Orientalíssimo https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br por Diogo Bercito Tue, 30 Nov 2021 20:49:20 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 No fim do ano, instituições oferecem cursos sobre o Oriente Médio https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/11/23/no-fim-do-ano-instituicoes-oferecem-cursos-sobre-o-oriente-medio/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/11/23/no-fim-do-ano-instituicoes-oferecem-cursos-sobre-o-oriente-medio/#respond Tue, 23 Nov 2021 19:20:37 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/Israel-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=6359 Nesta semana, o IBI (Instituto Brasil-Israel) oferece uma aula online gratuita sobre as relações entre israelenses e palestinos – um constante tema do noticiário, central ao Oriente Médio contemporâneo. O curso, dado por Tanguy Baghdadi, ocorre na quinta-feira (25) às 19h do horário de Brasília. Baghdadi é professor de relações internacionais do Ibmec, podcaster do Petit Journal e comentarista da Globonews. É preciso se inscrever previamente.

Quem está em busca de mais cursos para este fim de ano pode consultar, também, o calendário do Gepom (Grupo de Estudos e Pesquisa Sobre o Oriente Médio), que sempre tem boas opções. Entre os destaques está o curso de Monique Sochaczewski sobre os judeus do Império Otomano na sexta-feira (27) às 10h. Sochaczewski é cofundadora e pesquisadora sênior do Gepom. Outro destaque é curso de Muna Omran sobre os direitos LGBT em 9 de dezembro às 18h30. Omran é também cofundadora e pesquisadora sênior do Gepom.

Vale a pena ficar de olho, ainda, no Seminário Internacional do Núcleo de Estudos do Oriente Médio da UFF (Universidade Federal Fluminense). A mesa de abertura aconteceu na segunda-feira (22), mas o vídeo segue disponível no YouTube. Participaram Paulo Gabriel Hulu da Rocha Pinto, Paul Amar, Gisele Chagas e John Tofik Karam. Há uma série de outras mesas programadas para estas próximas semanas.

Uma última sugestão é o curso “Pensando a Palestina: direitos humanos e solidariedade internacional”, da rede FFIPP. As aulas começam no dia 4, às 10h. Entre os professores estão o sociólogo palestino Baha Hilo, a bióloga palestina Muna Odeh e o professor da PUC-SP Bruno Huberman. É necessário fazer a inscrição prévia.

]]>
0
Jornalistas lançam carta criticando cobertura de Israel e Palestina https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/06/10/jornalistas-lancam-carta-criticando-cobertura-de-israel-e-palestina/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/06/10/jornalistas-lancam-carta-criticando-cobertura-de-israel-e-palestina/#respond Thu, 10 Jun 2021 14:56:57 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/Gaza-320x213.jpeg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=6190 Dezenas de jornalistas –atuando em veículos como Washington Post, New Yorker e New York Times– publicaram nesta quarta-feira (9) uma carta aberta criticando a cobertura da imprensa americana em Israel e na Palestina. “Temos uma obrigação –que é sagrada– de contar a história da maneira correta. Toda vez em que falhamos em relatar a verdade, falhamos com nosso público, com nossa missão e com o povo palestino”, diz a carta, que foi assinada por dezenas de profissionais.

Uma das críticas mais duras no manifesto é a de que a imprensa não contextualiza de maneira satisfatória as notícias que conta naquela região do mundo. Não deixa claro, diz o texto, o fato de que Israel ocupa militarmente a Cisjordânia desde 1967. Organizações de direitos humanos acusam o país de crimes contra a humanidade, apartheid e supremacia étnica, conceitos que raramente aparecem na mídia.

A carta também critica, nesse sentido, os termos que jornalistas usam na cobertura de eventos em Israel e na Palestina, como no ciclo de violência recente em Jerusalém e na faixa de Gaza. A imprensa repetiu a narrativa israelense de que a crise no bairro palestino de Sheikh Jarrah era uma disputa imobiliária, diz o texto –quando na realidade era uma expulsão forçada de moradores, violando leis internacionais. Outra palavra condenada pelos signatários é “conflito”, porque não evidencia a disparidade de forças entre os atores. Não foi um conflito, dizem, quando as forças israelenses atacaram manifestantes na mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém. Foi um ataque.

