Orientalíssimo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br por Diogo Bercito Tue, 30 Nov 2021 20:49:20 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 New York Times questiona trabalho de sua repórter sobre terrorismo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/12/jornal-questiona-cobertura-de-sua-propria-reporter-sobre-terrorismo/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/12/jornal-questiona-cobertura-de-sua-propria-reporter-sobre-terrorismo/#respond Mon, 12 Oct 2020 14:47:25 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/EI-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5808 A repórter Rukmini Callimachi, do New York Times, se firmou nos últimos anos como uma das grandes especialistas da imprensa em terrorismo. Foi  indicada ao consagrado prêmio Pulitzer por suas investigações sobre as organizações radicais al-Qaida e Estado Islâmico. Virou uma das estrelas daquele jornal americano. Foi tida como um novo modelo de repórter, conectado às redes sociais e capaz de produzir um variado material audiovisual em diversas plataformas.

Até que, no fim de setembro, a polícia canadense acusou um homem conhecido como Abu Huzayfah de ter mentido sobre ter feito parte do Estado Islâmico. Huzayfah é um dos personagens principais do podcast Caliphate, do New York Times, e Callimachi baseou parte de sua premiada narrativa na história dele — que, ao que parece, era falsa. Caíram por terra, assim, algumas das detalhadas descrições de Callimachi sobre como funcionava aquele auto-proclamado califado.

A notícia não ruiu apenas o podcast da repórter. Com as informações divulgadas desde então, ficou evidente que Callimachi, assim como seus chefes, estavam cientes da fragilidade do depoimento de Huzayfah. Ainda assim, decidiram lançar o projeto em abril de 2018, pelo qual colheram loas. Colegas e ex-colegas foram a público, ademais, para questionar o trabalho de Callimachi. O New York Times decidiu investigar algumas das reportagens da jornalista. No domingo (11), o próprio jornal publicou um artigo sobre os problemas no trabalho.

“Ela era tida como  uma estrela — uma posição que a ajudou a sobreviver uma série de questionamentos feitos nos últimos seis anos por colegas no Oriente Médio”, segundo o texto do New York Times. Ela foi criticada por um de seus tradutores, por exemplo. Foi acusada, também, por ter coletado milhares de documentos no Iraque e levado embora. Foi dito que sua abordagem em relação ao terrorismo resvalava no sensacionalismo. E veio à tona um episódio do ano passado, em que especialistas em terrorismo provaram que os documentos usados por Callimachi em outra matéria eram falsos. Veja abaixo, em inglês, alguns dos tuítes desmentindo a apuração dela.

Além do New York Times, outros grandes veículos americanos têm acompanhado a crise em torno do trabalho de Callimachi. O Washington Post, por exemplo, publicou também um longo artigo destrinchando as inconsistências na apuração dela. Mas a questão não é apenas sobre prática jornalística. O trabalho de um repórter como Callimachi tem consequências na elaboração de políticas. Como lembra o New York Times, a apuração dela foi citada por autoridades americanas avessas à migração de muçulmanos aos Estados Unidos. Os textos de Callimachi também influenciaram o debate no Canadá sobre o que fazer com as mulheres de membros do Estado Islâmico.

Para este Orientalíssimo blog, a questão toca em outro ponto importante sobre a cobertura feita pela imprensa em lugares como a Síria e o Iraque. Por vezes, jornalistas não seguem o mesmo rigor que é esperado, por exemplo, de quem escreve sobre os Estados Unidos ou a Europa. Proliferam, ademais, jornalistas que — como Callimachi — não falam árabe e, portanto, dependem de tradutores para conversar com seus interlocutores. Não é raro encontrar em campo jornalistas que pouco ou nada estudaram sobre o Oriente Médio, mas acabam determinando o tom do debate público. Testemunhei isso inúmeras vezes, como correspondente da Folha em Jerusalém em 2013 e 2014.

Ainda há, por outro lado, bastantes entusiastas do trabalho de Callimachi. Ela própria tem compartilhado em seu perfil na rede social Twitter diversas mensagens de apoio e elogios à cobertura. Em uma das mensagens que Callimachi retuitou, Margaret Sullivan — do Washington Post — sugere que parte das críticas à repórter é resultado de ressentimento de seus colegas, inveja por seu sucesso e machismo.

