Orientalíssimo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br por Diogo Bercito Tue, 30 Nov 2021 20:49:20 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 New York Times questiona trabalho de sua repórter sobre terrorismo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/12/jornal-questiona-cobertura-de-sua-propria-reporter-sobre-terrorismo/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/10/12/jornal-questiona-cobertura-de-sua-propria-reporter-sobre-terrorismo/#respond Mon, 12 Oct 2020 14:47:25 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/EI-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5808 A repórter Rukmini Callimachi, do New York Times, se firmou nos últimos anos como uma das grandes especialistas da imprensa em terrorismo. Foi  indicada ao consagrado prêmio Pulitzer por suas investigações sobre as organizações radicais al-Qaida e Estado Islâmico. Virou uma das estrelas daquele jornal americano. Foi tida como um novo modelo de repórter, conectado às redes sociais e capaz de produzir um variado material audiovisual em diversas plataformas.

Até que, no fim de setembro, a polícia canadense acusou um homem conhecido como Abu Huzayfah de ter mentido sobre ter feito parte do Estado Islâmico. Huzayfah é um dos personagens principais do podcast Caliphate, do New York Times, e Callimachi baseou parte de sua premiada narrativa na história dele — que, ao que parece, era falsa. Caíram por terra, assim, algumas das detalhadas descrições de Callimachi sobre como funcionava aquele auto-proclamado califado.

A notícia não ruiu apenas o podcast da repórter. Com as informações divulgadas desde então, ficou evidente que Callimachi, assim como seus chefes, estavam cientes da fragilidade do depoimento de Huzayfah. Ainda assim, decidiram lançar o projeto em abril de 2018, pelo qual colheram loas. Colegas e ex-colegas foram a público, ademais, para questionar o trabalho de Callimachi. O New York Times decidiu investigar algumas das reportagens da jornalista. No domingo (11), o próprio jornal publicou um artigo sobre os problemas no trabalho.

“Ela era tida como  uma estrela — uma posição que a ajudou a sobreviver uma série de questionamentos feitos nos últimos seis anos por colegas no Oriente Médio”, segundo o texto do New York Times. Ela foi criticada por um de seus tradutores, por exemplo. Foi acusada, também, por ter coletado milhares de documentos no Iraque e levado embora. Foi dito que sua abordagem em relação ao terrorismo resvalava no sensacionalismo. E veio à tona um episódio do ano passado, em que especialistas em terrorismo provaram que os documentos usados por Callimachi em outra matéria eram falsos. Veja abaixo, em inglês, alguns dos tuítes desmentindo a apuração dela.

Além do New York Times, outros grandes veículos americanos têm acompanhado a crise em torno do trabalho de Callimachi. O Washington Post, por exemplo, publicou também um longo artigo destrinchando as inconsistências na apuração dela. Mas a questão não é apenas sobre prática jornalística. O trabalho de um repórter como Callimachi tem consequências na elaboração de políticas. Como lembra o New York Times, a apuração dela foi citada por autoridades americanas avessas à migração de muçulmanos aos Estados Unidos. Os textos de Callimachi também influenciaram o debate no Canadá sobre o que fazer com as mulheres de membros do Estado Islâmico.

Para este Orientalíssimo blog, a questão toca em outro ponto importante sobre a cobertura feita pela imprensa em lugares como a Síria e o Iraque. Por vezes, jornalistas não seguem o mesmo rigor que é esperado, por exemplo, de quem escreve sobre os Estados Unidos ou a Europa. Proliferam, ademais, jornalistas que — como Callimachi — não falam árabe e, portanto, dependem de tradutores para conversar com seus interlocutores. Não é raro encontrar em campo jornalistas que pouco ou nada estudaram sobre o Oriente Médio, mas acabam determinando o tom do debate público. Testemunhei isso inúmeras vezes, como correspondente da Folha em Jerusalém em 2013 e 2014.