A publicação da carta faz parte de um contexto mais amplo de revisão das atitudes públicas em relação a Israel e à Palestina. Palestinos têm recorrido às redes sociais para criticar a maneira com que a imprensa conta suas histórias. Políticos de renome e celebridades em todo o mundo têm se posicionado, em uma mudança brusca de atitude.

No tuíte abaixo, uma repórter da Associated Press reforça a excepcionalidade do texto desta semana. “Eu nunca vi uma carta como essa antes”, diz. Em especial, porque os signatários estão cientes do custo pessoal e profissional de colocar seus nomes no manifesto.

]]>
0
Indicado ao Oscar, curta palestino entra no cardápio da Netflix https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/03/18/indicado-ao-oscar-curta-palestino-entra-no-cardapio-da-netflix/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/03/18/indicado-ao-oscar-curta-palestino-entra-no-cardapio-da-netflix/#respond Thu, 18 Mar 2021 14:02:30 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/ThePresent-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=6066 O curta-metragem palestino “The Present” entrou nesta quinta-feira (18) no serviço de streaming Netflix. Indicado ao Oscar, o filme de 24 minutos conta a história de um homem palestino e sua filha tentando cruzar as fronteiras entre a Cisjordânia e Israel para comprar um presente. O trailer está disponível abaixo, com legendas em inglês:

“The Present” é dirigido pela palestina-britânica Farah Nabulsi, responsável por outros quatro curtas: “Today They Took My Son” (hoje levaram meu filho), “Oceans of Injustice” (oceanos de injustiça) e “Nightmare of Gaza” (pesadelo de Gaza). O enfoque de sua obra é a vida nos territórios palestinos ocupados por Israel. Nabulsi agora trabalha em um longa-metragem que ainda não foi anunciado.

A edição do Oscar deste ano conta também com um filme tunisiano. O longa “O Homem Que Vendeu Sua Pele”, da diretora Kaouther Ben Hania, concorre na categoria de melhor filme internacional. É a história de um refugiado sírio que deixa um homem tatuar suas costas em troca de um visto para viajar à Europa. O trailer está abaixo:

]]>
0
Instituto brasileiro lança livro acadêmico sobre Israel e Palestina https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/02/16/instituto-brasileiro-lanca-livro-academico-sobre-israel-e-palestina/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2021/02/16/instituto-brasileiro-lanca-livro-academico-sobre-israel-e-palestina/#respond Tue, 16 Feb 2021 16:41:44 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/IBI2-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=6015 O IBI (Instituto Brasil-Israel) lança no fim deste mês o livro “Conflitos e Religiosidades: Israel, Palestina e Estudos Judaicos no Brasil” (R$ 39,90, 344 págs.). O volume, publicado em parceria pelo instituto e pela Universidade de Pernambuco, é organizado pelos professores Karl Schurster, Michel Gherman e Omar Thomaz. São 12 artigos, incluindo um estudo sobre a memória de soldados na invasão do Líbano em 1982 e uma pesquisa sobre uma igreja judaico-pentecostal em Recife.

É uma importante contribuição ao campo dos estudos judaicos no Brasil, que remonta aos anos 1960 com pesquisas sobre migração e antissemitismo. O texto de apresentação do livro traça um excelente resumo dessa tradição, apontando suas principais contribuições à academia — e suas lacunas. “A ascensão de uma nova (e assustadora) direita, no Brasil e no mundo, não podia deixar de ter um profundo impacto nos estudos judaicos”, escrevem os autores. “No campo das relações internacionais, a já tradicional centralidade de Israel, em particular, e do Oriente Próximo, em geral, é redimensionada a partir da atuação de lideranças como Donald Trump e Jair Bolsonaro.”

O lançamento do livro será formalizado durante um evento online neste dia 26 das 14h às 17h30. Serão três mesas com convidados: uma sobre o conflito Israel-Palestina, outra sobre memória e narrativas e por fim a última sobre identidades locais. A participação é gratuita.

O livro “Conflitos e Religiosidades” é um produto do laboratório de pesquisa inaugurado pelo IBI em 2020. É uma parceria com núcleos de estudos judaicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Pontifícia Universidade Católica de SP, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade de Pernambuco.

