Orientalíssimo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br por Diogo Bercito Tue, 30 Nov 2021 20:49:20 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Rede social Clubhouse serve de válvula de escape no Oriente Médio https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/03/11/rede-social-clubhouse-serve-de-valvula-de-escape-no-oriente-medio/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/03/11/rede-social-clubhouse-serve-de-valvula-de-escape-no-oriente-medio/#respond Thu, 11 Mar 2021 15:48:25 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/Clubhouse2-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=6044 Na manhã desta quinta-feira (11), usuários da rede social Clubhouse conversavam em árabe sobre o que bem entendiam. Em uma sala bastante popular, por exemplo, médicos respondiam a perguntas sobre a vacina contra a Covid-19. Em outra, cinéfilos fofocavam sobre os bastidores da telona. Também havia um grupo de pessoas analisando os sonhos umas das outras. E uma sala com o título “o que você vai fazer neste final de semana”, para jogar conversa fora mesmo. Esses são exemplos pontuais da explosão de diálogo acontecendo — por enquanto no subterrâneo — nessa recém-nascida rede social.

O Clubhouse é um aplicativo de conversas em áudio, em geral entre desconhecidos. Você seleciona uma sala, entra e começa a ouvir, quiçá também falar, sobre o assunto que escolher. Pode parecer trivial, em sociedades com liberdade de expressão e poucos tabus. Em partes do Oriente Médio, no entanto, essa rede social tem servido de válvula de escape. Na conservadora e repressiva Arábia Saudita, o Clubhouse chegou ao topo da lista de aplicativos sociais da loja da Apple. No Egito, há salas com mais de 2.000 participantes. Na Turquia, onde se fala turco, ativistas usaram essa rede em como ferramenta de protesto.

Segundo uma reportagem recente do Washington Post, a diáspora síria — espalhada pelo mundo devido à guerra civil que assola o país desde 2011 — tem usado o Clubhouse para reviver suas tradicionais conversas matutinas. Nessa rede social, eles contam piadas, pedem dicas de onde comprar comida levantina nos seus novos países e falam também sobre como o regime sírio devastou partes do país nestes últimos anos.

Um dos grandes poréns do Clubhouse, por ora, é o fato de que o aplicativo só funciona no sistema iOS, excluindo quem não tem dinheiro para comprar um iPhone — em partes do Oriente Médio, a imensa maioria da população. Como lembra o Post, a acessibilidade é afetada também pelos cortes diários de eletricidade e internet.

Há um problema ainda maior, no entanto. A conversa sem filtro, por vezes de tom político, parece já incomodar os governos autoritários da região. Usuários reclamam do funcionamento do aplicativo nos Emirados Árabes, por exemplo. A imprensa egípcia já acusa o Clubhouse de apoio a células terroristas, típica acusação feita a quem discorda do regime. Um artigo no site Middle East Eye insiste em que a pergunta não é “se” as ditaduras vão começar a monitorar essas conversas, mas “quando”. Esses governos se lembram, afinal, do papel que redes como o Facebook e o Twitter tiveram em mobilizar os protestos de 2011, que derrubaram regimes autoritários na região.

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Biden e Trump têm visões distintas para o futuro do Oriente Médio https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/26/biden-e-trump-tem-visoes-distintas-para-o-futuro-do-oriente-medio/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/26/biden-e-trump-tem-visoes-distintas-para-o-futuro-do-oriente-medio/#respond Mon, 26 Oct 2020 20:20:17 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/Sisi-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5834 Os Estados Unidos votam no próximo dia 3 em uma das eleições mais importantes de sua história recente. A pandemia do coronavírus, que já matou mais de 225 mil pessoas no país, é um dos temas centrais do panorama eleitoral, acompanhado pela questão de como reconstruir uma economia em frangalhos. Com isso, sobrou pouco tempo para os candidatos falarem em política externa. Nos debates entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, mal se falou no tema. O silêncio não quer dizer, no entanto, que o tema seja irrelevante. Trump e Biden representam visões distintas sobre que papel os Estados Unidos devem desempenhar no exterior. No que diz respeito ao Oriente Médio, por exemplo, a eleição de um ou de outro pode impactar as políticas americanas em relação a Israel e ao Irã.