Ainda há, por outro lado, bastantes entusiastas do trabalho de Callimachi. Ela própria tem compartilhado em seu perfil na rede social Twitter diversas mensagens de apoio e elogios à cobertura. Em uma das mensagens que Callimachi retuitou, Margaret Sullivan — do Washington Post — sugere que parte das críticas à repórter é resultado de ressentimento de seus colegas, inveja por seu sucesso e machismo.

]]>
0
Estado Islâmico publica instruções para lidar com o coronavírus https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/03/13/estado-islamico-publica-instrucoes-para-lidar-com-o-coronavirus/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/03/13/estado-islamico-publica-instrucoes-para-lidar-com-o-coronavirus/#respond Fri, 13 Mar 2020 12:27:28 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/EI-e1584066742304-320x193.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5215 A organização terrorista Estado Islâmico acaba de divulgar uma nova mensagem na internet: “lavem as mãos e cubram a boca ao tossir”.

Os conselhos aparecem na newsletter semanal al-Naba’, traduzida por Aymenn Jawad al-Tamimi. A publicação reúne recomendações para os seguidores da facção radical lidarem com a pandemia do coronavírus.

As sugestões são baseadas em dizeres de Maomé. A newsletter cita, por exemplo, o costume do profeta de cobrir a boca com a mão ou um pano quando espirrava. Maomé também teria dito certa feita, segundo a publicação: “fuja daquele afetado pela lepra como você foge do leão”.

Outra recomendação da al-Naba’ é de que pessoas saudáveis não entrem em áreas afetadas por epidemias — enquanto os infectados não devem deixá-las. Citando mais uma vez Maomé, o Estado Islâmico diz que pragas são uma “tormenta enviada por Deus” a quem quer que ele escolha. Por fim, a organização terrorista lembra que o profeta pedia que as pessoas lavassem a mão três vezes antes de colocá-la em um recipiente, “pois não sabem onde sua mão passou a noite”.

O Estado Islâmico é responsável pela destruição de parte da infraestrutura do Iraque e da Síria. Foi ali que a organização declarou seu califado em 2014. Desde então, a facção foi expulsa da maior parte do território — mas o dano que causou torna ainda mais difícil o combate ao coronavírus. Ao menos oito pessoas morreram no Iraque durante a epidemia e há 79 casos confirmados. Já a Síria não confirmou nenhum caso até agora, o que não quer dizer que eles não existam.

Recomendações do EI contra pandemias. Crédito Reprodução
]]>
0
Três perguntas sobre a morte de Baghdadi, líder do Estado Islâmico https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/27/tres-perguntas-sobre-a-morte-de-baghdadi-lider-do-estado-islamico/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/27/tres-perguntas-sobre-a-morte-de-baghdadi-lider-do-estado-islamico/#respond Sun, 27 Oct 2019 16:12:36 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/Baghdadi-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4923 O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou neste domingo (27) a morte do líder terrorista Abu Bakr al-Baghdadi. Baghdadi era o autoproclamado califa do Estado Islâmico. Para quem não acompanhou esta história nos últimos anos, o Orientalíssimo blog responde abaixo a três perguntas sobre Baghdadi e seu dito califado.

QUEM ERA ABU BAKR AL-BAGHDADI
Abu Bakr al-Baghdadi nasceu em 1971 no Iraque. Seu nome real era Ibrahim Awad Ibrahim Ali al-Badri al-Samarrai. Ele estudou teologia e, com a invasão americana no Iraque em 2003, envolveu-se com milícias radicais. Foi detido pelas autoridades americanas em 2004 e solto naquele mesmo ano, segundo relatos. Assumiu o mando do Estado Islâmico no Iraque em 2010. Proclamou seu califado terrorista em 2014 em Mossul. Ele morreu em 26 de outubro ao detonar um colete explosivo, segundo o presidente Donald Trump.

O QUE É O ESTADO ISLÂMICO
O Estado Islâmico é uma organização terrorista. Apesar de ter surgido com sua forma atual apenas em 2014, quando Baghdadi proclamou seu califado, essa facção remonta a 1999. Sua principal base de operação é a Síria e o Iraque, mas tem braços espalhados em países como o Egito. O Estado Islâmico foi responsável por diversos atentados terroristas no exterior, como o massacre que deixou 131 vítimas em Paris em 2015.

