ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos. Segundo o Centro Palestino para os Direitos Humanos, 305 palestinos foram feridos no local nesta segunda-feira (10).

Agravando a situação, a facção radical Hamas lançou foguetes contra Jerusalém. O grupo, considerado terrorista por Israel e pelos Estados Unidos, vinha ameaçando Israel devido ao que estava acontecendo em Sheikh Jarrah e na mesquita de al-Aqsa. Em revide, o Exército israelense bombardeou a faixa de Gaza. Segundo o Hamas, nove pessoas morreram durante os ataques aéreos, incluindo três crianças.

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Indicado ao Oscar, curta palestino entra no cardápio da Netflix https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/03/18/indicado-ao-oscar-curta-palestino-entra-no-cardapio-da-netflix/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/03/18/indicado-ao-oscar-curta-palestino-entra-no-cardapio-da-netflix/#respond Thu, 18 Mar 2021 14:02:30 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/ThePresent-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=6066 O curta-metragem palestino “The Present” entrou nesta quinta-feira (18) no serviço de streaming Netflix. Indicado ao Oscar, o filme de 24 minutos conta a história de um homem palestino e sua filha tentando cruzar as fronteiras entre a Cisjordânia e Israel para comprar um presente. O trailer está disponível abaixo, com legendas em inglês:

“The Present” é dirigido pela palestina-britânica Farah Nabulsi, responsável por outros quatro curtas: “Today They Took My Son” (hoje levaram meu filho), “Oceans of Injustice” (oceanos de injustiça) e “Nightmare of Gaza” (pesadelo de Gaza). O enfoque de sua obra é a vida nos territórios palestinos ocupados por Israel. Nabulsi agora trabalha em um longa-metragem que ainda não foi anunciado.

A edição do Oscar deste ano conta também com um filme tunisiano. O longa “O Homem Que Vendeu Sua Pele”, da diretora Kaouther Ben Hania, concorre na categoria de melhor filme internacional. É a história de um refugiado sírio que deixa um homem tatuar suas costas em troca de um visto para viajar à Europa. O trailer está abaixo:

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Instituto brasileiro lança livro acadêmico sobre Israel e Palestina https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/02/16/instituto-brasileiro-lanca-livro-academico-sobre-israel-e-palestina/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/02/16/instituto-brasileiro-lanca-livro-academico-sobre-israel-e-palestina/#respond Tue, 16 Feb 2021 16:41:44 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/IBI2-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=6015 O IBI (Instituto Brasil-Israel) lança no fim deste mês o livro “Conflitos e Religiosidades: Israel, Palestina e Estudos Judaicos no Brasil” (R$ 39,90, 344 págs.). O volume, publicado em parceria pelo instituto e pela Universidade de Pernambuco, é organizado pelos professores Karl Schurster, Michel Gherman e Omar Thomaz. São 12 artigos, incluindo um estudo sobre a memória de soldados na invasão do Líbano em 1982 e uma pesquisa sobre uma igreja judaico-pentecostal em Recife.

É uma importante contribuição ao campo dos estudos judaicos no Brasil, que remonta aos anos 1960 com pesquisas sobre migração e antissemitismo. O texto de apresentação do livro traça um excelente resumo dessa tradição, apontando suas principais contribuições à academia — e suas lacunas. “A ascensão de uma nova (e assustadora) direita, no Brasil e no mundo, não podia deixar de ter um profundo impacto nos estudos judaicos”, escrevem os autores. “No campo das relações internacionais, a já tradicional centralidade de Israel, em particular, e do Oriente Próximo, em geral, é redimensionada a partir da atuação de lideranças como Donald Trump e Jair Bolsonaro.”

O lançamento do livro será formalizado durante um evento online neste dia 26 das 14h às 17h30. Serão três mesas com convidados: uma sobre o conflito Israel-Palestina, outra sobre memória e narrativas e por fim a última sobre identidades locais. A participação é gratuita.

O livro “Conflitos e Religiosidades” é um produto do laboratório de pesquisa inaugurado pelo IBI em 2020. É uma parceria com núcleos de estudos judaicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Pontifícia Universidade Católica de SP, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade de Pernambuco.

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Em discurso pelo impeachment, Nancy Pelosi cita canção israelense https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/01/13/em-discurso-pelo-impeachment-nancy-pelosi-cita-cancao-israelense/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/01/13/em-discurso-pelo-impeachment-nancy-pelosi-cita-cancao-israelense/#respond Wed, 13 Jan 2021 21:26:03 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/Pelosi-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5955 Nancy Pelosi, presidente da Câmara americana, citou nesta quarta-feira (13) uma canção israelense ao discursar pelo impeachment de Donald Trump. Ao dizer que o presidente incitou uma insurreição, ela mencionou o poema “Ein Li Eretz Acheret” (não tenho outra terra).

