Orientalíssimo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br por Diogo Bercito Tue, 30 Nov 2021 20:49:20 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Em discurso pelo impeachment, Nancy Pelosi cita canção israelense https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/01/13/em-discurso-pelo-impeachment-nancy-pelosi-cita-cancao-israelense/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/01/13/em-discurso-pelo-impeachment-nancy-pelosi-cita-cancao-israelense/#respond Wed, 13 Jan 2021 21:26:03 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/Pelosi-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5955 Nancy Pelosi, presidente da Câmara americana, citou nesta quarta-feira (13) uma canção israelense ao discursar pelo impeachment de Donald Trump. Ao dizer que o presidente incitou uma insurreição, ela mencionou o poema “Ein Li Eretz Acheret” (não tenho outra terra).

O texto é de Ehud Manor, que escreveu as letras de mais de mil canções. Ele compôs essa faixa em 1982 — quando Israel invadiu o Líbano. Eram anos de intensos protestos sociais no país, e Manor queria que a canção se tornasse um hino da esquerda israelense.

“Ein Li Eretz Acheret” versa em tradução livre: “Não posso ficar em silêncio diante do quanto minha terra mudou seu rosto / Não vou parar de tentar lembrá-la / Em seu ouvido cantarei meu choro / Até que ela abra seus olhos”. É um canto de descontentamento com uma nação que decepciona, mas também uma declaração de amor quase incondicional. Uma música para países que quase não se parecem o que haviam sido. O vídeo dessa canção está abaixo, em hebraico.

Emendando na citação de “Ein Li Eretz Acheret”, Pelosi pediu que os legisladores republicanos — do mesmo partido de Trump — abrissem seus olhos e responsabilizassem o presidente por suas ações. Pesa, em especial, a acusação de que Trump incitou a turba que invadiu o Capitólio no último dia 6. Segundo o texto do impeachment, “incitados pelo presidente, membros da multidão à qual ele se dirigiu (…) violaram e vandalizaram o Capitólio, feriram e mataram equipes de segurança, ameaçaram membros do Congresso e o vice-presidente e se engajaram em atos violentos, mortais, destrutivos e sediciosos”.

O vídeo em que Pelosi menciona o poema está no tuíte abaixo.

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Autor destrincha o tradicionalismo, que influenciou Olavo e Araújo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/12/15/autor-destrincha-o-tradicionalismo-que-influenciou-olavo-e-araujo/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/12/15/autor-destrincha-o-tradicionalismo-que-influenciou-olavo-e-araujo/#respond Tue, 15 Dec 2020 18:39:56 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/Bannon-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5908 A Editora Âyiné publica neste mês o livro “Contra o Mundo Moderno: O Tradicionalismo e a História Intelectual Secreta do Século XX”. Na obra, o historiador britânico Mark Sedgwick destrincha essa escola de pensamento ainda pouco conhecida. O tradicionalismo influenciou figuras como o guru bolsonarista Olavo de Carvalho, o chanceler brasileiro Ernesto Araújo e o estrategista americano Steve Bannon.

A notícia não caberia neste Orientalíssimo blog não fosse a influência do islã e de outras filosofias da cultura árabe no desenvolvimento da escola tradicionalista — uma história que Sedgwick conta no livro. O francês René Guénon, um dos fundadores do tradicionalismo, morreu no Cairo, onde tinha adotado o nome Abd al-Wāḥid Yaḥyā. Já Olavo fez parte nos anos 1980 de uma ordem sufista, nome dado a uma corrente mística do islã. Sedgwick, diga-se de passagem, morou no Cairo. Aos 60 anos, é professor de estudos islâmicos da Universidade Aarhus (Dinamarca) e chefia a Sociedade Nórdica de Estudos Médio-Orientais.

Não vou me alongar na descrição do tradicionalismo. Minha colega Patrícia Campos Mello publicou em abril uma excelente reportagem sobre essa ideia. Ela eplicou, por exemplo, que “os tradicionalistas acreditam que a religiosidade, a espiritualidade, deveria estar no centro da sociedade, em vez da democracia secular, da liberdade de expressão, da igualdade econômica”. Ainda segundo Mello, os seguidores da escola “ressaltam a necessidade de se voltar ao tempo anterior à modernidade, de buscar as religiões não corrompidas”.