POR QUE SUA MORTE É SIMBÓLICA
Abu Bakr al-Baghdadi tinha um peso simbólico que Osama Bin Laden, líder da Al Qaeda morto em 2011, jamais teve. Baghdadi clamava ser um califa — um sucessor legítimo do profeta Maomé, de quem ele aliás dizia descender. Baghdadi também respondia pelo título de Emir al-Mu’minin (comandante dos crentes). Baghdadi não era, é claro, nem califa nem comandante dos crentes. Mas o fato de que seus seguidores acreditavam naquilo lhe dava um considerável poder de persuasão.

]]>
0
Em Damasco, estudantes de arte pintam destruição causada por guerra https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/08/24/em-damasco-estudantes-de-arte-pintam-destruicao-causada-por-guerra/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/08/24/em-damasco-estudantes-de-arte-pintam-destruicao-causada-por-guerra/#respond Fri, 24 Aug 2018 18:56:23 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/Yarmouk2-e1535135783372-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4012 Quando recentemente retornou às ruínas de Yarmuk, onde cresceu, o jovem Abdullah al-Hareth já não podia mais pintar. O distrito, tomado em 2015 pela organização terrorista Estado Islâmico, tinha sido devastado pelos bombardeios do regime sírio. O Exército só conseguiu reconquistar a região em maio passado, e a duras penas — com um custo humano e material aterrorizante. “No começo, eu não conseguia desenhar”, Hareth, 21, disse à agência de notícias France Presse. “Mas eu percebi que cada lampejo da vida é uma vitória sobre a morte.”

Esse jovem sírio faz parte de um projeto da ONG local Nur (“luz”, em árabe), que levou 12 estudantes de arte para retratar, durante uma semana, o estado de Yarmuk — um campo de refugiados palestinos localizado no sul na capital, Damasco. Quando a guerra começou, em 2011, havia 160 mil refugiados palestinos ali. Os conflitos levaram 140 mil deles a fugir, segundo a ONU. O regime sírio cercou o distrito, aprofundando a crise. Estive ali em 2014, quando visitei a Síria, e conversei com alguns dos moradores. Naquela época, circulavam duras imagens de multidões famintas pelas ruas do campo.

Refugiados aguardam entrega de alimento em Yarmouk, em imagem de 2014. Crédito ONU/Associated Press

“Eu estava com a garganta amarrada quando voltei para o acampamento”, Hareth afirmou à agência francesa. Na sua tela, ele retratou uma criança emergindo do chão com uma maçã vermelha nas mãos. “É uma alusão à vida que volta. Assisti a uma cena em que crianças com maçãs brincavam em antigos campos de batalha.” Outra das telas descrita pela France Presse foi pintada por Hinaya Kebabi, 22, retratando uma criança que perdeu um dos olhos durante os embates — a ferida é escondida pela ilustração de um novo olho em seu rosto.

Pintura feita por estudante de arte em Yarmuk, na Síria. Crédito Maher al Mounes/AFP
]]>
0
Historiador iraquiano convida especialistas para visitar Mossul https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/05/01/historiador-iraquiano-convida-especialistas-para-visitar-mossul/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/05/01/historiador-iraquiano-convida-especialistas-para-visitar-mossul/#respond Tue, 01 May 2018 11:11:56 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/MosulEye-e1525172489541-320x213.jpeg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3632 RSVP. Um historiador convida especialistas no Oriente Médio para visitar sua universidade em um futuro próximo. O endereço: Mossul.

Omar Mohammed fez na segunda-feira (30) esse convite em sua conta na rede social Twitter, com a expectativa de criar uma rede de especialistas. O objetivo, como em outras de suas campanhas, é contribuir para a reconstrução de Mossul — que até recentemente era o principal bastião da organização terrorista Estado Islâmico (este Orientalíssimo blog esteve naquela cidade em dezembro passado).