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No Reino Unido, homem cozinha com receita babilônica de 4.000 anos https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/07/01/no-reino-unido-homem-cozinha-com-receita-babilonica-de-4-000-anos/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/07/01/no-reino-unido-homem-cozinha-com-receita-babilonica-de-4-000-anos/#respond Wed, 01 Jul 2020 18:38:26 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/Bill.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5514 Cordeiro, cevada, alho poró, coentro. Os ingredientes são quase corriqueiros, mas a refeição que William Sutherland cozinhou no domingo (28) é excepcional — e antiquíssima. Ele seguiu uma receita de 1750 a.C, da Antiga Babilônia. O texto, talhado em uma tabuleta, tem quase 4.000 anos. É uma das receitas mais antigas do mundo.

Sutherland, um biólogo britânico, encontrou os textos babilônicos no livro “Anciente Mesopotamia Speaks” (A Antiga Mesopotâmia fala), editado por Agnete Lassen, Eckart Frahm e Klaus Wagensonner. Ele compartilhou seus experimentos na rede social Twitter, onde reproduziu as receitas e publicou as fotografias dos seus pratos.

As tabuletas com texto cuneiforme não têm instruções claras nem quantidades. Sutherland precisou, assim, improvisar na cozinha. O biólogo também decidiu substituir alguns ingredientes. Em vez de sangue de ovelha, colocou molho de tomate. Alguns dos pratos, ele diz, não ficaram assim tão deliciosos. Foi o ensopado de cordeiro que deu mais certo — foi “fácil” e ficou “delicioso”, nas palavras do mestre-cuca.

As aventuras culinárias de Sutherland se parecem com as do americano Samuel Blackley, que assou um pão no ano passado usando uma levedura do Antigo Egípcio. Com a ajuda da arqueóloga Serena Love, da Universidade Queensland, ele extraiu um fermento adormecido em uma cerâmica egípcia e o usou para cozinhar.

Veja abaixo o tuíte de Sutherland. “Culpo a quarentena, mas por algum motivo decidi fazer uma receita babilônica a partir da tabuleta à direita”, o texto diz. “Foi a melhor refeição babilônica que já comi.”

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Ativistas iraquianos fazem versão local da canção ‘Bella Ciao’ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/29/ativistas-iraquianos-fazem-versao-local-da-cancao-bella-ciao/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/29/ativistas-iraquianos-fazem-versao-local-da-cancao-bella-ciao/#respond Tue, 29 Oct 2019 12:19:38 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/Screen-Shot-2019-10-28-at-10.55.04-PM-320x213.png https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4939 Nas últimas semanas, uma grande fatia da população do Iraque foi às ruas–como foram às ruas também os chilenos, os equatorianos e os libaneses. As multidões conglomeradas em Bagdá exigem o fim da corrupção, a melhora na qualidade de vida e um governo menos pautado por conflitos sectários. Como parte dos protestos, ativistas produziram uma versão em árabe do clássico italiano “Bella Ciao”. Repetem no refrão: “Sem opções, sem opções, sem opções opções!”.

Parte do folclore italiano, a canção “Bella Ciao” foi transformada em hino anti-fascista nos anos 1940. Ficou ainda mais conhecida depois de aparecer na série espanhola “Casa de Papel” — o personagem Professor diz ter aprendido a letra com seu avô, membro da resistência italiana. Manifestantes contrários a Jair Bolsonaro também adotaram o “Bella Ciao”, cantando com a letra “ele não, ele não, ele não não não”.

Veja abaixo o vídeo da versão iraquiana da faixa, cantada em árabe.

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Estudantes usam Minecraft para recriar monumentos no Oriente Médio https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/07/16/estudantes-usam-minecraft-para-recriar-monumentos-no-oriente-medio/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/07/16/estudantes-usam-minecraft-para-recriar-monumentos-no-oriente-medio/#respond Tue, 16 Jul 2019 19:48:30 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/Nuri-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4766 Um projeto feito em parceria entre a Microsoft e a Unesco (agência da ONU para educação e cultura), com a liderança do professor brasileiro Francisco Tupy, ensina estudantes a utilizar o game Minecraft para reconstruir monumentos destruídos no Oriente Médio — como Palmira, na Síria, e a mesquita al-Nuri, no Iraque. Essa história foi recentemente contada pela Anba (Agência de Notícias Brasil-Árabe).