O texto é de Ehud Manor, que escreveu as letras de mais de mil canções. Ele compôs essa faixa em 1982 — quando Israel invadiu o Líbano. Eram anos de intensos protestos sociais no país, e Manor queria que a canção se tornasse um hino da esquerda israelense.

“Ein Li Eretz Acheret” versa em tradução livre: “Não posso ficar em silêncio diante do quanto minha terra mudou seu rosto / Não vou parar de tentar lembrá-la / Em seu ouvido cantarei meu choro / Até que ela abra seus olhos”. É um canto de descontentamento com uma nação que decepciona, mas também uma declaração de amor quase incondicional. Uma música para países que quase não se parecem o que haviam sido. O vídeo dessa canção está abaixo, em hebraico.

Emendando na citação de “Ein Li Eretz Acheret”, Pelosi pediu que os legisladores republicanos — do mesmo partido de Trump — abrissem seus olhos e responsabilizassem o presidente por suas ações. Pesa, em especial, a acusação de que Trump incitou a turba que invadiu o Capitólio no último dia 6. Segundo o texto do impeachment, “incitados pelo presidente, membros da multidão à qual ele se dirigiu (…) violaram e vandalizaram o Capitólio, feriram e mataram equipes de segurança, ameaçaram membros do Congresso e o vice-presidente e se engajaram em atos violentos, mortais, destrutivos e sediciosos”.

O vídeo em que Pelosi menciona o poema está no tuíte abaixo.

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Em parceria com a Flip, instituto faz lives com autores israelenses https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/12/10/em-parceria-com-a-flip-instituto-faz-lives-com-autores-israelenses/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/12/10/em-parceria-com-a-flip-instituto-faz-lives-com-autores-israelenses/#respond Thu, 10 Dec 2020 13:09:20 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/Keret-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5895 O Instituto Brasil-Israel organiza nos dias 12 e 18 uma série de mesas virtuais com autores israelenses. Uma das principais conversas será entre o israelense Itamar Rabinovich e a brasileira Vera Araújo, que vão falar sobre os assassinatos do premiê Yitzhak Rabin em 1995 e o da vereadora Marielle Franco em 2018. A ideia é explorar as dimensões políticas de ambas as mortes, situadas em contextos de radicalização e violência. Rabinovich foi embaixador de Israel nos Estados Unidos e trabalhou com Rabin. Araújo, por sua vez, é repórter do Globo.

Os Espaços Literários Brasil-Israel ocorrem em paralelo à Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), cuja programação oficial foi de 3 a 6 de dezembro. A transmissão acontece pela página oficial da Flip no YouTube e pela página do IBI no Facebook de maneira gratuita.

Serão seis mesas. As primeiras três, no dia 12, já foram divulgadas. Às 11h, falam Rabinovich e Araújo, com mediação de Micheline Alves. Às 14h, a reunião é entre o escritor israelense Etgar Keret — com quem conversei há alguns anos — e o brasileiro Gregório Duvivier, com mediação de Ricardo Teperman. Às 16h ocorre o último encontro, desta vez entre a escritora israelense Ayelet Gundar-Goshen e a repórter Adriana Carranca, com mediação de Maria Laura Neves.

A lista de mesas do dia 18 ainda não foi divulgada, mas este Orientalíssimo apurou que os debates devem contar com o cineasta israelenses Amos Gitai (“O Dia do Perdão”) e o ativista político Gershon Baskin. Os horários desse dia ainda não foram confirmados.

O Instituto Brasil-Israel planeja a sua parceria com a Flip há anos. A ideia era ocupar uma casa em Paraty, durante o festival. A pandemia da Covid-19, no entanto, fez com que o evento acontecesse apenas de maneira virtual neste ano e com uma programação mais reduzida.

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Eleição de Biden é recebida com cautela e humor no Oriente Médio https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/11/09/eleicao-de-biden-e-recebida-com-cautela-e-humor-no-oriente-medio/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/11/09/eleicao-de-biden-e-recebida-com-cautela-e-humor-no-oriente-medio/#respond Mon, 09 Nov 2020 15:13:37 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/PHOTO-2020-11-09-10-08-50-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5862 Enquanto os Estados Unidos contavam os votos de sua eleição, circulava nas redes do Oriente Médio uma série de variações de um mesmo meme. Imagens de homens entediados vinham acompanhadas de uma legenda mais ou menos nesta linha: “árabes esperam para saber quem vai vencer e ser o próximo a invadir o Oriente Médio”.