O convite traz o peso do nome de Mohammed, hoje uma das referências para quem acompanha o dia a dia de Mossul. Ele é o autor do popular blog Mosul Eye, onde por dois anos circularam algumas das poucas informações confiáveis sobre a cidade e o conflito. Mohammed a princípio escrevia sob anonimato, por questões de segurança, mas revelou sua identidade há alguns meses. Tem 31 anos e mora ali.

A publicação mobilizou acadêmicos. Pouco depois, dois deles já haviam escrito ao historiador. Ele comentou, em inglês, que “precisamos de mais estudiosos, orientalistas, pesquisadores que realmente possam entender a situação”. E se desculpou também: “Caros jornalistas, não me levem a mal, muitos de vocês fizeram um ótimo trabalho. Mas muitos outros criaram um grande desentendimento sobre Mossul.”

Alguns professores aceitaram o convite para viajar à cidade e se disponibilizaram também para contribuir com o ensino ali . É o caso desta mensagem reproduzida pelo historiador, em inglês: “Estou incrivelmente interessado em visitar a Universidade de Mossul e também vir lecionar de maneira voluntária por algo como um mês.”

A rede de especialistas se internacionalizou, com propostas vindas não só dos EUA e de países europeus, mas também de outras praças — como a Universidade de Hong Kong. “Seria um imenso prazer”, escreveu um estudioso dali, segundo diz o historiador iraquiano.

Alguns dos convidados divulgaram eles próprios a sua participação, escrevendo mensagens em suas contas na rede social Twitter. Foi o caso de Paul Cooper. “Todo acadêmico que queira ajudar a universidade a se reerguer precisa entrar em contato com o Omar.”

Ruínas em Mossul. Crédito Diogo Bercito – dez.2018/Folhapress
]]>
0
Ao criticar Gleisi Hoffmann, senadora é acusada de islamofobia https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/04/23/ao-criticar-gleisi-hoffmann-senadora-e-acusada-de-islamofobia/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/04/23/ao-criticar-gleisi-hoffmann-senadora-e-acusada-de-islamofobia/#respond Mon, 23 Apr 2018 21:54:42 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/Gleisi-e1524490489744-320x213.jpg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3563 As declarações da presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann, à rede árabe Al Jazeera levaram a um ruído na semana passada em torno de termos como “árabe”, “muçulmano” e “terrorista”. Campanhas on-line deram a entender que a petista estava convocando terroristas para defender o ex-presidente Lula. Isso não é verdade.

Gleisi falou à TV Al Jazeera, sediada no Qatar, com um “recado sobre a situação de Lula para o mundo árabe”. A fala levou a críticas e a uma ofensiva via Whatsapp sugerindo que o PT estava “recorrendo até aos muçulmanos”, no que dá a entender que os seguidores do islã deveriam ser a última opção de um político. “Esse canal financia inúmeros grupos terroristas. É antissionista, mas mesmo assim tem sede em Israel”, dizia outra mensagem. As informações são falsas.

O debate se intensificou quando a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) disse esperar que o vídeo de Gleisi “não tenha sido para convocar o Exército Islâmico para o Brasil”. A declaração está no fim deste vídeo:

Gleisi respondeu: “O incômodo com essa entrevista não foi com o conteúdo da minha fala, mas com o veículo de comunicação onde ela se deu. Só posso reputar isso à ignorância, ao preconceito, à xenofobia contra o povo árabe. Aliás, mais do que isso, chega a ser má fé”. Ana Amélia e Gleisi têm um histórico de discussões nos palanques.

O Instituto da Cultura Árabe publicou em seguida uma nota de repúdio às declarações da senadora Ana Amélia. “Relacionar uma emissora de TV do mundo árabe a grupos terroristas, além de demonstração de desconhecimento em relação aos países árabes, é prática explícita de preconceito racial e islamofobia. Partindo de uma senadora da República, constitui-se em um constrangimento ainda maior para a nossa sociedade”, segundo a nota desse instituto árabe-brasileiro.