]]>
0
Curitiba ainda tem uma estátua do ex-ditador sírio Hafez al-Assad https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/06/15/curitiba-ainda-tem-uma-estatua-do-ex-ditador-sirio-hafez-al-assad/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2020/06/15/curitiba-ainda-tem-uma-estatua-do-ex-ditador-sirio-hafez-al-assad/#respond Mon, 15 Jun 2020 13:56:01 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2020/06/Screen-Shot-2020-06-15-at-9.24.39-AM.png https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=5462 No contexto de um movimento global de protestos, manifestantes têm derrubado estátuas de figuras históricas. Americanos desabaram líderes confederados de seus pedestais, por exemplo, enquanto ingleses jogaram um mercador de escravos em um rio e portugueses vandalizaram o jesuíta Antonio Vieira. O bandeirante Borba Gato, em São Paulo, teve de ser vigiado 24 horas por dia para não cair também. Essas ações abriram um debate sobre como lidar com a memória.

Uma estátua em Curitiba, no entanto, tem passado batida por essa onda de derrubadas: a do ex-ditador sírio Hafez al-Assad. Como lembrou Jean-Philip Struck na rede social Twitter na semana passada, o busto de Hafez segue incólume em uma pracinha da cidade. Disse:

Hafez al-Assad governou a Síria de 1970 a 2000. Foi ele quem cimentou o violento estado de polícia que sobrevive até hoje. Ele é responsável, também, pela chacina de 1982 em Hama — durante a qual a cidade foi devastada, e seus moradores, massacrados. A Síria, governada por seu filho Bashar, vive desde 2011 uma guerra civil.

O busto de Hafez al-Assad, no bairro Portão, foi posto em 2002 por um projeto do então vereador Paulo Salamuni, um descendente de árabes. Uma placa apresenta Hafez como “o grande construtor da Síria moderna”. Em 2012, houve protestos contra a estátua, por razão da violência sistemática do estado sírio contra a própria população.

O Brasil abriga uma das principais comunidades sírias do mundo. Foi para o Brasil que sírios e libaneses migraram em massa entre 1870 e 1930, fugindo do Império Otomano e do mandato francês. Entre outras coisas, eles trouxeram o quibe e a esfiha e levaram de volta para a terra natal o chá mate que aprenderam a beber na América Latina.

A estátua de Hafez não é, aliás, a única relação incômoda entre políticos sírios e o Brasil. Adib al-Shishakli, que foi presidente da Síria nos anos 1950, fugiu para Goiás depois de ser deposto. Em 1964, ele foi assassinado em Ceres por um migrante sírio em busca de vingança.

]]>
0
Em livro sobre guerra síria, jornalista narra história do clã Assad https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/13/em-livro-sobre-guerra-siria-jornalista-narra-historia-do-cla-assad/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/13/em-livro-sobre-guerra-siria-jornalista-narra-historia-do-cla-assad/#respond Tue, 13 Aug 2019 16:27:10 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/Assad-1-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4809 Depois de prender e torturar opositores, algumas milícias aliadas ao regime sírio pintam mensagens nos muros de cidades destruídas, em um alerta a seus inimigos — “Assad ou queimamos o país”. A frase se tornou um dos mantras da ditadura de Bashar al-Assad, que desde 2011 reprime uma revolta popular. Mais de 500 mil pessoas já morreram.

“Assad ou queimamos o país” é o título de um livro recém-publicado pelo jornalista Sam Dagher. Em inglês, “Assad or We Burn the Country”. A escolha é precisa. Dagher narra, afinal, como o regime sírio e seus aliados recorrem a atos de extrema violência para garantir, a qualquer preço, a sobrevivência da família. Se não for com Bashar al-Assad ao mando, dizem, não há país. A fotografia abaixo, compartilhada por Dagher na rede social Twitter, mostra um entre tantos exemplos do grafite. O texto diz “Assad ou ninguém. Assad ou queimamos o país”.

O livro tem recebido loas pela maneira detalhada com que retrata a história dos Assad, no poder há quase 50 anos. O texto é baseado na experiência de Dagher, que trabalhou na região, e em entrevistas com pessoas próximas ao regime. A cruel saga começa com a colonização francesa da Síria e com o golpe executado por Hafez al-Assad — pai de Bashar — em 1970. A minoria religiosa alauita passou a governar o país, enquanto Hafez construía o Estado em torno de si e concentrava o poder nas mãos de poucos. Ele distribuiu benesses a seus aliados, escanteando e eliminando seus inimigos um a um. Com a morte de Hafez em 2000, Bashar herdou o poder. Consolidou a hegemonia do clã, representado também pelo irmão Maher e pela família Makhluf.