Também se espalharam inúmeras imagens com o termo árabe “inshallah”, dito pelo democrata Joe Biden durante um debate com o republicano Donald Trump. Em árabe, “inshallah” significa “se Deus quiser”. É de onde vem o termo em português “oxalá”. Com isso, usuários das redes sociais fizeram a troça de que Biden venceu as eleições de terça-feira (3) porque falou a palavra quase mágica.

Esses dois memes simbolizam, de certa maneira, a mistura de cautela e humor entre quem acompanhou o pleito americano no Oriente Médio. Cautela porque, afinal, ninguém espera que o presidente eleito Biden vá mudar a região de maneira radical. Ele deve manter a embaixada americana em Jerusalém, por exemplo, e continuar a reconhecer a presença israelense nas colinas do Golã – duas medidas de Trump que causaram revolta. No máximo, a eleição de Biden serviu de incentivo aos movimentos que pedem a saída do premiê israelense Binyamin Netanyahu. O tuíte abaixo diz: “Agora que ele se foi, é a sua vez”.

Já o humor com que as pessoas receberam a eleição de Biden vem do fato de que poucos entre as populações na região consideravam Trump um aliado. Árabes e iranianos vivendo nos Estados Unidos e seus descendentes, muito menos. Trump foi o responsável por um veto à entrada de cidadãos de diversos países de maioria muçulmana, por exemplo, afetando quem vinha de lugares como a Síria, o Iêmen e o Irã. Biden prometeu que vai reverter essa medida no seu primeiro dia de governo. Trump insistia nos debates em que tal decisão iria permitir que terroristas entrassem no país “para explodir nossas cidades”.

Além de reverter o veto à entrada de muçulmanos, Biden deve se afastar de Trump em outras políticas em relação ao Oriente Médio. Como este Orientalíssimo blog mostrou antes das eleições, a expectativa é de que o presidente eleito se afaste de regimes autoritários como o da Arábia Saudita e o do Egito. Ele também deve tomar uma posição mais dura em relação ao governo turco — analistas disseram à Al Jazeera, por exemplo, que Trump era o único aliado que restava à Turquia em Washington, a capital americana.

Ainda é cedo, é claro, para saber se o resultado da eleição de Biden será positivo, negativo ou mesmo neutro para o Oriente Médio. O que sabemos é que, no ínterim, as populações da região seguem atentas ao que acontece nos Estados Unidos. A charge no tuíte abaixo resume essa situação, ao mostrar passageiros de um táxi no Irã discutindo quais estados americanos iriam determinar o resultado deste pleito.

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Biden e Trump têm visões distintas para o futuro do Oriente Médio https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/26/biden-e-trump-tem-visoes-distintas-para-o-futuro-do-oriente-medio/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/26/biden-e-trump-tem-visoes-distintas-para-o-futuro-do-oriente-medio/#respond Mon, 26 Oct 2020 20:20:17 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/Sisi-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5834 Os Estados Unidos votam no próximo dia 3 em uma das eleições mais importantes de sua história recente. A pandemia do coronavírus, que já matou mais de 225 mil pessoas no país, é um dos temas centrais do panorama eleitoral, acompanhado pela questão de como reconstruir uma economia em frangalhos. Com isso, sobrou pouco tempo para os candidatos falarem em política externa. Nos debates entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, mal se falou no tema. O silêncio não quer dizer, no entanto, que o tema seja irrelevante. Trump e Biden representam visões distintas sobre que papel os Estados Unidos devem desempenhar no exterior. No que diz respeito ao Oriente Médio, por exemplo, a eleição de um ou de outro pode impactar as políticas americanas em relação a Israel e ao Irã.

Um dos principais pontos de desacordo entre Trump e Biden é a relação dos Estados Unidos com regimes autoritários na região. Trump tem boas relações com líderes acusados de reprimir suas populações. Ele já se referiu ao egípcio Abdel Fattah al-Sisi como seu “ditador favorito”. O republicano é próximo também da monarquia da Arábia Saudita, apesar do assassinato do jornalista dissidente saudita Jamal Khashoggi, algo que motivou uma intensa crítica internacional.

Biden, por outro lado, tem uma postura mais dura. O democrata, é claro, não vai romper laços com importantes parceiros na região como o Egito e a Arábia Saudita caso seja eleito. Mas, segundo algumas análises, ele deve ao menos cobrar que esses regimes cessem suas violações aos direitos humanos em troca, por exemplo, de oportunidades comerciais. No caso saudita, isso pode significar restrições na venda de armas, algo menos provável sob Trump. Biden deve tentar, também, retirar o apoio à guerra saudita no Iêmen.