Tupy, que tem origem saudita, é um dos idealizadores do jogo educativo History Blocks. Ele é um dos principais especialistas brasileiros em Minecraft, uma espécie de Lego virtual em que os participantes utilizam blocos para construir o que bem entenderem. No History Blocks, os alunos são desafiados a montar os monumentos destruídos. No processo, estudam as construções e utilizam os conceitos que aprenderam nas aulas de matemática. Tupy disse à Anba:

Quisemos fazer um jogo que ajudasse na solução de problemas e na conscientização da responsabilidade que a humanidade tem perante seus patrimônios, utilizando o professor como mediador e fazendo com que os alunos fossem motivados a pesquisar sobre história, matemática, geografia, antropologia, e a desenvolver uma empatia global, para que eles se reconheçam no próximo, entendam a variedade de culturas e comportamentos no mundo. E ao reconstruir estes patrimônios, o jogo ajuda na construção de conhecimento e pode até ter valor de documento histórico.

O game já é utilizado em algumas escolas brasileiras desde maio, segundo a Anba, incluindo instituições em São Paulo, no Rio e no Ceará. Qualquer escola interessada no projeto pode baixar as instruções no site do jogo. Há outros exemplos de uso de Minecraf para fins educativos, como o mapa interativo representando uma floresta ameaçada pelo desmatamento na Polônia ou o curso de química que utiliza recursos do joguinho. O game foi até citado no Enem.

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Seca no Iraque faz reserva recuar e revela palácio de 3.400 anos https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/28/seca-no-iraque-faz-reserva-recuar-e-revela-palacio-de-3-400-anos/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/28/seca-no-iraque-faz-reserva-recuar-e-revela-palacio-de-3-400-anos/#respond Fri, 28 Jun 2019 14:41:34 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/Mitani-e1561732440700-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4728 Devido a um preocupante período de seca, o nível da água na reserva de Mossul — no norte do Iraque — está mais baixo do que de costume. O litoral recuou de tal maneira nestes meses que revelou as ruínas de um palácio de 3.400 anos. O achado foi anunciado na quinta-feira (27) por um time de arqueólogos alemães e curdos, que descreveram aquela descoberta como a mais importante das últimas décadas na região.

O palácio não era de todo desconhecido. O terreno foi inundado nos anos 1980 para a construção da represa e, em 2010, as ruínas já tinham aparecido brevemente, como explica o site curdo Kurdistan24. Não houve tempo para estudá-las antes de submergirem outra vez, porém, até que voltaram a aparecer no ano passado quando a água secou ali.

Segundo os pesquisadores, o palácio recém-descoberto é um dos poucos exemplos de construções do antigo Império Mitani. “O Império Mitani é um dos menos estudados do antigo Oriente Próximo”, disse a arqueóloga Ivana Puljiz, da Universidade de Tübingen, segundo a rede alemã DW. A própria capital do Império Mitani segue desconhecida.

O time de pesquisadores encontrou ao menos dez tabuletas com escrita cuneiforme dentro do palácio, além de rastros de pintura vermelha e azul nas paredes. As tabuletas são um importantíssimo recurso, pois permitem que os arqueólogos conheçam mais sobre aquela civilização, assim que decifrarem os escritos.

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Por atritos políticos, árabes celebram ramadã em diferentes datas https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/04/por-atritos-politicos-arabes-celebram-ramada-em-diferentes-datas/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/04/por-atritos-politicos-arabes-celebram-ramada-em-diferentes-datas/#respond Tue, 04 Jun 2019 15:41:06 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/akurat_20190524015633_1deU9Y-e1559662390354-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4697 O calendário do ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos, envolve todo os anos uma certa pitada de política. O período de jejum — se você não se lembra do que é o ramadã, releia este guia que escrevi há alguns anos — termina em uma suntuosa celebração conhecida como Eid al-Fitr. Mas a data é variável, pois depende da aparição da lua nova nos céus. Cada país decide quando está na hora de comemorar, uma decisão que frequentemente segue os seus alinhamentos políticos.

