Orientalíssimo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br por Diogo Bercito Tue, 30 Nov 2021 20:49:20 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Universidade lança clube de leitura dedicado à literatura árabe https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/06/21/universidade-lanca-clube-de-leitura-dedicado-a-literatura-arabe/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/06/21/universidade-lanca-clube-de-leitura-dedicado-a-literatura-arabe/#respond Mon, 21 Jun 2021 13:40:11 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/CEAI2-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=6212 A UFS (Universidade Federal de Sergipe) estreia em julho um clube de leitura dedicado à literatura árabe – se não o único, ao menos um dos poucos do tipo no Brasil. O projeto faz parte do Centro de Estudos Árabes e Islâmicos, inaugurado no fim de 2019. O clube vai se reunir uma vez por mês na internet para conversar sobre a obra escolhida. A participação é gratuita, mas é preciso fazer a inscrição previamente.

Segundo a Agência de Notícias Brasil – Árabe, o ciclo de violência recente em Jerusalém e na faixa de Gaza foi um dos catalisadores do projeto. “Sentimos a necessidade de falar de formas diversas sobre o que acontece no Oriente Médio, fugir da efemeridade superficial com que os grandes meios de comunicação abordam a Palestina e os países árabes”, disse à agência Marianne Gennari, uma das criadoras do clube.

No primeiro encontro, o grupo vai discutir a coletânea de contos “Beirute Noir”, da libanesa Iman Humaydan. Os participantes terão desconto na compra do livro, graças a uma parceria entre o clube de leitura e a editora Tabla. Já para a segunda reunião a obra escolhida é “O Sussurro das Estrelas”, do egípcio Naguib Mahfouz, publicado no Brasil pela editora Carambaia. Mahfouz é o único autor de língua árabe a ter recebido um Nobel de Literatura. No futuro, o clube vai também conversar sobre a literatura que foi escrita por árabes na diáspora.

O clube de leitura da universidade sergipana coincide com um excelente momento para a literatura árabe no Brasil. Como recentemente expliquei na revista Quatro Cinco Um, nunca se traduziu tanto do árabe para o português. Isso é em parte resultado do surgimento de um grupo de tradutores na USP capitaneados pela professora Safa Jubran, além de uma editora especializada, a Tabla.

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Rede social Clubhouse serve de válvula de escape no Oriente Médio https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/03/11/rede-social-clubhouse-serve-de-valvula-de-escape-no-oriente-medio/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/03/11/rede-social-clubhouse-serve-de-valvula-de-escape-no-oriente-medio/#respond Thu, 11 Mar 2021 15:48:25 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/Clubhouse2-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=6044 Na manhã desta quinta-feira (11), usuários da rede social Clubhouse conversavam em árabe sobre o que bem entendiam. Em uma sala bastante popular, por exemplo, médicos respondiam a perguntas sobre a vacina contra a Covid-19. Em outra, cinéfilos fofocavam sobre os bastidores da telona. Também havia um grupo de pessoas analisando os sonhos umas das outras. E uma sala com o título “o que você vai fazer neste final de semana”, para jogar conversa fora mesmo. Esses são exemplos pontuais da explosão de diálogo acontecendo — por enquanto no subterrâneo — nessa recém-nascida rede social.

O Clubhouse é um aplicativo de conversas em áudio, em geral entre desconhecidos. Você seleciona uma sala, entra e começa a ouvir, quiçá também falar, sobre o assunto que escolher. Pode parecer trivial, em sociedades com liberdade de expressão e poucos tabus. Em partes do Oriente Médio, no entanto, essa rede social tem servido de válvula de escape. Na conservadora e repressiva Arábia Saudita, o Clubhouse chegou ao topo da lista de aplicativos sociais da loja da Apple. No Egito, há salas com mais de 2.000 participantes. Na Turquia, onde se fala turco, ativistas usaram essa rede em como ferramenta de protesto.

Segundo uma reportagem recente do Washington Post, a diáspora síria — espalhada pelo mundo devido à guerra civil que assola o país desde 2011 — tem usado o Clubhouse para reviver suas tradicionais conversas matutinas. Nessa rede social, eles contam piadas, pedem dicas de onde comprar comida levantina nos seus novos países e falam também sobre como o regime sírio devastou partes do país nestes últimos anos.

Um dos grandes poréns do Clubhouse, por ora, é o fato de que o aplicativo só funciona no sistema iOS, excluindo quem não tem dinheiro para comprar um iPhone — em partes do Oriente Médio, a imensa maioria da população. Como lembra o Post, a acessibilidade é afetada também pelos cortes diários de eletricidade e internet.