Sedwick menciona o Brasil poucas vezes em sua obra. Mas conta em uma nota de rodapé, por exemplo, que foi Fernando Guedes Galvão quem traduziu a obra “Crise do Mundo Moderno” para o português em 1948, um dos clássicos do tradicionalismo. Ele também menciona o papel de Luiz Pontual, que igualmente se envolveu com a escola.

Capa de “Contra o Mundo Moderno”. Crédito Divulgação
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Eleição de Biden é recebida com cautela e humor no Oriente Médio https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/11/09/eleicao-de-biden-e-recebida-com-cautela-e-humor-no-oriente-medio/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/11/09/eleicao-de-biden-e-recebida-com-cautela-e-humor-no-oriente-medio/#respond Mon, 09 Nov 2020 15:13:37 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/PHOTO-2020-11-09-10-08-50-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5862 Enquanto os Estados Unidos contavam os votos de sua eleição, circulava nas redes do Oriente Médio uma série de variações de um mesmo meme. Imagens de homens entediados vinham acompanhadas de uma legenda mais ou menos nesta linha: “árabes esperam para saber quem vai vencer e ser o próximo a invadir o Oriente Médio”.

Também se espalharam inúmeras imagens com o termo árabe “inshallah”, dito pelo democrata Joe Biden durante um debate com o republicano Donald Trump. Em árabe, “inshallah” significa “se Deus quiser”. É de onde vem o termo em português “oxalá”. Com isso, usuários das redes sociais fizeram a troça de que Biden venceu as eleições de terça-feira (3) porque falou a palavra quase mágica.

Esses dois memes simbolizam, de certa maneira, a mistura de cautela e humor entre quem acompanhou o pleito americano no Oriente Médio. Cautela porque, afinal, ninguém espera que o presidente eleito Biden vá mudar a região de maneira radical. Ele deve manter a embaixada americana em Jerusalém, por exemplo, e continuar a reconhecer a presença israelense nas colinas do Golã – duas medidas de Trump que causaram revolta. No máximo, a eleição de Biden serviu de incentivo aos movimentos que pedem a saída do premiê israelense Binyamin Netanyahu. O tuíte abaixo diz: “Agora que ele se foi, é a sua vez”.

Já o humor com que as pessoas receberam a eleição de Biden vem do fato de que poucos entre as populações na região consideravam Trump um aliado. Árabes e iranianos vivendo nos Estados Unidos e seus descendentes, muito menos. Trump foi o responsável por um veto à entrada de cidadãos de diversos países de maioria muçulmana, por exemplo, afetando quem vinha de lugares como a Síria, o Iêmen e o Irã. Biden prometeu que vai reverter essa medida no seu primeiro dia de governo. Trump insistia nos debates em que tal decisão iria permitir que terroristas entrassem no país “para explodir nossas cidades”.

Além de reverter o veto à entrada de muçulmanos, Biden deve se afastar de Trump em outras políticas em relação ao Oriente Médio. Como este Orientalíssimo blog mostrou antes das eleições, a expectativa é de que o presidente eleito se afaste de regimes autoritários como o da Arábia Saudita e o do Egito. Ele também deve tomar uma posição mais dura em relação ao governo turco — analistas disseram à Al Jazeera, por exemplo, que Trump era o único aliado que restava à Turquia em Washington, a capital americana.

Ainda é cedo, é claro, para saber se o resultado da eleição de Biden será positivo, negativo ou mesmo neutro para o Oriente Médio. O que sabemos é que, no ínterim, as populações da região seguem atentas ao que acontece nos Estados Unidos. A charge no tuíte abaixo resume essa situação, ao mostrar passageiros de um táxi no Irã discutindo quais estados americanos iriam determinar o resultado deste pleito.

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Em debate, democrata Joe Biden diz ‘oxalá’ e surpreende árabes https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/09/30/em-debate-democrata-joe-biden-diz-oxala-e-surpreende-arabes/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/09/30/em-debate-democrata-joe-biden-diz-oxala-e-surpreende-arabes/#respond Wed, 30 Sep 2020 18:40:52 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Screen-Shot-2020-09-30-at-12.12.29-PM-320x213.png https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5773 Passou quase batido na cacofonia do debate presidencial americano de terça-feira (29), mas o uso de uma expressão árabe pelo candidato democrata Joe Biden atraiu o interesse da população de origem árabe no país — para o bem e para o mal. Apesar de os árabes representarem apenas 1% dos Estados Unidos, eles podem ter algum impacto em estados como Michigan. Em geral, eles são eleitores democratas.