Apesar de a política estar sempre presente, ela parece vir em dose extra neste ano, como sugere um texto da agência de notícias Associated Press. A Arábia Saudita celebra o festival já nesta terça-feira (4), ao lado de Kuait, Qatar e Emirados Árabes Unidos. Do outro lado do espectro, Egito, Síria, Jordânia e Palestina anunciaram que vão esperar até a quarta-feira (5), por não terem visto a lua nova em seus territórios. No passado, jordanianos e palestinos seguiram o calendário saudita, algo com que parecem ter rompido agora, causando certo desconforto.

Segundo a agência de notícias, o Eid al-Fitr já tinha sido anunciado na faixa de Gaza, mas foi adiado após as autoridades religiosas em Jerusalém decidirem outra data. A notícia foi recebida com algum protesto no território palestino — afinal, além do significado religioso, o fim do ramadã também significa romper o jejum de um mês.

A situação é ainda mais delicada no Sudão, dividido politicamente desde a derrocada do ditador Omar al-Bashir em abril passado. O regime militar de transição anunciou que o Eid al-Fitr começa na quarta-feira, mas os manifestantes disseram que vão celebrar na terça.

Algo semelhante aconteceu no Iêmen, um país em guerra civil após a onda de protestos de 2011. O governo reconhecido internacionalmente vai comemorar na terça-feira. Os rebeldes xiitas da facção Huthi, no entanto, vão esperar até o dia seguinte. A Associated Press diz que é a primeira vez na história moderna do país em que o Eid é dividido.

Essa situação se repete no restante da região. Sunitas e xiitas — ramos do islã — celebram em datas diferentes no Líbano e no Iraque, por exemplo. Na rede social Twitter, o analista Haizam Amirah-Fernández resumiu o cenário na mensagem abaixo, em espanhol. O fim do ramadã não depende da lua nova, ele escreveu, e sim da política.

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Historiador iraquiano convida especialistas para visitar Mossul https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/05/01/historiador-iraquiano-convida-especialistas-para-visitar-mossul/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/05/01/historiador-iraquiano-convida-especialistas-para-visitar-mossul/#respond Tue, 01 May 2018 11:11:56 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/MosulEye-e1525172489541-320x213.jpeg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3632 RSVP. Um historiador convida especialistas no Oriente Médio para visitar sua universidade em um futuro próximo. O endereço: Mossul.

Omar Mohammed fez na segunda-feira (30) esse convite em sua conta na rede social Twitter, com a expectativa de criar uma rede de especialistas. O objetivo, como em outras de suas campanhas, é contribuir para a reconstrução de Mossul — que até recentemente era o principal bastião da organização terrorista Estado Islâmico (este Orientalíssimo blog esteve naquela cidade em dezembro passado).

O convite traz o peso do nome de Mohammed, hoje uma das referências para quem acompanha o dia a dia de Mossul. Ele é o autor do popular blog Mosul Eye, onde por dois anos circularam algumas das poucas informações confiáveis sobre a cidade e o conflito. Mohammed a princípio escrevia sob anonimato, por questões de segurança, mas revelou sua identidade há alguns meses. Tem 31 anos e mora ali.

A publicação mobilizou acadêmicos. Pouco depois, dois deles já haviam escrito ao historiador. Ele comentou, em inglês, que “precisamos de mais estudiosos, orientalistas, pesquisadores que realmente possam entender a situação”. E se desculpou também: “Caros jornalistas, não me levem a mal, muitos de vocês fizeram um ótimo trabalho. Mas muitos outros criaram um grande desentendimento sobre Mossul.”

Alguns professores aceitaram o convite para viajar à cidade e se disponibilizaram também para contribuir com o ensino ali . É o caso desta mensagem reproduzida pelo historiador, em inglês: “Estou incrivelmente interessado em visitar a Universidade de Mossul e também vir lecionar de maneira voluntária por algo como um mês.”