Há um problema ainda maior, no entanto. A conversa sem filtro, por vezes de tom político, parece já incomodar os governos autoritários da região. Usuários reclamam do funcionamento do aplicativo nos Emirados Árabes, por exemplo. A imprensa egípcia já acusa o Clubhouse de apoio a células terroristas, típica acusação feita a quem discorda do regime. Um artigo no site Middle East Eye insiste em que a pergunta não é “se” as ditaduras vão começar a monitorar essas conversas, mas “quando”. Esses governos se lembram, afinal, do papel que redes como o Facebook e o Twitter tiveram em mobilizar os protestos de 2011, que derrubaram regimes autoritários na região.

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Autor destrincha o tradicionalismo, que influenciou Olavo e Araújo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/12/15/autor-destrincha-o-tradicionalismo-que-influenciou-olavo-e-araujo/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/12/15/autor-destrincha-o-tradicionalismo-que-influenciou-olavo-e-araujo/#respond Tue, 15 Dec 2020 18:39:56 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/Bannon-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5908 A Editora Âyiné publica neste mês o livro “Contra o Mundo Moderno: O Tradicionalismo e a História Intelectual Secreta do Século XX”. Na obra, o historiador britânico Mark Sedgwick destrincha essa escola de pensamento ainda pouco conhecida. O tradicionalismo influenciou figuras como o guru bolsonarista Olavo de Carvalho, o chanceler brasileiro Ernesto Araújo e o estrategista americano Steve Bannon.

A notícia não caberia neste Orientalíssimo blog não fosse a influência do islã e de outras filosofias da cultura árabe no desenvolvimento da escola tradicionalista — uma história que Sedgwick conta no livro. O francês René Guénon, um dos fundadores do tradicionalismo, morreu no Cairo, onde tinha adotado o nome Abd al-Wāḥid Yaḥyā. Já Olavo fez parte nos anos 1980 de uma ordem sufista, nome dado a uma corrente mística do islã. Sedgwick, diga-se de passagem, morou no Cairo. Aos 60 anos, é professor de estudos islâmicos da Universidade Aarhus (Dinamarca) e chefia a Sociedade Nórdica de Estudos Médio-Orientais.

Não vou me alongar na descrição do tradicionalismo. Minha colega Patrícia Campos Mello publicou em abril uma excelente reportagem sobre essa ideia. Ela eplicou, por exemplo, que “os tradicionalistas acreditam que a religiosidade, a espiritualidade, deveria estar no centro da sociedade, em vez da democracia secular, da liberdade de expressão, da igualdade econômica”. Ainda segundo Mello, os seguidores da escola “ressaltam a necessidade de se voltar ao tempo anterior à modernidade, de buscar as religiões não corrompidas”.

Sedwick menciona o Brasil poucas vezes em sua obra. Mas conta em uma nota de rodapé, por exemplo, que foi Fernando Guedes Galvão quem traduziu a obra “Crise do Mundo Moderno” para o português em 1948, um dos clássicos do tradicionalismo. Ele também menciona o papel de Luiz Pontual, que igualmente se envolveu com a escola.

Capa de “Contra o Mundo Moderno”. Crédito Divulgação
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Biden e Trump têm visões distintas para o futuro do Oriente Médio https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/26/biden-e-trump-tem-visoes-distintas-para-o-futuro-do-oriente-medio/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/26/biden-e-trump-tem-visoes-distintas-para-o-futuro-do-oriente-medio/#respond Mon, 26 Oct 2020 20:20:17 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/Sisi-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5834 Os Estados Unidos votam no próximo dia 3 em uma das eleições mais importantes de sua história recente. A pandemia do coronavírus, que já matou mais de 225 mil pessoas no país, é um dos temas centrais do panorama eleitoral, acompanhado pela questão de como reconstruir uma economia em frangalhos. Com isso, sobrou pouco tempo para os candidatos falarem em política externa. Nos debates entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, mal se falou no tema. O silêncio não quer dizer, no entanto, que o tema seja irrelevante. Trump e Biden representam visões distintas sobre que papel os Estados Unidos devem desempenhar no exterior. No que diz respeito ao Oriente Médio, por exemplo, a eleição de um ou de outro pode impactar as políticas americanas em relação a Israel e ao Irã.