“Assad or We Burn the Country” é longo, com 460 páginas na versão em capa dura. A leitura, porém, flui no texto de Dagher. Mesmo quem conhece bem esses acontecimentos prende a respiração nos episódios-chave da guerra civil síria, quase como se ainda tivesse alguma esperança de que acontecimentos como a destruição de Homs e o ataque químico de Ghuta pudessem ter sido evitados. Fica evidente, ademais, como a inação americana contribuiu à escalada do conflito, culminando no estado de calamidade em que o país se encontra hoje, em meados de 2019. Ao menos 5 milhões deixaram o país e outros 6 milhões foram deslocados internamente. Alguns desses refugiados rumaram ao Brasil, mas a maior parte deles segue no Oriente Médio.

De certo modo, a ameaça “Assad ou queimamos o país” já se cumpriu.

]]>
0
Por Whatsapp, governo egípcio dita texto sobre morte de presidente https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/18/por-whatsapp-governo-egipcio-dita-texto-sobre-morte-de-presidente/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/18/por-whatsapp-governo-egipcio-dita-texto-sobre-morte-de-presidente/#respond Tue, 18 Jun 2019 19:28:08 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/Morsi-e1560885362271-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4717 A morte de Mohamed Mursi na segunda-feira (17) foi um dos principais acontecimentos políticos recentes no Oriente Médio. Mursi, afinal, tinha sido o primeiro presidente eleito de maneira democrática no Egito, em 2012. Sua derrocada em 2013 marcou um novo período autoritário, com a chegada de Abdel Fattah al-Sisi ao mando.

Apesar da evidente importância da notícia, os jornais egípcios não mencionaram o fato em suas primeiras páginas. A morte de Mursi apareceu nas páginas internas — e ele foi identificado apenas como Mohamed Mursi al-Ayat, sem menção alguma a seu cargo no país.

Mais impressionante ainda é o fato, noticiado pelo site independente Mada Masr, de que os jornais egípcios repetiram um mesmo texto de 42 palavras. A reportagem, segundo o site, foi ditada pelo governo autoritário de Abdel Fattah al-Sisi por meio de mensagens de Whatsapp, algo cada vez mais recorrente. Os jornais também foram instruídos, diz o Mada Masr, a enterrar a notícia nas páginas internas.

Foi o caso dos jornais oficiais al-Akhbar, al-Jumhuriyya e al-Ahram. A imprensa privada seguiu o mesmo script, por exemplo, Yawm7, al-Dustur e al-Shuruk. A exceção, diz o Mada Masr, foi o jornal al-Masri al-Yawm, que publicou um texto sobre a morte de Mursi em sua capa.

A mesma mensagem parece ter sido recebida pelos canais de TV. Uma apresentadora, vista no vídeo abaixo, em árabe, encerra sua reportagem com os dizeres “enviado por um aparelho Samsung”.

O controle da imprensa não é novo no Egito. A censura remonta, na verdade, ao golpe de 1952. Gamal Abdel Nasser, que governou até sua morte em 1970, extinguiu jornais, instituiu um extenso aparato de censura e nomeou burocratas para liderar o que restou da imprensa.

]]>
0
Em meio a protestos, regime do Sudão decide desligar a internet https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/13/em-meio-a-protestos-regime-do-sudao-decide-desligar-a-internet/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/13/em-meio-a-protestos-regime-do-sudao-decide-desligar-a-internet/#respond Thu, 13 Jun 2019 16:06:52 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/Sudao-e1560441673392-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4711 O Sudão está completamente no escuro. Entre protestos e denúncias de violações dos direitos humanos, o regime militar decidiu apertar o interruptor e derrubou a internet no país. O blecaute, segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, é quase completo — o que significa que o país de 40 milhões de pessoas agora está offline.

O regime, que governa o país em caráter temporário desde a deposição do ditador Omar al-Bashir em abril passado, já vinha sufocando a rede desde 3 de junho. O escurecimento da internet coincide com ataques violentos a manifestantes no país. Mas, na segunda-feira (10), as autoridades derrubaram praticamente todas a comunicação.