A rede de especialistas se internacionalizou, com propostas vindas não só dos EUA e de países europeus, mas também de outras praças — como a Universidade de Hong Kong. “Seria um imenso prazer”, escreveu um estudioso dali, segundo diz o historiador iraquiano.

Alguns dos convidados divulgaram eles próprios a sua participação, escrevendo mensagens em suas contas na rede social Twitter. Foi o caso de Paul Cooper. “Todo acadêmico que queira ajudar a universidade a se reerguer precisa entrar em contato com o Omar.”

Ruínas em Mossul. Crédito Diogo Bercito – dez.2018/Folhapress
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Stephen Hawking é lembrado por ter apoiado palestinos https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/03/14/stephen-hawking-e-lembrado-por-ter-apoiado-sirios-e-palestinos/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/03/14/stephen-hawking-e-lembrado-por-ter-apoiado-sirios-e-palestinos/#respond Wed, 14 Mar 2018 17:14:25 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/Hawking-e1521047536801-320x213.jpeg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3472 O físico Stephen Hawking, morto na madrugada de quarta-feira (14), é lembrado no Oriente Médio não apenas por suas pesquisas sobre os buracos negros. Ele deixou rastros naquela região ao explicitamente apoiar as populações palestinas e sírias, em tempos de conflitos.

Em 2013, o autor de “Uma Breve História do Tempo” boicotou uma prestigiosa conferência em Israel patrocinada pelo então presidente Shimon Peres. Ele justificou sua ausência à ocupação israelense de territórios palestinos como a Cisjordânia. O boicote –um dos mais emblemáticos das últimas décadas– até hoje incomoda o governo israelense. Mais recentemente, Hawkings promoveu uma campanha para financiar um curso de física voltado a estudantes palestinos.

Ilustração do brasileiro Carlos Latuff sobre o boicote de Hawking. Crédito Reprodução/Twitter

O boicote a Israel, no entanto, é bastante controverso, mesmo entre quem é crítico ao governo do premiê Binyamin Netanyahu. Um dos principais argumentos contra a prática (conhecida pela sigla BDS) é de que o isolamento de um país é prejudicial ao debate intelectual.

A carta enviada por Hawkings em 2013 explicava suas razões:

Aceitei o convite à conferência presidencial com a intenção de que isso não apenas permitisse que eu expressasse minha opinião sobre as perspectivas de um acordo de paz, mas também me deixasse lecionar na Cisjordânia. Mas recebi diversos e-mails de acadêmicos palestinos. Eles foram unânimes na opinião de que eu deveria respeitar o boicote. Diante disso, sou obrigado a me retirar da conferência. Se eu participasse, daria minha opinião de que a política do governo israelense atual provavelmente levará a um desastre.

Essa foi uma das histórias mais lembradas durante o dia, enquanto a imprensa médio-oriental noticiava sua morte. A rede Al Jazeera, por exemplo, publicou um artigo sobre “como Stephen Hawking apoiava a causa palestina”. Em uma entrevista a esse canal de televisão em 2009, por ocasião de uma guerra na faixa de Gaza, Hawkings disse que “um povo sob ocupação continuará a resistir de qualquer maneira que puder”. “Se Israel quiser a paz, terá de conversar com o Hamas.”

O site britânico Middle East Eye fez um registro semelhante, compilando também os momentos em que o físico se lembrou da guerra civil síria e da invasão do Iraque. Em uma campanha de 2014 com o Save the Children, ele disse: “O que está acontecendo na Síria é uma abominação a que o mundo está assistindo a distância. Temos que trabalhar juntos para encerrar esta guerra e proteger as crianças.”

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Documentos do Estado Islâmico acusam policiais de pedofilia e frequentar bordéis https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/01/18/documentos-do-ei-acusam-policiais-de-pedofilia-frequentar-bordeis-e-beber-alcool/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/01/18/documentos-do-ei-acusam-policiais-de-pedofilia-frequentar-bordeis-e-beber-alcool/#respond Wed, 18 Jan 2017 11:09:22 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2017/01/DocEI-e1484737499965-180x82.jpg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2636 Os avanços do exército iraquiano em Mossul, hoje controlada pela organização terrorista Estado Islâmico, têm produzido um extenso arquivo de documentos. Analistas de segurança, como Hisham al-Hashimi, têm compilado esses papeis oficiais da milícia, que são importantes registros de sua gestão. O Estado Islâmico controla a cidade de Mossul, sua maior fortaleza, desde meados de 2014.