Um dos principais pontos de desacordo entre Trump e Biden é a relação dos Estados Unidos com regimes autoritários na região. Trump tem boas relações com líderes acusados de reprimir suas populações. Ele já se referiu ao egípcio Abdel Fattah al-Sisi como seu “ditador favorito”. O republicano é próximo também da monarquia da Arábia Saudita, apesar do assassinato do jornalista dissidente saudita Jamal Khashoggi, algo que motivou uma intensa crítica internacional.

Biden, por outro lado, tem uma postura mais dura. O democrata, é claro, não vai romper laços com importantes parceiros na região como o Egito e a Arábia Saudita caso seja eleito. Mas, segundo algumas análises, ele deve ao menos cobrar que esses regimes cessem suas violações aos direitos humanos em troca, por exemplo, de oportunidades comerciais. No caso saudita, isso pode significar restrições na venda de armas, algo menos provável sob Trump. Biden deve tentar, também, retirar o apoio à guerra saudita no Iêmen.

Em outras áreas, porém, uma eventual vitória de Biden dificilmente vai fazer com que os Estados Unidos mudem sua posição de maneira drástica. Um relatório recente do Eurasia Group sugere, nesse sentido, que o governo americano terá tantas questões domésticas para resolver em 2021 que terá pouco tempo para o Oriente Médio.

O conflito árabe-israelense é um bom exemplo. Trump fomentou um plano de paz que escanteou os palestinos e exacerbou a impressão de que os Estados Unidos não são um mediador isento. O republicano também tomou a decisão de mover a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém — emulada pelo Brasil de Jair Bolsonaro — e promoveu o reconhecimento da presença israelense nos territórios disputados das colinas de Golã. Essas duas medidas romperam com o consenso internacional e com o precedente dos próprios Estados Unidos. Além disso, Trump tem dado bastante atenção ao Oriente Médio, patrocinando acordos entre Israel e os Emirados Árabes, o Bahrein e o Sudão. Na prática, está isolando ainda mais os palestinos.

Não existe a expectativa de que, se eleito, Biden vá reverter o curso dessas políticas. O democrata, por exemplo, já elogiou publicamente os acordos entre Israel e os Emirados. Será difícil, também, voltar atrás na localização da embaixada ou da soberania nas colinas. Ainda assim, segundo algumas análises, Biden deve tentar reposicionar os Estados Unidos como um mediador neutro. Talvez isso signifique retomar alguns dos programas de auxílio aos palestinos encerrados por Trump. Ele também deverá ter uma relação menos calorosa com o líder israelense Binyamin Netanyahu, a quem Trump tanto elogia.

Um outro tema no qual Biden não difere tanto de Trump é na relação entre os Estados Unidos e o Irã. Se vencer o pleito, o democrata não deve correr para se reaproximar de Teerã. Ele tampouco deve remover de imediato as sanções econômicas impostas por Trump. O que talvez Biden faça diferente, se morar na Casa Branca, é tentar trazer o Irã à mesa de negociação, em vez de se afastar por completo. A ideia é condicionar as relações com Teerã ao cumprimento das restrições a seu programa nuclear. Como mostra um texto da Bloomberg, essa possibilidade já preocupa Israel e países do Golfo. Uma outra reportagem sugere que o Irã pode começar a exportar até 2 milhões de barris de petróleo por dia se Biden vencer o pleito — outro sinal do impacto que o voto do dia 3 nos Estados Unidos pode ter no mundo.

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No Reino Unido, homem cozinha com receita babilônica de 4.000 anos https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/07/01/no-reino-unido-homem-cozinha-com-receita-babilonica-de-4-000-anos/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/07/01/no-reino-unido-homem-cozinha-com-receita-babilonica-de-4-000-anos/#respond Wed, 01 Jul 2020 18:38:26 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/Bill.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5514 Cordeiro, cevada, alho poró, coentro. Os ingredientes são quase corriqueiros, mas a refeição que William Sutherland cozinhou no domingo (28) é excepcional — e antiquíssima. Ele seguiu uma receita de 1750 a.C, da Antiga Babilônia. O texto, talhado em uma tabuleta, tem quase 4.000 anos. É uma das receitas mais antigas do mundo.

Sutherland, um biólogo britânico, encontrou os textos babilônicos no livro “Anciente Mesopotamia Speaks” (A Antiga Mesopotâmia fala), editado por Agnete Lassen, Eckart Frahm e Klaus Wagensonner. Ele compartilhou seus experimentos na rede social Twitter, onde reproduziu as receitas e publicou as fotografias dos seus pratos.