Um dos principais pontos de desacordo entre Trump e Biden é a relação dos Estados Unidos com regimes autoritários na região. Trump tem boas relações com líderes acusados de reprimir suas populações. Ele já se referiu ao egípcio Abdel Fattah al-Sisi como seu “ditador favorito”. O republicano é próximo também da monarquia da Arábia Saudita, apesar do assassinato do jornalista dissidente saudita Jamal Khashoggi, algo que motivou uma intensa crítica internacional.

Biden, por outro lado, tem uma postura mais dura. O democrata, é claro, não vai romper laços com importantes parceiros na região como o Egito e a Arábia Saudita caso seja eleito. Mas, segundo algumas análises, ele deve ao menos cobrar que esses regimes cessem suas violações aos direitos humanos em troca, por exemplo, de oportunidades comerciais. No caso saudita, isso pode significar restrições na venda de armas, algo menos provável sob Trump. Biden deve tentar, também, retirar o apoio à guerra saudita no Iêmen.

Em outras áreas, porém, uma eventual vitória de Biden dificilmente vai fazer com que os Estados Unidos mudem sua posição de maneira drástica. Um relatório recente do Eurasia Group sugere, nesse sentido, que o governo americano terá tantas questões domésticas para resolver em 2021 que terá pouco tempo para o Oriente Médio.

O conflito árabe-israelense é um bom exemplo. Trump fomentou um plano de paz que escanteou os palestinos e exacerbou a impressão de que os Estados Unidos não são um mediador isento. O republicano também tomou a decisão de mover a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém — emulada pelo Brasil de Jair Bolsonaro — e promoveu o reconhecimento da presença israelense nos territórios disputados das colinas de Golã. Essas duas medidas romperam com o consenso internacional e com o precedente dos próprios Estados Unidos. Além disso, Trump tem dado bastante atenção ao Oriente Médio, patrocinando acordos entre Israel e os Emirados Árabes, o Bahrein e o Sudão. Na prática, está isolando ainda mais os palestinos.

Não existe a expectativa de que, se eleito, Biden vá reverter o curso dessas políticas. O democrata, por exemplo, já elogiou publicamente os acordos entre Israel e os Emirados. Será difícil, também, voltar atrás na localização da embaixada ou da soberania nas colinas. Ainda assim, segundo algumas análises, Biden deve tentar reposicionar os Estados Unidos como um mediador neutro. Talvez isso signifique retomar alguns dos programas de auxílio aos palestinos encerrados por Trump. Ele também deverá ter uma relação menos calorosa com o líder israelense Binyamin Netanyahu, a quem Trump tanto elogia.

Um outro tema no qual Biden não difere tanto de Trump é na relação entre os Estados Unidos e o Irã. Se vencer o pleito, o democrata não deve correr para se reaproximar de Teerã. Ele tampouco deve remover de imediato as sanções econômicas impostas por Trump. O que talvez Biden faça diferente, se morar na Casa Branca, é tentar trazer o Irã à mesa de negociação, em vez de se afastar por completo. A ideia é condicionar as relações com Teerã ao cumprimento das restrições a seu programa nuclear. Como mostra um texto da Bloomberg, essa possibilidade já preocupa Israel e países do Golfo. Uma outra reportagem sugere que o Irã pode começar a exportar até 2 milhões de barris de petróleo por dia se Biden vencer o pleito — outro sinal do impacto que o voto do dia 3 nos Estados Unidos pode ter no mundo.