O Intercept mostrou como a fala de Ana Amélia tocou parte do público e como o falso laço entre árabe, muçulmano e terrorista é tratado como natural. As mensagens abaixo foram colhidas pelo site.

Em seguida à controvérsia, a senadora Ana Amélia foi eleita presidente do grupo parlamentar Brasil-Arábia Saudita, cuja missão é fortalecer os laços entre os dois países. Procurada por meio de seu departamento de comunicação em Brasília, ela respondeu com um e-mail a este blog:

Em nenhum momento, nas minhas manifestações, fiz qualquer associação entre árabes e terrorismo. A TV Al Jazeera é uma emissora reconhecida internacionalmente. Esteve, inclusive, no Brasil, para cobrir o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Não houve nenhuma palavra minha que induzisse qualquer ilação à emissora. A tentativa de me indispor com a comunidade árabe, com a qual tenho excelente relação, é de má fé. Assumi recentemente a presidência do grupo parlamentar Brasil-Reino da Arábia Saudita. No domingo (22), estive com a missão do Ministério da Defesa da Arábia Saudita, que visita oficialmente nosso país. Reafirmei minha disposição de trabalhar pelo aumento das relações bilaterais, no campo econômico, comercial, de defesa e cultural.

*

Como a desinformação em torno do mundo árabe não se restringe ao debate político brasileiro, este Orientalíssimo blog relembra aqui qual é a distinção entre os conceitos básicos envolvidos naquela disputa.

Os árabes são uma população associada à península Arábica, no Oriente Médio, e hoje presente também em regiões como o norte da África, sem contar as diásporas em países como o Brasil. Em torno de 450 milhões de pessoas, eles falam sua própria língua, o árabe, e têm uma cultura e história em comum. Quando falamos em “mundo árabe” ou “países árabes” nós simplificamos a situação demográfica de países como o Marrocos, onde há expressivas populações de etnia berber.

Já os muçulmanos são aqueles que seguem a religião do islã, fundada no século 7 pelo profeta Maomé. São estimados em 1,5 bilhão de pessoas, o equivalente a 22% do mundo. Notem que o número de muçulmanos é muito maior do que o de árabes — afinal, os dois não são sinônimos. O Irã é um país de maioria muçulmana, mas a população não é árabe. É também possível ser árabe e cristão, como o presidente brasileiro, Michel Temer, ou qualquer outra combinação.

Quanto aos terroristas, por vezes associados aos árabes e muçulmanos, são aqueles que usam o terror como ferramenta política. Por exemplo, sim, os muçulmanos responsáveis pelo atentado de 11 de Setembro nos Estado Unidos. Mas também o judeu Baruch Goldstein, que matou 29 pessoas em um templo na cidade de Hebron, na Cisjordânia, em 1994. Ou o cristão Anders Behring Breivik, que matou 77 pessoas em Oslo em 2011. Ou seja: isso não depende da religião.

]]>
0
Milícia libanesa Hizbullah lança realista videogame de tiro https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/03/05/milicia-libanesa-hizbullah-lanca-um-videogame-de-tiro/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/03/05/milicia-libanesa-hizbullah-lanca-um-videogame-de-tiro/#respond Mon, 05 Mar 2018 10:51:28 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/Hizbullah-e1520244345928-320x213.jpg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3426 A milícia libanesa Hizbullah entrega agora um fuzil nas mãos de todo o mundo que queira pagar R$ 20. A arma é virtual, no entanto: esse grupo, considerado uma organização terrorista pelo governo americano, lançou um realista jogo de tiro em que simula suas batalhas na Síria contra a facção radical Estado Islâmico. O game segue o formato de clássicos do gênero como “Call of Duty” e “Counter Strike”.

“Defesa Sagrada – Protegendo a Terra e os Locais Santos” é o terceiro jogo já produzido pelo Hizbullah. A qualidade é inferior à da produção dos gigantes dessa indústria multimilionária, mas surpreende ao vir desse grupo. A milícia, formada nos anos 1980 e apoiada pelo Irã, está atualmente em guerra na Síria, onde sua intervenção a partir de 2013 garantiu a sobrevivência do regime do ditador Bashar al-Assad.