Em outras áreas, porém, uma eventual vitória de Biden dificilmente vai fazer com que os Estados Unidos mudem sua posição de maneira drástica. Um relatório recente do Eurasia Group sugere, nesse sentido, que o governo americano terá tantas questões domésticas para resolver em 2021 que terá pouco tempo para o Oriente Médio.

O conflito árabe-israelense é um bom exemplo. Trump fomentou um plano de paz que escanteou os palestinos e exacerbou a impressão de que os Estados Unidos não são um mediador isento. O republicano também tomou a decisão de mover a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém — emulada pelo Brasil de Jair Bolsonaro — e promoveu o reconhecimento da presença israelense nos territórios disputados das colinas de Golã. Essas duas medidas romperam com o consenso internacional e com o precedente dos próprios Estados Unidos. Além disso, Trump tem dado bastante atenção ao Oriente Médio, patrocinando acordos entre Israel e os Emirados Árabes, o Bahrein e o Sudão. Na prática, está isolando ainda mais os palestinos.

Não existe a expectativa de que, se eleito, Biden vá reverter o curso dessas políticas. O democrata, por exemplo, já elogiou publicamente os acordos entre Israel e os Emirados. Será difícil, também, voltar atrás na localização da embaixada ou da soberania nas colinas. Ainda assim, segundo algumas análises, Biden deve tentar reposicionar os Estados Unidos como um mediador neutro. Talvez isso signifique retomar alguns dos programas de auxílio aos palestinos encerrados por Trump. Ele também deverá ter uma relação menos calorosa com o líder israelense Binyamin Netanyahu, a quem Trump tanto elogia.

Um outro tema no qual Biden não difere tanto de Trump é na relação entre os Estados Unidos e o Irã. Se vencer o pleito, o democrata não deve correr para se reaproximar de Teerã. Ele tampouco deve remover de imediato as sanções econômicas impostas por Trump. O que talvez Biden faça diferente, se morar na Casa Branca, é tentar trazer o Irã à mesa de negociação, em vez de se afastar por completo. A ideia é condicionar as relações com Teerã ao cumprimento das restrições a seu programa nuclear. Como mostra um texto da Bloomberg, essa possibilidade já preocupa Israel e países do Golfo. Uma outra reportagem sugere que o Irã pode começar a exportar até 2 milhões de barris de petróleo por dia se Biden vencer o pleito — outro sinal do impacto que o voto do dia 3 nos Estados Unidos pode ter no mundo.

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Editora brasileira lança tomo sobre a história do judaísmo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/09/21/editora-brasileira-lanca-tomo-sobre-a-historia-do-judaismo/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/09/21/editora-brasileira-lanca-tomo-sobre-a-historia-do-judaismo/#respond Mon, 21 Sep 2020 14:44:31 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Judaismo-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5750 Os leitores deste Orientalíssimo blog frequentemente me escrevem — por email ou mensagem no Twitter — pedindo recomendações de leituras sobre o Oriente Médio. Às vezes sofro para responder. Afinal, há pouca literatura disponível em português. Celebro, por isso, quando recebo notícias de lançamentos de novos livros sobre essa região.

É o caso de “A História do Judaísmo” (752 págs., R$ 189,90), de Martin Goodman, que acaba de ser publicado no Brasil pela Editora Planeta. Professor da Universidade Oxford, Goodman narra o que aconteceu nos longos milênios desde o surgimento dessa religião. A história do judaísmo começa no Oriente Médio e se espalha pelo mundo, seguindo a diáspora judaica. É uma religião mundial, Goodman escreve, e reflete o mundo pelo qual os judeus circularam. Isso inclui, é claro, o Brasil.

Goodman, no entanto, menciona os judeus brasileiros em apenas três passagens. Ele cita, em primeiro lugar, as comunidades judaicas do nordeste brasileiro durante o século 17 sob o domínio holandês. Depois, menciona o Brasil como uma das principais diásporas judaicas do mundo. Por último, explica como algumas organizações de caridade ajudaram judeus a migrar para colônias agrícolas, como o Brasil.

Quem quiser complementar a leitura e saber mais sobre o Brasil pode procurar o trabalho de Maria Luiza Tucci Carneiro. Goodman, por outro lado, oferece detalhes sobre todo o restante da história. Ele escreve, por exemplo, sobre o início do judaísmo, a Torá, os debates em torno da doutrina, o exílio, a cabala e o hassidismo. O professor de Oxford também narra, evidentemente, o surgimento do Estado de Israel — tema que deve interessar, em especial, aos leitores do blog.

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