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Coronavírus interrompe peregrinação de muçulmanos e esvazia Meca https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/03/05/coronavirus-interrompe-peregrinacao-de-muculmanos-e-esvazia-meca/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/03/05/coronavirus-interrompe-peregrinacao-de-muculmanos-e-esvazia-meca/#respond Thu, 05 Mar 2020 18:39:58 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/Mecca1-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5191 Em meio aos esforços para conter a transmissão do coronavírus, o governo da Arábia Saudita esvaziou nesta quinta-feira (5) o lugar mais sagrado do islã, o centro de Meca. A área em torno da Kaaba — o cubo negro ao qual muçulmanos peregrinam — foi temporariamente interditada para esterilização, segundo a agência de notícias AFP. A Arábia Saudita já tem cinco casos confirmados de coronavírus.

Com isso, imagens circuladas pelas redes sociais durante a manhã mostravam um espaço vazio, em vez dos milhares de fiéis que passam por ali diariamente. A medida, descrita pelo governo como “sem precedentes”, afetou apenas a região adjacente à Kaaba. Outros andares da mesquita em torno do cubo seguiam abertos para a prece. Ainda assim, são bastante raras as imagens do espaço térreo tão deserto.

A Arábia Saudita já havia suspendido na quarta-feira (4) a peregrinação conhecida como Umra. A Umra é uma peregrinação a Meca semelhante ao Hajj, que em tese todo muçulmano tem de fazer ao menos uma vez na vida. Mas, enquanto o Hajj pode ser feito apenas durante um período específico do ano, a Umra pode ser feita a qualquer momento.

O Hajj ocorre em julho neste ano e, se o coronavírus ainda for uma ameaça, deve ser um momento particularmente delicado. Cerca de 2,5 milhões de pessoas foram a Meca no ano passado para fazer o Hajj. Proibir o ritual será um golpe e tanto para a comunidade muçulmana.

Com máscaras, funcionários limpam a mesquita de Meca. Crédito Reuters 3.mar.2020.

Segundo o site GulfNews, já há ansiedade ao redor do mundo quanto à perspectiva de a peregrinação ser cancelada neste ano. Quem guardou dinheiro por anos para custear o ritual se pergunta, por exemplo, se poderá recuperar o investimento. Agências de viagem especializadas na peregrinação devem sofrer um choque. Mesmo as rezas diárias têm sido alteradas em países de maioria muçulmana. O canal Al Jazeera informa, por exemplo, que as tradicionais preces de sexta-feira foram canceladas em algumas cidades do Irã. Em Singapura, líderes religiosos pedem que os fiéis tragam seus próprios tapetes para a mesquita.

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Na TV, série histórica cria tensão entre Turquia e países árabes https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/12/04/na-tv-serie-historica-cria-tensao-entre-turquia-e-paises-arabes/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/12/04/na-tv-serie-historica-cria-tensao-entre-turquia-e-paises-arabes/#respond Wed, 04 Dec 2019 15:38:36 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/kingdoms-of-fire-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4981 Produzida pelos Emirados Árabes com financiamento da Arábia Saudita, a série de TV “Kingdoms of Fire” (reinos de fogo) trata de longínquos acontecimentos do século 16. As reações, no entanto, têm sido bastante contemporâneas. O lançamento da mega-produção de R$ 170 milhões — que deve eventualmente chegar ao catálogo do Netflix — tem tensionado as relações entre Egito, Golfo e Turquia. A direção é do britânico Peter Webber (“Moça com Brinco de Pérola”).

“Kingdoms of Fire” narra a disputa entre o sultão otomano Selim I, baseado em Istambul, e o mameluco Tuman Bay II, baseado no Cairo. Quem leu nas entrelinhas, porém, enxergou bastantes outras questões na telinha. Uma das maneiras de entender a série é por meio do que tem acontecido nestes últimos anos no Oriente Médio.

As relações entre a Turquia e o Egito, por exemplo, foram prejudicadas pelo apoio dado pelo governo turco ao ex-presidente egípcio Mohamed Mursi, um islamita deposto por um golpe militar em 2013. Daí a análise contemporânea da briga entre Selim e Tuman, que é de certa forma projetada nos governantes atuais — a série parece acenar à disputa entre o turco Recep Tayyip Erdogan e o egípcio Abdel Fattah al-Sisi.