As tabuletas com texto cuneiforme não têm instruções claras nem quantidades. Sutherland precisou, assim, improvisar na cozinha. O biólogo também decidiu substituir alguns ingredientes. Em vez de sangue de ovelha, colocou molho de tomate. Alguns dos pratos, ele diz, não ficaram assim tão deliciosos. Foi o ensopado de cordeiro que deu mais certo — foi “fácil” e ficou “delicioso”, nas palavras do mestre-cuca.

As aventuras culinárias de Sutherland se parecem com as do americano Samuel Blackley, que assou um pão no ano passado usando uma levedura do Antigo Egípcio. Com a ajuda da arqueóloga Serena Love, da Universidade Queensland, ele extraiu um fermento adormecido em uma cerâmica egípcia e o usou para cozinhar.

Veja abaixo o tuíte de Sutherland. “Culpo a quarentena, mas por algum motivo decidi fazer uma receita babilônica a partir da tabuleta à direita”, o texto diz. “Foi a melhor refeição babilônica que já comi.”

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Site disponibiliza filmes árabes para assistir de graça na pandemia https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/03/26/site-disponibiliza-filmes-arabes-para-assistir-de-graca-na-pandemia/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/03/26/site-disponibiliza-filmes-arabes-para-assistir-de-graca-na-pandemia/#respond Thu, 26 Mar 2020 14:17:51 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/Screen-Shot-2020-03-26-at-10.09.34-AM.png https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5269 Um grupo de cineastas árabes lançou nesta semana um site para exibir filmes independentes de graça. A proposta é oferecer algum tipo de entretenimento durante a pandemia do coronavírus, que tem obrigado milhões a ficar em casa. O site, chamado Aflamuna (nossos filmes, em árabe), disponibiliza um cardápio de seis produções para assistir durante duas semanas. Passado o período, toda a lista é renovada.

Um dos filmes que está disponível é o libanês “The One Man Village” (o vilarejo de um homem só), dirigido por Simon El Habre.  O longa conta a história de um pequeno vilarejo nas montanhas libanesas abandonado durante a guerra civil (1975 – 1990). O filme está em árabe com legendas em inglês. Outra opção é o filme egípcio de ficção científica “Before I Forget” (antes que eu me esqueça), de Mariam Mekiwi.

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Quatro romances árabes fundamentais para ler durante a quarentena https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/03/22/quatro-romances-arabes-fundamentais-para-ler-durante-a-quarentena/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/03/22/quatro-romances-arabes-fundamentais-para-ler-durante-a-quarentena/#respond Sun, 22 Mar 2020 13:43:48 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/Saadawi.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5254 Têm circulado pelas redes sociais listas de livros para ler durante a quarentena. Todos estamos — ou deveríamos estar — isolados em casa. Minha colega Marina Dias, correspondente da Folha em Washington, me desafiou no sábado (21) a publicar as minhas recomendações no Twitter. Quando escrevi a lista, me dei conta de que todas as minhas sugestões estavam relacionadas ao mundo árabe.

Resolvi, então, estender as recomendações aqui neste Orientalíssimo blog também. Os quatro livros que estão na lista abaixo são fundamentais para quem se interessa pelo Oriente Médios. São clássicos que, se você estuda a região, precisa ler ou ao menos conhecer. Caso alguém precise de mais sugestões de leitura, fiquem à vontade para me escrever um e-mail — estamos juntos nesta crise.

Tempo para Migrar Para o Norte (Tayeb Salih)
Escrito pelo sudanês Tayeb Salih, este é provavelmente um dos romances árabes mais importantes do século 20. É também uma das primeiras obras pós-coloniais em árabe, lidando com o impacto do colonialismo britânico no norte da África. A história se passa em um vilarejo sudanês à beira do rio Nilo nos anos 1950, com o retorno de um morador local que passou algum tempo estudando em Londres. A tradução ao português foi feita pela professora da USP Safa Jubran.

Entre Dois Palácios (Naguib Mahfouz)
O escritor egípcio Naguib Mahfouz foi o único árabe até hoje a receber o Nobel de literatura. Entre Dois Palácios é o primeiro livro de sua trilogia épica. Para quem gosta dos romances da Jane Austen, esta é uma espécie de versão egípcia. Em vez do interior da Inglaterra, o cenário é o centro do Cairo. O autor acompanha uma mesma família durante as tumultosas primeiras décadas do século 20, enquanto os personagens envelhecem, casam, morrem e assistem a revoluções.