Cena do game “Defesa Sagrada”, da milícia Hizbullah. Crédito Reprodução

“Defesa Sagrada” foi anunciado em uma coletiva de imprensa em Beirute como “reflexo da experiência do Hizbullah na Síria”, segundo disse um de seus criadores durante o evento. As primeiras cenas levam o jogador ao santuário de Sayyidah Zeinab, um dos mais sagrados ao islã xiita — ramo minoritário seguido por essa milícia libanesa.

“A ideia tomou forma a partir de eventos reais”, disse Hassan Allam à agência de notícias AFP. O intuito é que jogadores entendam melhor “o que realmente aconteceu e que os soldados que fizeram sacrifícios estavam fazendo”, afirmou. A milícia perdeu centenas de membros no país, pelo que foi duramente criticada. Além da batalha no santuário, o game recria os episódios em Qusair e Ras Baalbek, que a um alto custo foram fundamentais para interromper os avanços do Estado Islâmico.

Segundo o site oficial do game:

Não é um mero jogo, mas uma simulação com o intuito de documentar um estágio da sagrada defesa enfrentando os terroristas e o projeto americano-sionista. É uma ferramenta para confrontar a cultura selvagem que invade nossos mercados em videogames desprovidos de sentimento.

]]>
0
Em emotivo comercial para muçulmanos, garotinha ameaça um homem-bomba https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/05/29/em-emotivo-comercial-para-muculmanos-garotinha-ameaca-um-homem-bomba/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/05/29/em-emotivo-comercial-para-muculmanos-garotinha-ameaca-um-homem-bomba/#respond Mon, 29 May 2017 17:07:13 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2017/05/VideoZain-e1496077584498-180x59.jpg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2781 Uma garotinha ameaça um terrorista enquanto ele se prepara para um atentado suicida — como aquele que deixou 22 mortos na semana passada, em Manchester. “Vou contar tudo a Deus”, ela diz. “Que você lotou nossos cemitérios e esvaziou nossas mesas na escola. Que você criou desordem e escureceu nossas ruas. E que você mentiu. Deus tem conhecimento de todos os segredos.”

Essa forte mensagem é o centro de uma propaganda divulgada há alguns dias pela empresa de telecomunicação Zain, do Kuait. O vídeo foi produzido para o mês sagrado do ramadã, iniciado na sexta (26), durante o qual muçulmanos jejuam e intensificam as rezas. Costuma ser um período de mais atentados, porque extremistas acreditam que é um momento sagrado para seus ataques.

Depois de se preparar ao atentado, o terrorista é recebido em um ônibus por uma criança vestida como Omar Daqneesh — famoso por uma fotografia em que aparece sujo e ensanguentado em uma ambulância em Aleppo. Outras pessoas tentam convence-lo a mudar de ideia. Eles cantam, por exemplo, em uma escola arruinada por uma explosão. O vídeo abaixo tem legendas em inglês.

]]>
0
Documentos do Estado Islâmico acusam policiais de pedofilia e frequentar bordéis https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/01/18/documentos-do-ei-acusam-policiais-de-pedofilia-frequentar-bordeis-e-beber-alcool/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/01/18/documentos-do-ei-acusam-policiais-de-pedofilia-frequentar-bordeis-e-beber-alcool/#respond Wed, 18 Jan 2017 11:09:22 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2017/01/DocEI-e1484737499965-180x82.jpg http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2636 Os avanços do exército iraquiano em Mossul, hoje controlada pela organização terrorista Estado Islâmico, têm produzido um extenso arquivo de documentos. Analistas de segurança, como Hisham al-Hashimi, têm compilado esses papeis oficiais da milícia, que são importantes registros de sua gestão. O Estado Islâmico controla a cidade de Mossul, sua maior fortaleza, desde meados de 2014.