A série também pode expressar as recentes desavenças entre a Turquia e a Arábia Saudita, que exibe o show em seu canal MBC. A Turquia acusa a Arábia Saudita de ter mandado matar, no ano passado, o jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado daquele país em Istambul. Khashoggi era um duro crítico à monarquia saudita.

De maneira mais geral, “Reinos de Fogo” incomoda também por representar o Império Otomano como uma potência subjugando países árabes. Foi assim que o produtor Yasir Harib se referiu à série, dizendo que o enredo tratava da disputa entre Tuman Bay e o “ocupador otomano Selim I no Cairo”. A palavra “ocupador” que machucou.

Há um debate entre historiadores sobre como tratar da presença otomana no Oriente Médio, encerrada apenas com a queda do Império Otomano depois da Primeira Guerra (1914-1918). Eram realmente uma presença ilegítima? Realmente reprimiram os árabes? Respondendo que “sim”, egípcios têm pedido que o governo remova o nome de otomanos de ruas do Cairo — em especial, o nome de Selim I.

Comentando a série, o político turco Yasin Aktay discordou dessa visão e escreveu que “havia pessoas entre os árabes que eram leais até a morte ao califado [otomano] e que lutaram ao lado dos turcos”. “Diversas campanhas foram usadas para romper os laços entre árabes e turcos e semear o ódio entre essas duas nações”, segundo Aktay.

A série “Reinos de Fogo”, que começou em 17 de novembro, terá 15 episódios. Por ora, é possível assistir gratuitamente por meio do site da emissora MBC. O áudio é em árabe, mas há legendas em inglês.

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Por atritos políticos, árabes celebram ramadã em diferentes datas https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/04/por-atritos-politicos-arabes-celebram-ramada-em-diferentes-datas/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/04/por-atritos-politicos-arabes-celebram-ramada-em-diferentes-datas/#respond Tue, 04 Jun 2019 15:41:06 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/akurat_20190524015633_1deU9Y-e1559662390354-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4697 O calendário do ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos, envolve todo os anos uma certa pitada de política. O período de jejum — se você não se lembra do que é o ramadã, releia este guia que escrevi há alguns anos — termina em uma suntuosa celebração conhecida como Eid al-Fitr. Mas a data é variável, pois depende da aparição da lua nova nos céus. Cada país decide quando está na hora de comemorar, uma decisão que frequentemente segue os seus alinhamentos políticos.

Apesar de a política estar sempre presente, ela parece vir em dose extra neste ano, como sugere um texto da agência de notícias Associated Press. A Arábia Saudita celebra o festival já nesta terça-feira (4), ao lado de Kuait, Qatar e Emirados Árabes Unidos. Do outro lado do espectro, Egito, Síria, Jordânia e Palestina anunciaram que vão esperar até a quarta-feira (5), por não terem visto a lua nova em seus territórios. No passado, jordanianos e palestinos seguiram o calendário saudita, algo com que parecem ter rompido agora, causando certo desconforto.

Segundo a agência de notícias, o Eid al-Fitr já tinha sido anunciado na faixa de Gaza, mas foi adiado após as autoridades religiosas em Jerusalém decidirem outra data. A notícia foi recebida com algum protesto no território palestino — afinal, além do significado religioso, o fim do ramadã também significa romper o jejum de um mês.

A situação é ainda mais delicada no Sudão, dividido politicamente desde a derrocada do ditador Omar al-Bashir em abril passado. O regime militar de transição anunciou que o Eid al-Fitr começa na quarta-feira, mas os manifestantes disseram que vão celebrar na terça.

Algo semelhante aconteceu no Iêmen, um país em guerra civil após a onda de protestos de 2011. O governo reconhecido internacionalmente vai comemorar na terça-feira. Os rebeldes xiitas da facção Huthi, no entanto, vão esperar até o dia seguinte. A Associated Press diz que é a primeira vez na história moderna do país em que o Eid é dividido.

Essa situação se repete no restante da região. Sunitas e xiitas — ramos do islã — celebram em datas diferentes no Líbano e no Iraque, por exemplo. Na rede social Twitter, o analista Haizam Amirah-Fernández resumiu o cenário na mensagem abaixo, em espanhol. O fim do ramadã não depende da lua nova, ele escreveu, e sim da política.