Gold Dust (Ibrahim al-Koni)
O líbio Ibrahim Al-Koni conta, neste romance, a história de um jovem e seu camelo no norte da África. Li este livro há pouco tempo. Infelizmente, não há tradução ao português, mas vale o esforço a quem lê em inglês — o texto me tocou profundamente. O autor não é árabe, e sim tuareg, então incluo ele aqui com essa ressalva. No entanto, o texto foi escrito em árabe. O livro deve interessar a quem tem curiosidade para conhecer melhor a cultura berbere tuareg no norte da África.

Woman at Point Zero (Nawal El Saadawi)
Este livro, escrito pela egípcia Nawal El Saadawi, é um dos clássicos do feminismo em língua árabe. Saadawi conta a história de uma médica que, visitando um presídio, conhece uma prisioneira acusada de assassinato. Aos poucos, o leitor entende qual exatamente foi o crime cometido por ela. No texto, El Saadawi discute temas como o patriarcado e a solidariedade entre mulheres. Para quem quiser conhecer melhor a autora, publiquei em 2016 uma entrevista com ela.

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Na TV, série histórica cria tensão entre Turquia e países árabes https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/12/04/na-tv-serie-historica-cria-tensao-entre-turquia-e-paises-arabes/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/12/04/na-tv-serie-historica-cria-tensao-entre-turquia-e-paises-arabes/#respond Wed, 04 Dec 2019 15:38:36 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/kingdoms-of-fire-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4981 Produzida pelos Emirados Árabes com financiamento da Arábia Saudita, a série de TV “Kingdoms of Fire” (reinos de fogo) trata de longínquos acontecimentos do século 16. As reações, no entanto, têm sido bastante contemporâneas. O lançamento da mega-produção de R$ 170 milhões — que deve eventualmente chegar ao catálogo do Netflix — tem tensionado as relações entre Egito, Golfo e Turquia. A direção é do britânico Peter Webber (“Moça com Brinco de Pérola”).

“Kingdoms of Fire” narra a disputa entre o sultão otomano Selim I, baseado em Istambul, e o mameluco Tuman Bay II, baseado no Cairo. Quem leu nas entrelinhas, porém, enxergou bastantes outras questões na telinha. Uma das maneiras de entender a série é por meio do que tem acontecido nestes últimos anos no Oriente Médio.

As relações entre a Turquia e o Egito, por exemplo, foram prejudicadas pelo apoio dado pelo governo turco ao ex-presidente egípcio Mohamed Mursi, um islamita deposto por um golpe militar em 2013. Daí a análise contemporânea da briga entre Selim e Tuman, que é de certa forma projetada nos governantes atuais — a série parece acenar à disputa entre o turco Recep Tayyip Erdogan e o egípcio Abdel Fattah al-Sisi.

A série também pode expressar as recentes desavenças entre a Turquia e a Arábia Saudita, que exibe o show em seu canal MBC. A Turquia acusa a Arábia Saudita de ter mandado matar, no ano passado, o jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado daquele país em Istambul. Khashoggi era um duro crítico à monarquia saudita.

De maneira mais geral, “Reinos de Fogo” incomoda também por representar o Império Otomano como uma potência subjugando países árabes. Foi assim que o produtor Yasir Harib se referiu à série, dizendo que o enredo tratava da disputa entre Tuman Bay e o “ocupador otomano Selim I no Cairo”. A palavra “ocupador” que machucou.

Há um debate entre historiadores sobre como tratar da presença otomana no Oriente Médio, encerrada apenas com a queda do Império Otomano depois da Primeira Guerra (1914-1918). Eram realmente uma presença ilegítima? Realmente reprimiram os árabes? Respondendo que “sim”, egípcios têm pedido que o governo remova o nome de otomanos de ruas do Cairo — em especial, o nome de Selim I.

Comentando a série, o político turco Yasin Aktay discordou dessa visão e escreveu que “havia pessoas entre os árabes que eram leais até a morte ao califado [otomano] e que lutaram ao lado dos turcos”. “Diversas campanhas foram usadas para romper os laços entre árabes e turcos e semear o ódio entre essas duas nações”, segundo Aktay.

A série “Reinos de Fogo”, que começou em 17 de novembro, terá 15 episódios. Por ora, é possível assistir gratuitamente por meio do site da emissora MBC. O áudio é em árabe, mas há legendas em inglês.