Hashimi publicou uma série desses documentos durante a quarta-feira (18) em sua conta na rede social Twitter. Ele reuniu, em especial, acusações contra policiais do Estado Islâmico — acusados de praticar pedofilia, frequentar bordéis e beber álcool. Essa organização terrorista, que tenta emular o califado islâmico do século 7, impõe restrições e punições severas em seu território.

Policial acusado de pedofilia pelo Estado Islâmico. Crédito Reprodução
Policial acusado de pedofilia pelo Estado Islâmico. Crédito Reprodução

É possível ler alguns desses documentos detalhados na conta do jornalista Elijah Magnier, que ressalta a existência de bordéis nas cidades controladas pelos terroristas, frequentados pelas forças de segurança. Magnier também reproduz a acusação contra um policial supostamente alcoólatra.

Há uma série de ressalvas a serem feitas em relação a esses papéis, cuja autenticidade não foi confirmada de maneira independente. Houve, no passado, casos de documentos do Estado Islâmico forjados. Não faltam interessados em retratar essa organização terrorista como extrema ou corrupta. Soldados iraquianos, por exemplo, poderiam ter preenchido os papéis ao conquistar partes de Mossul.

Por outro lado, esses documentos são alguns entre centenas que já foram recolhidos no território do Estado Islâmico. Não está em discussão que essa organização terrorista tente se comportar como um Estado e produza, assim, a papelada de uma burocracia.

]]>
0
Revista do Estado Islâmico havia sugerido ataque com caminhão em edição de novembro https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/12/21/revista-do-estado-islamico-havia-sugerido-ataque-com-caminhao-em-edicao-de-novembro/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/12/21/revista-do-estado-islamico-havia-sugerido-ataque-com-caminhao-em-edicao-de-novembro/#respond Wed, 21 Dec 2016 13:00:10 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2016/12/Rumiyah3-180x71.png http://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2591 A edição de novembro da revista “Rumiyah”, publicada pela organização terrorista Estado Islâmico, havia sugerido ataques que se assemelham ao cenário em Berlim nesta segunda-feira (19). O exemplar, disponível na internet, exemplifica diversas das táticas para “privar os inimigos de Deus de um sono pacífico”. Uma das ideias é usar um veículo como arma.

Capa da revista "Rumiyah", publicada pelo Estado Islâmico. Crédito Reprodução
Capa da revista “Rumiyah”, publicada pelo Estado Islâmico. Crédito Reprodução

O método, segundo a revista, é lançar-se em alta velocidade “contra uma grande aglomeração de infiéis”, “esmagando seus corpos”. O texto é bastante descritivo a respeito dos efeitos do impacto no corpo das vítimas. Veículos são, segundo o Estado Islâmico, extremamente fáceis de adquirir e não levantam suspeitas.

A revista especifica que, para maximizar o dano, é preferível utilizar um veículo pesado. O ideal, segue o texto, é um caminhão carregado. A organização terrorista lista também os principais alvos para a estratégia, como ruas lotadas e mercados. O texto, por fim, ensina uma prece a ser feita antes de embarcar no veículo antes do atentado, que culmina em “nós de fato iremos retornar ao nosso senhor”.

Veículos, em especial os caminhões, são uma tática com alguma história entre organizações terroristas. A rede Al Qaeda já havia descrito os caminhões em 2010 em uma edição de sua revista “Inspire” como “uma máquina ceifadora, não para cortar a grama, mas para aparar os inimigos de Deus”. Era uma das sugestões dadas pela revista, que também ensinou em outro número a montar uma bomba caseira em uma panela de pressão.

Trecho da revista "Inspire", da Al Qaeda. Crédito Reprodução
Trecho da revista “Inspire”, da Al Qaeda. “A máquina de ceifar definitiva”. Crédito Reprodução

A estratégia voltou a circular em 2014, quando um porta-voz do Estado Islâmico pediu que militantes no exterior atropelassem os inimigos do auto-proclamado califado. Houve uma série de tentativas menores com essa tática até o atentado de Nice, em julho, que deixou 86 mortos no dia da Bastilha. Esse ataque é citado pela revista “Rumiyah” como um exemplo a ser seguido.

]]>
0