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Banda saudita faz clipe festejando a volta do cinema https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/01/04/banda-saudita-faz-clipe-festejando-a-volta-do-cinema/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/01/04/banda-saudita-faz-clipe-festejando-a-volta-do-cinema/#respond Thu, 04 Jan 2018 11:54:25 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/MostOfUs-180x80.jpg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3178 O governo saudita anunciou no mês passado que vai reabrir seus cinemas depois de 35 anos de proibição e os roqueiros da banda local Most of Us decidiram festejar à sua maneira — gravaram um clipe. No vídeo da canção “Cinema na Arábia Saudita”, provocam os espectadores perguntando “vocês ainda assistem aos filmes na televisão?” e depois invadem as cenas de seus longas favoritos.

Eles passam por clássicos como “Guerra nas Estrelas” e “Matrix” comemorando ao lado dos personagens a gradual abertura de seu país. “Não vá mais ao Bahrein / para ver dois filmes”, diz a letra, em referência a um dos países vizinhos aos quais sauditas hoje viajam para ir ao cinema. “Tivemos essa ideia de que as estrelas que nos influenciaram se tornariam parte da canção, expressando o quão feliz estamos”, disse o vocalista Hasan Hatrash à rede “Al Arabiya”.

O clipe dá conta da rápida transformação do reino saudita, em grande parte estimulada pelo príncipe-herdeiro Muhammad bin Salman, conhecido pelas iniciais MBS. Em setembro, ele foi um dos responsáveis pelo fim da proibição de que mulheres dirijam. Ainda há, no entanto, um longo caminho a ser percorrido para garantir as liberdades individuais nesse país árabe conservador.

Os cinemas foram fechados durante os anos 1980. Clérigos sauditas — uma classe poderosa, mas em declínio — alegavam que os filmes ocidentais e mesmo alguns daqueles produzidos no mundo de fala árabe eram de alguma maneira pecaminosos. As salas de cinema, ademais, desagradavam os religiosos por permitirem o convívio sem supervisão entre homens e mulheres. É de se esperar que, reabertos, os cinemas segreguem os sexos. Os filmes devem passar por uma censura prévia.

Festival de cinema em outubro de 2017 na Arábia Saudita. Crédito AFP

Os cinemas devem reabrir em março. A britânica Vue Entertainment, a americana AMC e a canadense IMAX querem se instalar no país, segundo o “Financial Times”. Ao menos 300 salas devem abrir até 2030, criando 30 mil empregos e contribuindo com o equivalente a R$ 77 milhões.

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Família real da Jordânia e um primo do ditador sírio Assad são citados pelos Paradise Papers https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/11/08/familia-real-da-jordania-e-um-primo-do-ditador-sirio-assad-sao-citados-pelos-paradise-papers/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/11/08/familia-real-da-jordania-e-um-primo-do-ditador-sirio-assad-sao-citados-pelos-paradise-papers/#respond Wed, 08 Nov 2017 09:02:50 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/Noor-e1510131367338-180x72.jpg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3021 Um novo vazamento de informações financeiras, desta vez apelidado “Paradise Papers”, associou figuras como a rainha Elizabeth, Madonna e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a paraísos fiscais — territórios com vantagens fiscais e protegidos por sigilo, descritos pelo colunista da Folha Clóvis Rossi como “um sistema que é uma imensa falha tectônica no capitalismo”.

O vazamento afetou também personalidades do mundo árabe. O site “New Arab” compilou a lista de alguns deles nesta terça-feira (7). O nome que imediatamente se destaca é o da rainha-mãe da Jordânia, Noor. Nascida nos EUA e casada com o rei Hussein, ela é madrasta do atual monarca, o rei Abdullah. Noor foi relacionada pelos “Paradise Papers” a dois fundos registrados em Jersey.