O episódio ocorreu quando Trump prometeu revelar ao público o seu imposto de renda, depois que o New York Times publicou uma reportagem mostrando que o presidente pagou valores irrisórios nos últimos anos. Durante o debate, Trump rebateu a acusação do diário e insistiu que pagou “milhões de dólares”, afirmando que vai prová-lo em breve. “Quando?”, Biden perguntou-lhe. “Inshallah?”.

O termo árabe “inshallah” significa “se Deus quiser”, literalmente (a frase é “in sha’ Allah”, mais precisamente). Entrou para o português como “oxalá”, com o mesmo significado. Mas Biden usou a frase com sentido irônico, querendo dizer: “nunca”, ou “pode esperar sentado”. A nuance não passou desapercebida entre árabes americanos, como mostra uma reportagem do Washington Post — apesar de que a princípio alguns se perguntaram se ele tinha dito “in July” (em julho) ou “enchilada” (o prato mexicano). Essa história logo chegou à imprensa do mundo de fala árabe, como Al Jazeera e The National.

As reações foram divididas. Parte da audiência, ainda segundo o Post, sugeriu que ao menos Biden tentou falar à população árabe dos Estados Unidos. Shadi Hamid, um analista do Brookings Institute, escreveu na rede social Twitter que jamais teria imaginado que um candidato presidencial americano diria a palavra “inshallah” em um debate. Mas outros comentaristas acusaram Biden de preconceito contra os árabes. Afinal, ele usou o termo com um sentido irônico, sugerindo uma promessa que nunca vai ser cumprida — e associando isso diretamente aos árabes.  “Ele não está apto ao cargo”, escreveu Ghanem Nuseibeh, que lidera uma associação de muçulmanos contra o antissemitismo. O tuíte está abaixo, incluindo o trecho do vídeo:

De acordo com o jornal americano, o termo “inshallah” é relativamente conhecido em Washington. Em parte, foi importado por funcionários da diplomacia e jornalistas de retorno do Iraque e do Afeganistão. O próprio Biden já usou a palavra em fevereiro, durante sua campanha.

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No século 19, os EUA tentaram criar um exército de camelos https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/06/04/no-seculo-19-os-eua-tentaram-criar-um-exercito-de-camelos/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/06/04/no-seculo-19-os-eua-tentaram-criar-um-exercito-de-camelos/#respond Mon, 04 Jun 2018 10:43:53 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/United-States-Camel-Corps-e1528106113657-320x213.jpg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3773 Em meados do século 19, quando as autoridades americanas investiam na integração de seu extenso e inóspito território, decidiram importar uma solução típica de um distante Oriente Médio: o transporte nas corcovas dos camelos. A ideia era defendida por Jefferson Davis, secretário de Guerra dos EUA de 1853 a 1857. O major Henry Wayne argumentava, à época, que os animais incrementariam o poderio americano com sua velocidade e resiliência, possivelmente formando uma cavalaria. “Os americanos poderão lidar com os camelos ainda melhor do que os árabes”, Wayne disse, e o projeto seria “um legado ao futuro, como a introdução dos cavalos pelos primeiros colonos”.

Camelos foram utilizados por diversos outros povos durante os últimos séculos. O historiador Heródoto relata, por exemplo, que os camelos persas desorientavam as cavalarias gregas com seu forte cheiro característico. Romanos empregaram esses animais no norte da África, e Napoleão usou a tática quando invadiu o Egito no século 18. A Itália arregimentava forças montadas a camelo nos anos 1930 na Somália. Mas o curioso projeto americano é raramente lembrado.