A estratégia, segundo ativistas sudaneses, serve para vários fins. Por exemplo, dificulta a comunicação entre grupos de oposição, que já não podem contar com serviços como Whatsapp para se organizar. São obrigados a conversar por telefone ou se reunir pessoalmente, o que aumenta o risco de repressão. Ademais, sem internet, ativistas não conseguem divulgar as violações aos direitos humanos — por exemplo, o uso de força para dispersar manifestações. Um porta-voz das autoridades de transição explicou as medidas recentes, afirmando que a internet “representa uma ameaça à segurança nacional”.

Blecautes na internet não são uma novidade, como escreveu Steven Feldstein no jornal Washington Post. Mas a tática tem se tornado cada vez mais comum entre regimes autocráticos, como maneira de controlar seus cidadãos. As autoridades locais recorrem a essa estratégia, em especial, quando elas são desafiadas nas ruas.

Derrubar a internet, no entanto, é bastante custoso, diz Feldstein. Como todo o mundo fica offline, os negócios são impactados também. Cinco dias de blecaute no Sudão significam, segundo o jornal americano, uma perda de US$ 228 milhões (quase R$ 900 milhões). Ironicamente, os protestos começaram devido às agruras econômicas, incluindo o alto preço do pão. Empobrecer o país de pouco ajuda.

Dito isso, o cálculo que o governo sudanês talvez tenha feito é que pouca gente de fato usa a internet por ali. Apenas 31% usam a rede, diz Feldstein, e só 7% usam as redes sociais. Ademais, a porcentagem que usa essas redes coincide com a população que está nas ruas, protestando. O regime decidiu, pois, que valia a pena apagar a luz.

]]>
0
Pesquisa da USP analisa relação entre comida e refugiados sírios https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/11/15/pesquisa-da-usp-analisa-relacao-entre-comida-e-refugiados-sirios/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/11/15/pesquisa-da-usp-analisa-relacao-entre-comida-e-refugiados-sirios/#respond Thu, 15 Nov 2018 15:03:45 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/Razan2-e1542293984106-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4225 Forçados a deixar seu país devido a uma cruenta guerra civil, centenas de sírios se refugiaram no Brasil nestes últimos anos. Diversos deles perderam no trajeto não só os bens materiais, mas também a profissão. Seus diplomas não foram reconhecidos e o mercado tampouco os aceitou. Uma saída encontrada para o ganha-pão foi, em muitos casos, fazer o pão sírio — refugiados passaram a vender quitutes e abriram seus próprios restaurantes, caso do engenheiro Talal al-Tinawi e da professora Razan Suliman, que aceitam pedidos pela internet.

Um recente estudo de pesquisadores da USP analisa esse processo, investigando de que maneira a comida serve como identidade aos refugiados sírios. À Agência de Notícias Brasil-Árabe a professora de nutrição Fernanda Scagliusi explicou parte de suas conclusões: “percebemos um apreço tão forte ao alimento do local de origem como uma forma de resistência, contra um possível esvaziamento da identidade, do modo de viver muito diferente, uma vez que a referência dessas pessoas se perdeu – casa, parentes, amigos, local de trabalho – tudo foi tirado muito abruptamente deles”.

A pesquisa “Representações da Comida Síria por Refugiados Sírios na Cidade de São Paulo” foi publicada pela revista científica Appetite. O estudo inclui também a nutricionista Fernanda Porreca, as doutoras em nutrição Mariana Ulian e Priscilla Sato e o antropólogo Ramiro Unsain, segundo a agência. Há outras três publicações previstas.

“Grande parte dos refugiados está trabalhando com alimentação. Muitos deles têm diploma, são engenheiros, médicos, executivos, comerciantes, mas não tiveram a oportunidade de continuar em sua área aqui. Encontraram na comida síria uma forma de sobreviver financeiramente”, afirmou à agência Anba a professora Scagliusi.

A culinária, porém, não é uma carreira mais fácil ou mais simples do que a desempenhada antes pelos refugiados. Segundo a pesquisa, os sírios radicados no Brasil têm buscado ingredientes específicos que permitam reproduzir com exatidão suas receitas. No caso do sorvete sírio, são dias de trabalho manual para chegar à consistência viscosa — e o necessário pistache, comum na Síria, encarece o prato no Brasil.