Também aparece no vazamento o nome de Rami Makhlouf, primo do ditador da Síria, Bashar al-Assad. Ele é relacionado a quatro empresas libanesas criadas entre 2001 e 2003 — a Síria ocupava o Líbano até 2005. Segundo o “New Arab”, Makhlouf já foi considerado “garoto propaganda da corrupção” na correspondência diplomática americana e foi alvo de sanções econômicas.

Outra personalidade pública árabe afetada pelos “Paradise Papers” é o príncipe saudita Khaled bin Sultan bin Abdulaziz Al Saud, ex-vice-ministro da Defesa. Suas informações financeiras descritas pelo vazamento remontam a 1989, com o registro de ao menos oito empresas em Bermudas. Ele teria usado as empresas para registrar seus iates. Uma das embarcações, o Golden Odyssey, tem 123 metros de comprimento, ou seja, é um pouco mais longo do que um estádio de futebol.

Príncipe saudita Khalid bin Sultan bin Abdul Aziz Al Saud Crédito Andrea Comas/Reuters

Não é ilegal manter empresas “offshore”. Dessa maneira, ter seu nome associado a elas não significa ter cometido nenhuma irregularidade. Mas essas firmas podem ser utilizadas para crimes como sonegação de imposto, ocultação de patrimônio e evasão de divisas. A existência desses paraísos também deixa evidente a facilidade dos mais ricos em evitar pagar impostos.

O jornal americano “New York Times” sugere que essa seja uma das explicações para o alargamento do abismo entre os ricos e os pobres no mundo: durante os últimos anos, as fortunas dos bilionários cresceu em média 8% ao ano, enquanto a riqueza global cresceu apenas 3%.

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Garoto saudita é detido por dançar a Macarena https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/08/22/garoto-saudita-e-detido-por-dancar-a-macarena/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/08/22/garoto-saudita-e-detido-por-dancar-a-macarena/#respond Tue, 22 Aug 2017 16:49:50 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2017/08/Macarena2-e1503418485659-180x66.png http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2892 A polícia da Arábia Saudita anunciou a detenção de um garoto de 14 anos por ter parado o tráfego dançando a Macarena, segundo uma reportagem publicada nesta terça (22) pelo MiddleEastEye. A coreografia, um clássico dos anos 1990, foi registrada em uma avenida movimentada de Jidda.

O vídeo já tinha circulado no ano passado, antes de ser removido. Mas o frenesi da internet garantiu sua sobrevida, irritando as autoridades sauditas — país árabe em que a moralidade é policiada e punida. Naquele ambiente repressivo, o garoto foi louvado por usuários da rede social Twitter, como o saudita Ahmed Al Omran, que foi correspondente do “Wall Street Journal”. Ele escreveu que “o menino dançante de Jiddah é o herói de que precisamos”. O tuíte inclui o vídeo de 45 segundos.

O heroísmo está em dançar nas ruas de um país conhecido pela interpretação radical do islã, conhecida como wahabismo. Essa crença está na base de organizações terrorista como a Al Qaeda e o Estado Islâmico, que reivindicou o ataque da semana passada à Espanha, como lembra o jornal “El Mundo”. A ação foi elogiada, escreve Francisco Carrión, por ter sido realizada “em uma terra presa à uma tradição que proíbe a dança e o cinema e condena as mulheres a viver uma eterna infância”.

Setores mais conservadores aproveitaram este episódio para exigir o reforço da polícia moral, uma entidade que tem sido desmobilizada pela monarquia saudita. Não que falte repressão ao país — o popular cantor Abdallah al-Shaharani foi detido recentemente ao fazer o passo do “dab”, criado nos EUA há três anos, que consiste em deixar a cabeça cair ao lado enquanto ergue um braço na diagonal. Shaharani pediu desculpas ao “honrado governo e ao rei” por seu gesto.

Shaharani aparentemente não tinha recebido o informe oficial proibindo o “dab”. O  movimento, diz o texto reproduzido abaixo, está relacionado ao consumo ilegal de drogas como a maconha.

Informe contra o “dab”, relacionado ao uso de drogas. Crédito Reprodução

 

 

 

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