Camelos na campanha italiana na Somália nos anos 1930. Crédito Giovanni Valle

Essa história foi recuperada nesta segunda-feira (4) pelo jornal New York Times, no aniversário de 163 anos da primeira expedição para importar camelos do Oriente Médio. O navio USS Supply zarpou ao que são hoje a Turquia e o Egito. A equipe, chefiada por Wayne, comprou 33 animais, incluindo um “booghdee” —cruzamento entre camelo e dromedário. Ao chegarem ao Texas, eles integraram o Corpo de Exército de Camelos. Em paralelo, foi criada uma Companhia de Transporte por Camelo para carregamentos entre Texas, Califórnia e Panamá. O trecho ficou conhecido como a “Rota do Dromedário”.

Segundo uma outra reportagem do New York Times,

Os camelos provaram seu valor como animais de carga. Esses “navios do deserto” podiam carregar até 130 quilos e viajar com poucas paradas. Levavam sal, produtos e o correio entre Tucson e Los Angeles. Não só pareciam ser mais econômicos do que cavalos ou mulas, mas davam também a impressão de serem mais independentes: comiam arbustos típicos do Texas, dos quais os outros animais não se aproximavam.

Mas o experimento, a princípio bem avaliado pelos generais americanos, foi interrompido em 1861 quando na Guerra Civil seu principal entusiasta, Davis, passou ao bando dos confederados pró-escravidão. A maior parte dos animais foi vendida e, com o tempo, fugiu à natureza. Os camelos selvagens ainda foram avistados por décadas, perambulando entre os desertos americanos.

O último exemplar da trupe original morreu em 1934 dentro de um zoológico. Na mesma data, foi erguido um monumento em homenagem ao domador Hadji Ali. Também conhecido como Hi Jolly, ele era um cidadão otomano de origem síria que havia sido recrutado pelos EUA para o Corpo de Exército de Camelos. Hadji Ali é relembrado hoje no Arizona por uma pirâmide –e a estátua de um camelo.

Monumento ao sírio Hi Jolly, no Arizona. Creative Commons/Marine 69-71
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Após veto, EUA repensam atitude quanto a muçulmanos https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/01/10/apos-veto-a-cidadaos-de-paises-islamicos-os-eua-repensam-sua-atitude-quanto-aos-muculmanos/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/01/10/apos-veto-a-cidadaos-de-paises-islamicos-os-eua-repensam-sua-atitude-quanto-aos-muculmanos/#respond Wed, 10 Jan 2018 17:57:03 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/MuslimBan-e1515606899360-180x53.jpg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3208 Há quase um ano Donald Trump decretou seu veto à entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana. A decisão foi extremamente controversa e levou analistas a se questionarem sobre os possíveis efeitos negativos daquela medida, por exemplo, o incremento da islamofobia nos EUA — e de fato foi registrado um aumento quase recorde no número de ataques contra muçulmanos.

Mas a polêmica decisão do presidente republicano teve também um efeito contraintuitivo: melhorou as atitudes dos americanos em relação aos muçulmanos, segundo um estudo publicado nesta semana pela revista acadêmica “Political Behavior”. O resumo da pesquisa diz que:

O veto levou a um furor de protestos em cidades e aeroportos americanos, atraindo uma tremenda atenção da imprensa e discussões. […] Acreditamos que o fluxo de novas informações retratando o veto aos muçulmanos como algo contrário aos elementos inclusivos da identidade americana levou alguns cidadãos a mudar suas atitudes.

Os pesquisadores ouviram 423 pessoas no início de 2017, antes e depois de Trump assinar sua ordem executiva. O intenso debate social –à época, advogados americanos se voluntariaram para ajudar muçulmanos barrados nos aeroportos– fez com que mais de 30% dos participantes tivessem uma opinião mais negativa sobre o veto aos cidadãos vindos de países de maioria islâmica.

Protesto contra o veto a muçulmanos nos EUA. Crédito Brian Snyder/Reuters

A velocidade da mudança de visão impressionou os cientistas por ser um fenômeno raro nos casos de opinião pública. O elemento-chave parece ter sido apresentar o veto como algo contrário à identidade americana, em tese mais receptiva. Mais uma vez segundo o texto da pesquisa:

Nas horas e nos dias após a ordem executiva ter sido assinada, demonstramos também que o ambiente da informação […] retratou o veto, em algum grau, como algo inerentemente não americano. Desafios ao veto foram numerosos, com manifestantes, comentaristas de imprensa e a elite repetida e abertamente criticando aquela medida como algo fundamentalmente incompatível com os valores básicos americanos.

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