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Ex-chanceler de Dilma, Antonio Patriota assume embaixada no Cairo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/03/ex-chanceler-de-dilma-antonio-patriota-assume-embaixada-no-cairo/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/03/ex-chanceler-de-dilma-antonio-patriota-assume-embaixada-no-cairo/#respond Thu, 03 Oct 2019 15:30:46 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/Patriota-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4898 O diplomata Antonio Patriota, que foi chanceler de 2011 a 2013 durante o governo de Dilma Rousseff, assume nesta sexta-feira (4) o posto de embaixador do Brasil no Cairo. Com isso, ele substitui Ruy Pacheco de Azevedo Amaral, que será agora embaixador em Amã, na Jordânia.

Patriota, 65, representará o governo de Jair Bolsonaro neste que é o país árabe mais populoso e um importante parceiro comercial. O contexto político, porém, não estará a seu favor: Bolsonaro tem se aproximado de Israel e, com isso, antagonizado com lideranças árabes. A Autoridade Palestina e a Liga Árabe — sediada no Cairo — já ameaçaram boicotar produtos brasileiros em retaliação a Bolsonaro.

Em entrevista à Anba (Agência de Notícias Brasil – Árabe) Patriota disse que sua prioridade no posto será a agenda comercial. Para tal, reuniu-se com representantes da Câmara de Comércio Árabe Brasileira em São Paulo antes de partir para o Cairo. Ele mencionou o acordo entre Mercosul e Egito, em vigor desde 2017, e a visita da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, em setembro. O Egito é hoje o principal destino das exportações brasileiras para a África e para o mundo árabe. Foram US$ 2,1 bilhões exportados em 2018, entre produtos como carne bovina, açúcar, milho e frango.

Patriota foi, além de chanceler do governo Dilma, embaixador do Brasil em postos como a ONU, Roma e Washington — todos considerados de bastante prestígio. Quando sua ida ao Cairo foi anunciada em março, a ideia foi recebida com alguma surpresa, uma vez que a cidade não tem o mesmo peso na hierarquia do Itamaraty.

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Padeiro recria pão do Antigo Egito usando um fermento de 4.500 anos https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/26/padeiro-recria-pao-do-antigo-egito-usando-um-fermento-de-4-500-anos/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/26/padeiro-recria-pao-do-antigo-egito-usando-um-fermento-de-4-500-anos/#respond Mon, 26 Aug 2019 15:40:49 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/Pao-e1566832853847-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4848 Se você acha que o seu pão de forma está velho demais porque ficou largado na dispensa por dois dias, pense nisto: um padeiro amador recriou um pão do Império Antigo do Egito (2686 – 2181 a.C). São 4.500 anos de idade — e parece delicioso, a julgar pela descrição dele.

O padeiro é Samuel Blackley, um americano que habitualmente trabalha com videogames e foi um dos criadores do console Xbox. Nas horas vagas, faz pão e estuda história. Segundo o Smithsonian, Blackley teve acesso a um recipiente utilizado para fazer pão no Império Antigo e extraiu um fermento adormecido na cerâmica. Para isso, ele contou com a ajuda da arqueóloga Serena Love, da Universidade de Queensland, e do doutorando em microbiologia Richard Bowman, da Universidade de Iowa. Ainda não é certo, porém, que o pão é realmente histórico. O jornal americano New York Times explica que cientistas trabalham agora para verificar se de fato a levedura extraída da cerâmica era aquela do Império Antigo. Existe a possibilidade, por exemplo, de que a amostra tenha sido contaminada pelo o manuseio.

O time injetou um líquido na cerâmica para despertar a levedura adormecida. Em seguida, Blackley usou a amostra para recriar o pão milenar. Ele descreveu o resultado no tuíte abaixo, que em português diz: “Cheirava tão bem que cortamos antes de estar realmente pronto. É incrível. Os padeiros do Antigo Egito sabiam o que estavam fazendo”.

De acordo com o Smithsonian, humanos fazem pão há pelo menos 30 mil anos, mas só começaram a utilizar levedura há 6.000 anos. A substância sofreu inúmeras modificações no processo — daí a importância do experimento de recriar este pão. Para chegar ao mesmo resultado dos antigos egípcios, Blackley utilizou ingredientes comuns do período, como cevada e um tipo de trigo ancestral.

“Aquela foi uma grande civilização de tradição gastronômica. O faraó era o imperador de toda a terra conhecida”, disse Blackley. “Agora podemos recriar seus métodos e compartilhar o pão com eles.”

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