Hashimi publicou uma série desses documentos durante a quarta-feira (18) em sua conta na rede social Twitter. Ele reuniu, em especial, acusações contra policiais do Estado Islâmico — acusados de praticar pedofilia, frequentar bordéis e beber álcool. Essa organização terrorista, que tenta emular o califado islâmico do século 7, impõe restrições e punições severas em seu território.

Policial acusado de pedofilia pelo Estado Islâmico. Crédito Reprodução
Policial acusado de pedofilia pelo Estado Islâmico. Crédito Reprodução

É possível ler alguns desses documentos detalhados na conta do jornalista Elijah Magnier, que ressalta a existência de bordéis nas cidades controladas pelos terroristas, frequentados pelas forças de segurança. Magnier também reproduz a acusação contra um policial supostamente alcoólatra.

Há uma série de ressalvas a serem feitas em relação a esses papéis, cuja autenticidade não foi confirmada de maneira independente. Houve, no passado, casos de documentos do Estado Islâmico forjados. Não faltam interessados em retratar essa organização terrorista como extrema ou corrupta. Soldados iraquianos, por exemplo, poderiam ter preenchido os papéis ao conquistar partes de Mossul.

Por outro lado, esses documentos são alguns entre centenas que já foram recolhidos no território do Estado Islâmico. Não está em discussão que essa organização terrorista tente se comportar como um Estado e produza, assim, a papelada de uma burocracia.

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Soldado iraquiano e tradutor do Exército dos EUA se apaixonaram durante a guerra no Iraque https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/01/12/soldado-iraquiano-e-tradutor-do-exercito-dos-eua-se-apaixonaram-durante-a-guerra-no-iraque/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/01/12/soldado-iraquiano-e-tradutor-do-exercito-dos-eua-se-apaixonaram-durante-a-guerra-no-iraque/#respond Thu, 12 Jan 2017 13:05:38 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2017/01/iraq-e1484226007753-180x86.jpg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2617 Entre as notícias da crescente violência no Iraque e as imagens de atentados terroristas em Bagdá, a rede britânica BBC publicou hoje uma história alentadora: o relato de como Nayyef Hrebid, tradutor do Exército americano, apaixonou-se pelo soldado iraquiano Btoo Allami.

Hrebid e Allami se conheceram em 2003 durante os embates subsequentes à invasão americana do Iraque. Eles participaram das ofensivas contra insurgentes em Ramadi. “Eu tinha essa sensação estranha de que estava buscando ele”, disse Allami sobre o dia em que viu Hrebid. “Meus sentimentos cresceram com o tempo e eu sabia que queria falar com ele.”

Ambos puderam conhecer-se melhor durante uma operação no principal hospital da cidade. Eles começaram a compartilhar refeições e trocaram declarações de amor em um estacionamento, entre os veículos militares americanos estacionados. A relação lhes ajudou a viver os duros anos de tensão sectária, em um país onde homossexuais são perseguidos inclusive por agências do governo.

O tradutor e o soldado tiveram que se esquivar do preconceito de colegas, amigos e familiares. Eles sobreviveram também aos deslocamentos dentro dos dois Exércitos. O casal precisou lidar, ademais, com a distância — em 2009, Hrebid pediu asilo nos Estados Unidos, mas não conseguiu estender a permissão ao seu namorado.

Iniciou-se, segundo a BBC, uma longa luta até que Allami pudesse deixar o Iraque e mudar-se ao Líbano e então ao Canadá. Eles se casaram ali e, em 2014, a migração de Allami aos EUA foi finalmente aprovada. Quando soube da decisão, conta: “Cobri minha boca com a mão para não gritar. Saímos e eu estava chorando e tremendo. Não conseguia acreditar que estava acontecendo.”

O casal vive hoje em Seattle e foi tema de um documentário chamado “Out of Iraq”, exibido durante um festival de cinema em Los Angeles no ano passado. O trailer está abaixo, em inglês.

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