“Não é só pelo gosto, hábito ou costume. É o fato de estar aqui, num país com idioma diferente, numa cultura diferente, mas ainda ter o prazer de comer a comida”, disse à Anba a professora Scagliusi.

A guerra civil síria, iniciada em 2011, já deixou meio milhão de mortos. Ao menos 5,5 milhões de pessoas deixaram o país e 6 milhões foram deslocadas dentro do território, o que significa que metade da população precisou deixar suas casas. Dos 5.134 refugiados de diversas origens com registro ativo no Brasil no fim de 2017, a maioria (35%) havia fugido da Síria, diz a Agência da ONU para Refugiados.

]]>
0
Em meio às eleições, USP organiza evento sobre a questão Palestina https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/10/15/em-meio-as-eleicoes-usp-organiza-evento-sobre-a-questao-palestina/ https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/10/15/em-meio-as-eleicoes-usp-organiza-evento-sobre-a-questao-palestina/#respond Mon, 15 Oct 2018 14:01:00 +0000 https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/Boulos-e1539611394384-320x213.jpg https://orientalissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=4159 A USP, em parceria com o Middle East Monitor e o Common Action Forum, organiza neste mês sua segunda conferência internacional sobre a questão palestina. O evento “Oslo aos 25: a Paz Elusiva” será realizado nos dias 22 e 23 de outubro no Auditório Nicolau Sevcenko, dentro da universidade, com ingresso gratuito. As inscrições devem ser feitas pelo site oficial, onde está também a programação completa.

O foco será os Acordos de Oslo, assinados há 25 anos entre líderes israelenses e palestinos. O objetivo daquele tratado era encerrar os conflitos entre as partes e gradualmente estabelecer um Estado palestino autônomo. Como consequência, a Autoridade Nacional Palestina foi criada e os territórios da Cisjordânia foram divididos em áreas de controle palestino, israelense e misto. O acordo, no entanto, nunca foi implementado por completo — ambas as partes acusam os rivais de não ter se comprometido com o processo, e a morte do premiê israelense Yitzhak Rabin em 1995 abalou o projeto de paz.

O evento da USP contará com diversos analistas políticos, incluindo palestinos e israelenses, para discutir o legado destes últimos 25 anos de negociações. Estarão presentes, por exemplo, Ibrahim El Zeben, embaixador palestino no Brasil, e Yuri Haasz, ativista israelo-brasileiro. A lista de convidados inclui também Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão Internacional de Inquérito sobre a Síria na ONU; Safa Jubran, diretora do departamento de letras orientais da USP; Ben White, analista político; Ramzy Baroud, jornalista árabe-americano nascido em Gaza e Soraya Misleh, a autora do livro “Al Nakba”.

Os debates coincidem com eleições especialmente complexas no Brasil, com o afloramento de discursos de ódio — e intensas discussões sobre a questão palestina. O candidato Jair Bolsonaro (PSL), por exemplo, prometeu em campanha que, se for eleito, irá retirar a Embaixada Palestina do Brasil. “A Palestina, não sendo país, não teria embaixada aqui”, disse. “Não pode fazer puxadinho, se não daqui a pouco vai ter uma representação das Farc também. A Dilma negociou com a Palestina e não com o povo de lá. Você não negocía com terrorista.”

Outra das promessas de Bolsonaro — mover a embaixada brasileira de Tel Aviv a Jerusalém, na prática reconhecendo aquela cidade como capital israelense — deve ser uma dor de cabeça ao governo. Uma reportagem recente da Folha mostrou que esse gesto ameaçaria as vultosas exportações de carne brasileira a países de maioria islâmica. Guilherme Boulos (PSOL), por outro lado, inaugurou sua campanha presidencial justamente nos territórios palestinos, acenando  assim com um gesto de simpatia àquela parte no conflito.

Bolsonaro venceu o primeiro turno na maioria das representações diplomáticas brasileiras no exterior, como capitais europeias e cidades americanas. Por outro lado, um dos únicos pontos em que Fernando Haddad (PT) venceu foi Ramallah, a capital administrativa da Autoridade Nacional Palestina — o petista teve 72% dos votos ali, sinal de seu apoio e também amostra da rejeição ao discurso de Bolsonaro.

Bolsonaro é batizado nas águas do Rio Jordão em 2017. Crédito Reproducao/www.ocorreiodedeus.com.br
]]>
0